- Parabéns - disse alguém - pra você... nesta daaata feliiiiiz...
Acordei bem no momento do " muitas felicidades", não sei bem o por que. Talvez porque o meu cérebro já soubesse que "felicidade" seria a coisa que eu não teria ou pelo cheiro agradável de banana que embriagava vertiginosamente o meu nariz. Vi mamãe bem na minha cama com um bolo cremoso de uma torre que parecia não ter mais de 18 cm, bem a minha idade!!! Nada tinha acontecido comigo, a altura parecia a mesma, o corpo também. Eu parecia ter descrescido mais dos poucos centímetros que tinha!, eu poderia jurar!, minhas pernas pareciam tão curtas!?...
Também outra coisa que parecia ter mudado era o facto de eu ter acordado um pouquinho mais tarde do que das outras vezes e mamãe não ter brigado por isso.
"Uau, que belo presente de aniversário!!!", pensei.- Obrigada! - disse eu com um sorrisinho amarrotado.
Levantei rapidamente quando lembrei que o meu aniversário não era feriado nacional e da inimizade que a muito tinha com o despertador, de pé ao lado do abajur na escrivaninha distante do meu radar. Tinha mesmo que ir a escola. Pedi a mamãe que guardasse o bolo sem ao menos perguntar se tinha uma festa surpresa ou que ela tinha pensado em algo. Obviamente que não, né! Ela teria que trabalhar, e o facto de ser o meu aniversário não a livrava de chegar a casa tão tarde da noite. Nunca a livrou!!! Mesmo no seu próprio aniversário!
Apesar de estar atrasada, dei um banho demorado, aprontei-me lentamente e peguei a camisa que deixara no fio, engomei-a e a perfumei com fragrância da Calvin Klein. Procedentemente, dobrei-a em um saco plástico preto e a coloquei na pasta e, em questão de minutos, lá estava eu na escola, assistindo as aulas normalmente, preocupada no que viria e despreocupada no que causaria. Eu conhecia muito bem os meus amigos, e uma coisa eu tinha certeza; eles não deixariam o aniversário passar em puni apesar de eu ter deixado bem claro que não era preciso.
Cheguei no final das aulas viva! Mas um meio preocupada, pois se eles tinham planeado alguma coisa, seria mais propício executar naquele momento, no momento em que eu estava fora das asas dos professores e das quatro paredes insuportáveis, eu estava completamente vulnerável! Não tive escolha em não deixar todos os meus sentidos em alerta.
- Ei, desculpas pelo susto de ontem! - disse Marta atrapalhada, surgindo no corredor lotado de estudades, colocando um livro na pasta dela que ela mesma nem lia.
- De ontem? Já esqueci o que aconteceu ontem. - retruquei sorrindo.
- Então, o que vamos fazer hoje?
- Nada, apenas vou pra casa...
- Se livraste da t-shirt? - Ajeitando a pasta no seu ombro magro.
- Não, é que pretendo devolvê-la.
- Como assim? E a sua mãe? - questionou ela confusa.
- Não sabe de nada e vai continuar assim - disse eu imediatamente, olhando nos olhos dela -, tá?
Apesar de Marta não ter respondido com palavras a minha pergunta que parecia mais uma afirmação. O silêncio dela deixava claro que aquilo era apenas o nosso segredinho. Era isso que eu mais gostava em Marta, discrição. Podia contar e fazer coisas e no final de tudo, ficar despreocupada se terceiros saberiam.
- Tens certeza? - disse Marta inconformada.
- Sim.
- Não acho que seja uma boa ideia!
- Também acho. Mas não tenho escolhas.
- Tá bom! Você vai com uma condição! - disse Marta quebrando o silêncio enlouquecedor.
Apenas olhei-na perplexa... o que ela pretendia dizer!? O que viria dessa vez!?
- Se eu ir contigo. Aquele bairro é bastante perigoso e mais… você mal conhece ele!
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Não foi sua culpa
RomanceSinopse Faltando apenas três meses para terminar o secundário e para realizar a tão sonhada faculdade no exterior, Luna Laia, uma mulher sonhadora e divertida, conhece Loios Neto em algures da cidade de Luanda. Emocionalmente envolvidos sem o conse...