prólogo

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O ANO ERA 1984. O Macintosh, primeiro computador pessoal popular, foi lançado. Entre julho e agosto ocorreram os Jogos Olímpicos de Los Angeles. A Madonna performou Like A Virgin na primeira edição do MTV VMA, mas perdeu o prêmio de melhor vídeo feminino para Cyndi Lauper, com Girls Just Wanna Have Fun. A Sony lançou o CD-player, revolucionando o mercado fonográfico. E eu perdi o meu pai.

Era natal, por volta das oito e meia da noite, e, sentada na janela, eu observava a neve cair do lado de fora enquanto esperava ele chegar em casa. Nosso jardim da frente brilhava todo enfeitado com pequenas luzes amarelas, assim como o dos vizinhos, e ao lado de um arbusto estava o boneco de neve que meu irmão e eu tínhamos feito horas mais cedo.

Geralmente meu pai não trabalhava naquela data, mas algo aconteceu na fábrica e ele precisou cobrir o turno de outro funcionário, então o almoço que a mamãe sempre fazia acabou sendo transformado em jantar naquele ano. Mas não importava, porque eu só queria o presente que o papai havia me prometido.

A ansiedade me corroía enquanto eu aguardava por ele, atenta à rua, com a expectativa aumentando a cada farol de carro que iluminava a nossa calçada. Quando seu Corolla marrom avermelhado finalmente estacionou na frente da garagem, eu me levantei depressa e corri para a porta para esperá-lo entrar. Meu corpo pequeno e magro estava agitado e impaciente.

— Raiden, não fique na porta, você vai pegar um resfriado. — Mamãe, que estava na cozinha terminando o jantar, esticou o pescoço para poder me ver. — Espere do lado de dentro.

Encostei a porta em obediência, impedindo o ar gelado de entrar, e bati os pés, cobertos por um par de meias vermelhas, no chão em expectativa. Minutos depois, quando meu pai entrou, eu corri para abraçá-lo.

— Oi papai! — Pulei em seu colo, empolgada.

— O que você faz grudada aqui na porta, sua pestinha? — Ele me carregou, sorrindo para mim.

— Estava te esperando, senti saudades, você nunca trabalha no natal.

— Eu também senti saudades, meu amor. Vi o boneco de neve lá fora, queria ter te ajudado a fazê-lo.

— Tudo bem, o Nate me ajudou. Mas podemos fazer outro amanhã.

— Combinado então. — Sorriu.

Ao mencionar meu irmão, Nathan saiu da sala e veio até nós. Meu pai, Robert, me colocou no chão e sorriu para o garoto.

— E aí, moleque? — cumprimentou, direcionando o sorriso para ele.

— Oi pai. — Nate o abraçou rapidamente, se afastando para a cozinha logo em seguida.

Mamãe também veio até nós e o abraçou, dando um beijo em sua boca. Nesse momento aproveitei para olhar ao redor dele, procurando pelo meu presente, mas não havia nada em suas mãos.

— O jantar está quase pronto, por que não sobe e toma um banho antes de comermos? — ela disse enquanto os dois iam para a cozinha também.

Fui atrás deles, agoniada com a ausência do meu presente.

— Onde tá o meu presente, papai? — perguntei curiosa, sorrindo em expectativa.

Um vinco se formou entre suas sobrancelhas e ele crispou os lábios, olhando para a mamãe.

— Poxa, florzinha — lamentou com uma expressão triste. — Com a pressa de voltar para casa o papai acabou esquecendo ele na fábrica. Mas prometo que amanhã cedinho vou até lá buscá-lo, tudo bem?

Eu tentei sorrir e fingir que não estava decepcionada, juro que tentei, mas aos 7 anos ainda não conseguia disfarçar muito bem as minhas frustrações.

Meus pais trocaram outro olhar pesaroso e mamãe veio até mim, passando a mão em meu cabelo.

— Seu pai está cansado, Raiden. Seu presente estará aqui amanhã, tudo bem?

— Tudo bem — murmurei, me esforçando ao máximo para não chorar.

— Sabe de uma coisa? — papai disse indo de volta à porta. — Não é tão longe assim, eu posso ir buscá-lo agora, que tal?

Girei nos calcanhares e um sorriso surgiu em meus lábios, sendo a confirmação que ele esperava.

— Bob, querido, está tarde e o jantar está quase na mesa... — Ela foi até ele, que já vestia o casaco e abria a porta para sair. — Além disso, a neve está aumentando. Ela pode esperar até amanhã de manhã.

— Eu vou e volto em dois pulos, meu bem. Termine o jantar e logo estarei de volta, ok?

— Quer que eu vá com você? — Nate perguntou da cozinha, ele estava sentado à mesa montando um cubo mágico.

— Não, ajude sua mãe com o jantar, eu não vou demorar — respondeu.

Então o papai sorriu para mim por cima do ombro da mamãe e piscou um dos olhos, saindo e fechando a porta atrás de si. Eu não sabia, mas aquela seria a última vez que eu o veria.

Mamãe passou por mim, parada na porta da cozinha, e foi até o fogão.

— Você é a garota mais mimada dessa cidade, sabia disso? — disse erguendo as sobrancelhas e sorrindo para mim.

Eu gargalhei e corri de volta para a janela da sala para esperar por ele, mas daquela vez ele não voltou. E enquanto mamãe, Nate e eu aguardávamos na sala de emergência do pronto-socorro, eu só conseguia pensar que se não fosse o meu egoísmo, eu poderia ter tido as duas coisas: um jantar de natal feliz entre nós quatro e o meu presente na manhã seguinte.

LIKE A STORM | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora