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【 "Sou eu quem vai ouvir você quando o mundo não puder te entender." 】

Kylie

São exatamente quatro da manhã quando o filme acaba e eu percebo que a Ana está com as suas bochechas repletas de água e entendo também que o filme a comoveu imenso. Acho que não há ninguém que não chora a ver Titanic.

Eu e a Ana já o vimos imensas vezes e em todas elas ela acaba o filme da mesma maneira: a chorar que nem uma criança de quatro anos que ficou sem o seu brinquedo favorito.

"Calma Ana, tu já sabias que isto ia acabar assim." Falo acariciando o braço da minha melhor amiga que ainda não parou de chorar.

Ela não diz nada apenas gatinha até mim e coloca a sua cabeça no meu colo e as minhas mãos fazem carinho nos seus cabelos que estão a fugir do coque feito no topo da sua cabeça. Ouço o seu telemóvel apitar e ela pega - desajeitadamente - e ignora completamente colocando o aparelho a uns bons centímetros dela.

Penso que será o Matt mas também não me parece que ela queira falar disso então apenas mexo no seu cabelo e desligo o computador pensando que o melhor mesmo será irmos dormir.

...

Olho para o teto pela vigésima vez e tento ganhar coragem para sair da cama porém pensar no que tenho planeado para este dia dá-me náuseas e uma vontade enorme de ficar na cama. Tenho algumas coisas para fazer hoje que sinceramente não me apetece fazer como por exemplo: visitar a Adrielle e ouvir ela a insultar-me como se eu tivesse culpa da sua loucura.

Levanto-me sem ao menos ter a oportunidade de pensar mais no assunto e ouço Ana resmungar sobre algo que eu não consigo entender - não aprendi árabe ainda.

"Diz ao Matt para calar os dedos, estou farta de ouvir o telemóvel apitar." Resmungo com a Ana enquanto decido a roupa que irei usar no dia de hoje. O telemóvel dela ainda não parou de apitar desde que eu olhei para o teto pela primeira vez.

"Como sabes que é ele?" Ela pergunta-me sonolenta e eu pego no seu telemóvel vendo 24 mensagens não lidas escritas no ecrã e por baixo Espinosa. A Ana é ótima em escolher nomes criativos para contactos, sem dúvida.

"O rapaz deve adormecer a pensar em ti, sonhar contigo, acordar a pensar em ti, tomar banho"

"Ok, já chega." Ela interrompe-me arrancando o telemóvel das minhas mãos.

"Vou fechar o caso do Jack e dar-lhe alta." Falo fazendo ela me olhar de olhos arregalados e de boca aberta como se fosse grande novidade para ela. "Não me olhes assim, não é novidade, tu já sabias."

"Pensei que fosse para fingir surpresa." Encolhe os ombros e ajeita a sua camisola de pijama que insiste em subir e deixar a sua barriga à mostra. "Como achas que ele vai reagir com o internamento da Adrielle?"

Não digo nada, acho que não tenho nada para dizer. Não sei o que ele vai dizer, pensar ou até mesmo fazer. Gostava de dizer que vai tudo correr bem mas eu sem bem que isso não vai acontecer. O Jack não quer que ninguém passe por tudo o que ele passou naquele lugar, nem mesmo a pessoa que mais o magoou.

"Não sei, sinceramente." Encolho os ombros e caminho até ao wc e ela caminha atrás de mim. "Sabes, eu estou preocupada com isso mas não devia." Ela olha-me confusa. "Ana, eu estou a fazer o meu trabalho e a proteger as pessoas daquela rapariga, se ele não quer ver isso, então o único remédio mesmo é eu não manter o contacto com ele."

Sim, tudo o que eu acabo de dizer é o que realmente penso. Tudo bem que o Jack pode não gostar do facto de que a Adrielle está internada naquele lugar onde ele esteve por muito tempo e na qual não tem boas recordações mas eu tenho que fazer o meu trabalho - tal como fiz ao ajuda-lo - e não posso estar a pensar no que ele vai achar só porque ele é meu amigo. O meu dever é saber se as pessoas estão conscientes mentalmente e, se não estiverem, coloca-las em sítios adequados.

Promise Me | J.G | FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora