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A decepção vem de quem menos se espera.

Kylie

Percebo que alguma coisa não está bem quando ele aumenta o tom de voz para falar comigo e é rude na escolha das suas palavras. Eu já esperava algo assim, sei que neste momento pensa que eu quero o mal da Adrielle e possivelmente o mal daquela criança.

"Ok, quem é que te disse?" O meu corpo move-se até é janela e eu encaro o céu esperando uma resposta. A sua risada sem humor invade os meus ouvidos.

"O que isso importa?" Ele diz, um tom sarcástico é notável nas suas palavras. "Como ela vai cuidar daquela criança?"

Ok, ás vezes o Jack é bastante burro, ou senão é, gosta de se fazer.

"Ela não tem condições para ficar com a criança, provavelmente tu ias ficar com ela e eu ia assumir a responsabilidade, mas visto que estás muito irritado, daremos para a adoção." Falo rudemente. O Jack está a irritar-me e eu não quero dizer nada que o possa magoar mas ele também não está a pensar no que diz e da maneira que diz.

Olho para ele e vejo as veias do seu pescoço saltarem ao mesmo tempo que cerra o maxilar e me encara como se me fosse matar. Não quero de todo discutir com ele, mas se ele quer, vamos a isso.

"O meu trabalho é ajudar as..."

"O teu papel é tirares as pessoas daquele lugar não as meteres naquela merda." Ele interrompe-me com o seu tom rude, novamente. Juro que ele me está a irritar.

Eu não digo absolutamente nada e o meu corpo repousa na cama e eu coloco as mãos em cima da minha barriga. Não sei o que lhe leva a pensar que eu quero o mal dela, quando eu estou a tentar ajudar.

"Olha Jack, se achas que eu só a quero naquele lugar porque gosto de ti estás enganado." Falo enquanto os meus olhos observam os seus movimentos. O seu olhar atento sobre mim e a sua atenção presa no que estou a dizer. "Eu só a coloquei naquela merda de lugar porque ela não está bem da cabeça para ficar perto seja de quem for, ela é um perigo para toda a gente."

"Não me venhas com tretas." Ele diz olhando as paredes do meu quarto, uma das suas mãos passeiam pelo seu cabelo. "Tu não queres o bem dela, se quisesses não a tinhas colocado ali, existem outras soluções."

"Ok, sendo assim, quero muito o mal dela." Falo revirando os olhos e encarando o teto. "És engraçado." Falo dando uma risada irónica e sem humor algum, ele olha-me confuso. "Vens aqui dizer um monte de merda, estás contra mim por causa dela mas não te lembras de me agradecer por te tirar daquela merda." Falo.

Sinto um nó a formar-se na garganta e os meus olhos arderem o que indica que vou começar a chorar a qualquer momento.

"Estás a atirar-me á cara a ajuda que me deste?" Ok, ele está louco. Parece que tudo o que faço ou digo tem uma segunda intenção "És uma merda como pessoa."

Dito isto ele sai do meu quarto e bate com a porta fazendo a minha cabeça estremecer com o barulho. Quando eu pensei que estava preparada para uma discussão destas, certamente eu não sabia o que estava a dizer. Ouço a porta de baixo bater e então presumo que ele se foi embora.

"Ok, eu realmente mereço isto." Falo abanando a cabeça negativamente.

Pego no meu telemóvel e mando mensagem para a minha melhor amiga, acho eu só ela me pode ajudar agora.

...

A campainha toca e eu rezo para que seja a Anabelle que tenha chegado. Não me apetece falar sobre o assunto com outra pessoa.

"Entra." Digo quando batem na porta.

Uma cabeça aparece e eu dou uma risada vendo o Cameron com a boca cheia de batatas fritas.

"A que devo a tua visita?" Eu digo sentada na cama com um livro aleatório na mão. Acho que tem algo a ver com a visita do Jack cá a casa. "Se é sobre o Jack, podes ir, eu realmente não quero falar disso."

"Ouve Ky, ele realmente não reagiu da melhor forma a esta situação." Ele afirma sentando-se ao meu lado. "Eu sei como o Jack é quando está irritado, acho que não devias dar tanta importância ao que ele disse."

"Talvez eu devesse mesmo não falar mais com ele." Digo e ele olha-me confuso. "Ele vê-me como uma má pessoa." Dou uma risada. "Não quero de todo ter mais contacto com ele."

"E a criança?" Cam pergunta colocando um fiozinho do meu cabelo atrás da orelha. "Sabes que ele vai precisar de ajuda para ficar com ela."

"Bem, eu posso ajudar em relação a isso, mas apenas isso, relação profissional." Digo e ele assente entendendo.

Ana entra no quarto super animada com um sorriso no rosto. Ela olha para o rapaz ao meu lado e salta para cima do mesmo gritando camarão. Esta rapariga é tudo menos normal, sem sombras de duvidas.

"O que estás a fazer com o casaco do Matt, menina Ana?" Cameron fala quando ela sai de cima dele e eu encaro-a com um olhar divertido. Acho que ela não esperava essa pergunta tão aleatória vindo do Cameron.

"Foi o Matt que me emprestou, mas que porra." Ela diz deitando-se em cima da minha cama. Ok, talvez ela tenha algumas coisas para me contar.

"Quando é que ele te emprestou?" Cameron pergunta, curiosidade estampada no seu rosto. Ela encara-o e limpa a garganta antes de finalmente responder.

"Uns dias atrás." Ela diz e desvia o olhar para a janela.

"Ana, ele comprou hoje de manhã, quando fomos ao shopping todos juntos tomar o pequeno almoço." Cameron esclarece com um tom de deboche, ok, ele sabe jogar.

"Ok, Cameron está na hora de te ires embora." Ela fala com um sorriso irónico e aponta para a porta.

"Vou porque realmente tenho coisas para fazer e o Nash está à minha espera." Ele mete a língua de fora em direção á minha melhor amiga e eu gargalho alto observando a infantilidade dos dois.

"Isso, Cam." Ela começa num tom provocador. "Vai dar a raba e deixa-me em paz."

Ele dá uma gargalhada alta e então beija o topo da minha cabeça e dá-me um pequeno carinho na bochecha e sai acenando para a Anabelle que grita por um abraço, que logo é lhe dado. Depois disso o Cameron sai do meu quarto e eu encaro-a apontando para o casaco.

"Explica." Peço e ela nega com a cabeça.

"Chamas-te, diz logo o que se passa e quem é que vai morrer?" A minha melhor amiga coloca-se de pernas à chinês e apoia o seu queixo na palma da sua mão.

"Sabes que eu internei a filha do diabo lá na clinica, o Jack veio aqui todo revoltado como se eu tivesse alguma culpa pela loucura daquela peste." Digo.

A verdade é que estou muito magoada com tudo o que ele disse e a forma como disse também deixou uma grande mágoa e eu sinto uma enorme vontade de ir ter com ele e lhe dizer tudo o que eu não disse naquela hora.

"Bem, não esperavas isso?" Ela pergunta, o seu semblante repleto de surpresa. "Ele não quer que ninguém fique naquele lugar." Encolhe os ombros.

"Eu só sei que" Sou interrompida pelo meu telemóvel.

"Ola, senhora Kate." Falo sorridente como sempre. Gosto realmente de Kate para descarregar nela o ódio pelo seu filho. "Posso ajudar em alguma coisa?"

"Kylie, o meu filho teve um acidente." É o que eu ouço antes de deixar cair o telemóvel no chão.

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Promise Me | J.G | FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora