Bloody Hand

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Naquela noite fui dormir pensando em cada palavra que a cigana me disse incluindo a morte de meu pai, se ela sabia disso, certamente falava sério sobre o demônio que rondava a cidade em busca de almas. Eu me sentia completamente insegura e aflita, poderia ser qualquer um disfarçado a minha volta, um colega, um amigo, um vizinho, ou até um parente. Enquanto tomava banho tentava esquecer tudo aquilo, pois quanto mais eu pensava mais medo eu sentia.

Vesti minha roupa de dormir e me encolhi em baixo dos lençóis e aconcheguei minha cabeça no travesseiro na confiança de que eu cairia no sono logo. Depois de uns quinze minutos eu finalmente sentia meus olhos se fecharem de sono.

Foi quando eu despertei com o barulho da porta de meu quarto se abrir com um rangido. Logo depois, ouvi passos de pés descalços vindo em minha direção. Virei­ me rapidamente e me deparei com uma garotinha bem ao meu lado, usava uma camisola suja, seus cabelos eram loiros e lisos a altura dos ombros, pés descalços e machucados, pele branca e pálida, e lindos olhos azuis, era tão linda que parecia um anjo. Sua idade com certeza era quatro ou cinco anos. Ela me chamou com uma das mãos eu a segui até a porta de meu quarto e depois ela desapareceu no corredor escuro. Eu a segui com calafrios na nunca havia passado pelo corredor escuro de olhos fechados e quando eu os abri estava em outro lugar.

Um lugar estranho.

O ar era frio, mas em volta tudo pegava fogo. Parecia uma cidade só que em chamas, tinha janelas quebradas, cortina rasgadas, carros virados, jornais e lixo pelo chão da cidade toda. Havia pessoas caminhando vagarosamente, tinham olhos amarelos, pele cinza, roupas rasgadas e uma expressão de cansaço e tristeza.

Tentei dizer algo mas as palavras não saiam, comecei a ficar em pânico quando vi a garotinha entrar em uma casa, corri atrás dela e quando cheguei na casa me deparei com fotos e cinzas por todo o chão, as paredes descascavam e as cortinas estavam rasgadas e sujas. Ouvi uma voz de criança cantar uma música de dormir que meu pai cantava para me fazer dormir quando eu estava com medo. Segui a voz e cheguei a uma porta rachada e suja. Havia uma plaquinha rosa que dizia Melanie, certamente era o nome da menininha. Quando abri à porta a voz havia sumido e não tinha ninguém no quarto. Meus olhos percorreram atentamente todos os detalhes do quarto, um papel de parede roxo, um piso cheio de cinzas, uma cama quebrada e suja cheia de bonecas de pano rasgadas. Olhei pela janela e avisei a garotinha no quintal sentada perto de uma grande cratera, ela brincava com seu ursinho e parecia estar muito feliz. Ela se levantou e ficou bem perto da cratera, ela olhou para baixo, eu tentei gritar não, mais as palavras não saiam, mas foi como de ela tivesse escutado e imediatamente olhou diretamente para mim e sorriu. E de repente se jogou na escuridão abaixo dela.

Corri para o quintal e olhei para a cratera, mas só consegui avistar a nevoa dentro da cratera. Uma lágrima escorreu de meus olhos tomando seu caminho até meu pescoço. Foi ai que senti uma mão gelada em meu ombro, quando virei era a garotinha só que com os olhos completamente negros e brilhantes. Ela sorriu e sem explicações me empurrou. Tentei agarrar um galho mas cortei minha mão, tentei gritar, mas eu estava sufocando.

Então me levantei da cama, percebendo que fora um pesadelo.

Quase dois meses se passaram.

As coisas só pioraram depois daquele pesadelo, qualquer barulho a noite me tirava o sono, gotas de água que batiam na pia, galhos secos que batiam violentamente na janela de meu quarto ou até o gato preto da vizinha que miava sempre na mesma hora me deixando apavorada.

Minha aparência com algumas noites não dormidas ficara horrível, minha pele estava pálida, e meus olhos cansados com algumas olheiras indesejadas. Sempre que arriscava fechar os olhos para dormir o mesmo pesadelo me atordoava, a cigana, a garotinha a cidade pegando fogo... Eu fizera um arranhão na mão tentando me segurar em um galho em meu pesadelo, e o estranho era que eu acordara com um igual, tentei não pensar muito naquilo, mas a cada vez que eu tentava esquecer o machucado amanhecia pior, parecia que ele sugava minha energia, quanto mais ele piorava mais eu piorava junto, eu amanhecera cada vez mais cansada.

As aulas voltaram no inicio de Abril, quando a escola resolveu reforçar a segurança com câmeras de última geração e seguranças que mais pareciam armários espalhados por toda a escola, mesmo com tudo isso eu ainda estava insegura e confusa pois não sabia se acreditava na cigana ou na lógica de que demônios e outros seres sobrenaturais não existiam, eu tentava ignorar tudo e seguir minha vida normalmente com medo de acabar louca.

A escola estava triste com um ar melancólico, pessoas chorando por toda parte, líderes de torcida se abraçando nos corredores, havia algum alunos chorando aos pés de uma mesa com fotografias dos alunos assassinados, em volta várias velas acesas. A única pessoa que parecia normal com todo aquele sofrimento tristeza e magoa na escola, era Lauren Jauregui, que por mais estranho que pareça eu tinha a impressão de que ela estava mais bonita, seu cabelo preto estava mais brilhante, sua pele branca e pálida não estava mais tão pálida como antes, mas em seus lindos olhos verdes ainda faltava emoção.

- Tudo bem Mila? Parece desligada do mundo? - Disse Dinah interrompendo meus pensamentos.

- Tudo eu só...

- O que é isso na sua mão você se cortou? - Interrompeu mais uma vez com uma expressão de surpresa.

- Não é nada eu só me...

- Não é nada? Como não é nada? Da para ver o sangue escorrer entre o esparadrapo!

Foi quando eu olhei para minha mão e levei um grande susto ao constatar que minha mão realmente estava sangrando muito.

- Mas como... Não sangrava tanto assim hoje mais cedo quando fui tomar banho! - Disse eu vendo meu próprio sangue pingar no chão do corredor.

- Temos que ir pra enfermaria é muito sangue! - Disse Dinah desesperada. De repente começou a se formar um circulo de pessoas curiosas em volta de mim e Dinah, tinham expressão de surpresa, medo, nojo e desespero.

- Alguém leve ela para enfermaria... - Alguém gritou. Mas ninguém se movera do lugar, eu fiquei com as bochechas coradas e o rosto quente de vergonha quanto mais eu desejava não estar ali mais sangue saia de minha mão, era inacreditável a pequena possa de sangue que se formara no chão era um exagero para um pequeno arranhão.

Foi ai que meus olhos percorreram a multidão de curiosos e sem querer encontraram Lauren espiando de longe meu sofrimento, e em seus lábios um sorriso maléfico como se estivesse se divertindo com minha situação, sádico. Meu machucado logo começara a doer de mais, tanto que um grito de dor saiu do fundo de minha garganta por eu não suportar aquilo que, mais parecia uma tortura, era como se estivessem queimando minha mão.

Lauren continuava lá, mas agora sem sorrir apenas com a cabeça inclinada de lado observando minha dor de longe. As faixas que cobriam meu machucado ficaram encharcadas de sangue e acabaram se soltando e caindo no chão, todos em volta inclusive Dinah, se calaram e ficaram observando minha mão que continuava a sangrar, quando olhei para minha mão me assustei e fiquei sem voz, no lugar daquele pequeno arranhão agora havia um grande buraco.

Onde a minha carne estava completamente vermelha e com bolhas, parecia que eu tinha queimado.

- O que é aquilo? - Ouvi alguém cochichar. Olhei para Lauren, apavorada, ela me lançou um olhar de satisfeita, virou as costas e foi embora, depois disso senti uma forte tontura e uma dor de cabeça.

- Mila olhe pra mim! - Ouvi Dinah gritar desesperada enquanto segurava meu rosto. Só me lembro de ver algumas pessoas vindo me ajudar, acho que eram professores não consegui ver o rosto delas já estava tudo embaçado, depois disso eu apaguei totalmente.

Gloomy LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora