Capítulo 4

61 4 0
                                    

Na manhã seguinte, perto da piscina do hotel, Ryan aguardava ansioso por Paula. Durante o desjejum, Kiki e Elliott, ambos de ressaca, anunciaram que pretendiam jogar cartas no lounge do hotel. Isso deixou Ryan e Paula com seus planos de fazer canoagem, de acordo com o planejado.
Ryan também estava de ressaca, mas a dele nada tinha a ver com álcool. Paula com seu beijo enlouquecedor o manteve acordado quase a noite toda.
— Pronto? — Paula chegou e o brindou com um brilhante sorriso.
Era nítida sua determinação de ignorar os acontecimentos da véspera.
— Mais do que pronto. O recepcionista me informou que os barcos partem de um ponto da praia perto daqui.
A caminho de lá, um silêncio constrangedor prolongou-se entre os dois.
— Ryan...
— Paula...
Ela o interrompeu:
— Sobre ontem, quero que saiba que lamento muito o que aconteceu.
— Pois eu, não. Nem um pouco, aliás.
— Mas devia. Aquilo foi um erro. Não era para ter acontecido.
— Você deve estar certa.
Talvez tivesse sido melhor para Ryan jamais ter experimentado o gosto de sua paixão, algo que o assombrara sem cessar desde aquele momento. Mesmo agora passara a querer muito repetir a experiência.
— Eu estava fora de mim. Deixei-me levar pela atmosfera, pelo vinho e pela música. Poderia ter acontecido com qualquer um.
— Está dizendo isso para que eu me sinta melhor? — Aquilo era um verdadeiro banho de água fria em seu ego.
— Espero que o que houve não afete nossa amizade, porque nada significou.
— Não afetará, Paula.
Ela estava lhe pedindo para não dar relevância ao fato. Talvez para Paula ele tivesse sido apenas alguém que estava no lugar certo e na hora certa.
— Vamos esquecer, está bem?
— Por mim, já está esquecido, Paula.
Alcançaram as canoas enfileiradas à margem. O atendente os recebeu com um sorriso cordial.
— É uma manhã perfeita para canoagem. O mar está bastante calmo e límpido. Escolham a canoa que preferir. — Apontou para o oeste. — Naquela direção, vocês avistarão os magníficos penhascos caribenhos.
Ryan e Paula escolheram o primeiro barco da fila, e o rapaz entregou um remo a cada um.
— Não entro em uma canoa desde a escola secundária, quando passamos um fim de semana perto de um lago.
— É verdade, Ryan. Você perdeu a viagem que eu fiz no ano passado. Precisava atender àquela reunião de vendas. Prefere que eu vá na frente ou atrás?
— Na frente.
Paula se posicionou no banco. Ryan empurrou a embarcação para a água e entrou.
Com movimentos fluidos e graciosos, ela mergulhou o remo na água azul cristalina e puxou para trás. A camiseta que usava colava-se nas suas costas e nos quadris.
Distraído, Ryan ajeitou o remo. Paula olhou por sobre o ombro, aguardando.
— Não há pressa. Lembre-se: movimentos longos e suaves.
Ela deu uma remada para ele ver.
— Está bem assim?
Ryan se deu conta de que aquele seria um longo e torturante dia.

No jantar, ao término do segundo prato, Kiki e Elliott iniciaram uma discussão acalorada sobre a violência nas metrópoles, deixando Ryan e Paula partilhando de uma refeição a dois, embora os quatro ocupassem a mesma mesa.
Ryan observou Paula. Sua pele bronzeada adquiria um tom dourado no tremular da luz das velas, e seus olhos amendoados brilhavam muito. Quantas vezes olhara para ela sem na realidade vê-la? Como não notara aquela sua sensualidade provocante?
Durante todos aqueles anos, Ryan sempre achou que a conhecia muito bem, apenas para descobrir que aquela mulher escondia um lado profundo que ele não teve perspicácia para perceber. Paula era cheia de complexidade, mas que Ryan a reduziu a uma só dimensão.
— Você hoje está tão quieto, Ryan...
Paula parecia ter esquecido mesmo aquela dança erótica e o beijo que trocaram.
— É que me sinto um trapo depois da noite passada...
“Droga, não tenho nada de continuar flertando com ela!”
Paula arqueou as sobrancelhas.
— Isso deve ser resultado de sua atividade extracurricular antes do jantar.
Estaria Paula querendo obter informações sobre Ryan e Kiki?
— A única atividade extracurricular em meu quarto antes do jantar foi Kiki se arrumando durante duas horas antes de descer. Que coisa cansativa...
Uma mulher vaidosa como Kiki exigia uma alta manutenção.
— Não quer experimentar a mousse de manga? Deve estar uma delícia. — Ryan empurrou a tigela em sua direção.
Paula pegou a colher.
— Só um bocadinho.
Ryan deu risada. Paula e seus bem dosados bocadinhos de prazer...
Ela levantou a colher com a mousse, suas pálpebras se fechando em antecipação. Abriu a boca e experimentou o doce.
— Hum... De fato está fantástica!
Quantas vezes ele a vira fazer aquilo: saborear algo em absoluto deleite? No entanto, jamais, até aquele momento, o gesto causou nele tal efeito devastador. Ryan quase sufocou, à medida que seu cérebro criava um efeito visual de algo diferente da colher escorregando por entre os lábios sensuais. Tentou apagar a imagem, meneando a cabeça.
— É assim tão bom?
Paula fez que sim, as contas nas pontas de seus cabelos roçando os ombros nus.
— Mais do que bom. Eu diria que é... melhor do que sexo.
Paula já dissera aquilo antes, mas dessa vez a frase quase o tirou do eixo. Ryan pegou o copo com água e tomou um longo gole.
Ela tornou a mergulhar a colher na tigela com a mousse.
— Veja que maravilha. Inclinou-se para a frente, estendendo a colher para Ryan.
— Não quero, obrigado.
— Experimente, pelo menos — Paula insistiu, aproximando mais a colher.
O movimento fez descer o decote de seu top, oferecendo a Ryan um relance de sua pele dourada e perfeita.
— Isso é de dar água na boca.
Ela queria matá-lo, só podia ser isso.
— Não, Paula.
— Vamos lá... Não ficou tentado? Sempre gostou de experimentar coisas novas. — Sua voz soou baixa e enrouquecida, e Ryan não tinha certeza se a nota de sedução era real ou pura imaginação sua.
Mas Paula não era novidade alguma. Apenas seu modo de enxergá-la era novo, e aquilo não era o que ela estava oferecendo. Ou era? Não era a mousse de manga que o tentava.
— Não estou com vontade.
— É uma pena. Não sabe o que está perdendo... — Paula saboreou mais uma colherada do doce e em seguida lambeu a colher, gemendo.
O coração de Ryan disparou.
Kiki de repente consultou o relógio de pulso e levantou-se.
— Nove horas. Preciso falar com o escritório na Califórnia, antes que feche.
Ryan empurrou a cadeira para trás.
— Irei com você. — Ele não ficaria ali diante daquela torturante mousse de manga.
Kiki fez um gesto com a mão, para impedi-lo.
— Fique onde está. A conversa pode demorar, e você na certa vai se aborrecer.
— Mas...
Ela o empurrou de volta ao assento.
— Termine de tomar seu vinho. Irei ao encontro de vocês no Jungle Room. Além do mais, quero alguns minutos para relaxar.
Kiki não lhe deu alternativa a não ser ficar.
— Como quiser... Nós nos veremos no Jungle Room.
— Pode ser que eu me atrase um pouco.
— Pode deixar, Kiki. Tomaremos conta de Ryan até você voltar — brincou Paula, provocante. Durante a refeição, notou o monopólio de Kiki sobre Elliott.
Os olhos de Kiki se estreitaram, e ela piscou para Paula.
— Eu agradeço. — Então, dirigiu-se a Elliott. — Vejo-o mais tarde.
Elliott observou-a se afastar e balançou a cabeça, com admiração.
— Uma mulher e tanto essa sua namorada... Aceitam mais um pouco de vinho?
Paula ergueu a taça.
— Só mais um pouco, obrigada.
Ryan também aceitou mais meia taça. Deus sabia que ele não queria Elliott indo a nocaute todas as noites de tanto beber, embora lhe fosse conveniente, porque desmaiado não estaria capacitado a fazer amor com Paula. Tinha de admitir que a idéia era atraente. Afinal, isso talvez provocasse o afastamento dos dois e, por conseqüência, o fim dos planos de casamento.
— Acredita que Kiki conheceu Dean Whatley?
Ryan não fazia a menor idéia de quem se tratava. Elliott tornou a encher a taça.
— Verdade? E como foi que ela o conheceu? — Paula quis saber.
Era o incentivo que Elliott precisava para beber mais. Esvaziou a garrafa, começando a enrolar a língua ao falar do sujeito, até gritar, quando derramou o restinho do vinho tinto na frente de camisa branca:
— Que imbecil que eu sou!
Martin de imediato apareceu, com um pano úmido na mão.
— Deixe comigo. — O garçom esfregou o tecido. — Mancha de vinho é difícil de desaparecer. Conheço uma excelente lavanderia, que não arruinará sua camisa. Posso enviar alguém para apanhar?
— Claro. — Elliott se ergueu, apoiando-se na mesa para se equilibrar. —Bem, vou subir e me trocar. Vejo vocês mais tarde, no Jungle Room.
E afastou-se, cambaleando.
Martin assentiu.
— Ah, o Jungle Room... Excelente escolha.
Ryan de imediato se lembrou da dança sexy de Paula, na noite anterior.
Ela deu uma risadinha, falando, um tanto rouca:
— Você sempre acha que é uma excelente escolha, não é, Martin?
— Nem sempre.
Ryan podia jurar que o viu olhar na direção de Elliott, que se afastava.
— Mas gosto de apontar aquelas que de fato são, tal como seu novo visual. Ficou muito bonito. — O garçom fez uma leve reverência. — Com licença...
Paula virou-se para Ryan e pousou o cotovelo no tampo, pousando o queixo na mão.
— Será que estou ficando muito suscetível ou Kiki e Elliott de fato estão formando uma sociedade de mútua admiração?
— Também notou, é?
— Precisaria ser cega para não ver. — Sorriu com ironia.
— Suponho que agora esteja reconsiderando o Hotel Hot Sands como uma opção ideal para lua-de-mel.
Elliott era um perdedor. Ryan só esperava que Paula desistisse daquela loucura de casamento.
— O Hot Sands é ótimo. O noivo é que precisa ser reconsiderado.
Ryan respirou, aliviado. Paula não poderia se casar sem um noivo.
— Fico feliz em saber que pretende pôr Elliott para correr.
— Eu não disse isso. Mas, com certeza, não vou mais me casar com ele.
Ela estava desistindo do casamento!
Fazia semanas que Ryan não se sentia tão bem. Em breve, tudo entre os dois voltaria à normalidade.
— Não quer dar um passeio na praia antes de irmos para o clube?
Paula esboçou um sorriso sensual que o fez delirar.
— Fantástica sugestão.
Ryan se levantou e puxou a cadeira para ela. Esbarrou a mão em suas costas quando Paula se ergueu, e isso foi o bastante para esquentar-lhe o sangue.
Talvez as coisas não ficassem tão normais assim, afinal...

— Apóie-se em mim. — Ryan passou o braço pela cintura de Paula após ela ter dado um feio tropeção ao caminharem pela areia da praia.
Pararam junto a uma das tochas acesas que davam à noite um clima primitivo. O som pulsante da música chegava até ali, vindo do Jungle Room, e misturava com o barulho dos insetos e dos pássaros noturnos.
Paula não estava certa se seria capaz de afastar-se dele. Mas precisava conter aquele ímpeto insano, inoportuno, politicamente incorreto, mas poderoso de beijá-lo e ver se a paixão que explodira entre os dois na véspera era verdadeira.
Seria um escândalo se Kiki ou Elliott aparecessem de repente e a vissem se insinuando para seu melhor amigo, que decerto ficaria horrorizado com seu comportamento, julgando que ela havia enlouquecido. Uma coisa era brincar de flertar à mesa e a quatro, ou em uma pista de dança lotada, mas ali naquela praia escura, estando os dois sozinhos, era diferente.
— Paula? Não vai desmaiar, vai? Seu tornozelo está doendo muito?
— Um pouco, mas não desmaiarei.
Tampouco pretendia cair sobre ele como uma espécie de harpia faminta por sexo.
— O que deu em mim para querer caminhar nessa areia fofa usando sandálias de plataforma? — O calçado infrator e seu par balançavam em sua mão direita.
— Elas podem ser inadequadas, mas estavam muitíssimo bem em você, usadas com esse vestido curto. Pelo menos até você cair do alto delas.
— Lembre-se de que caí do alto de uma delas apenas — Paula corrigiu-o, com ar travesso.
Os olhos de Ryan brilhavam.
— Certo. Não me importo de ser corrigido.
A competitividade a levou a perguntar:
— Acha que minhas pernas são mais bonitas do que...
Ryan ficou sério.
— Muito mais... São fantásticas e capazes de tirar um homem do sério. — Não havia brincadeira alguma suavizando a cadência rouca em sua voz. — Agora, apóie-se em mim, já disse. Ou prefere que eu a pegue no colo?
— Você não se atreveria.
— “Atrevido” é meu nome do meio...
A pressão que Paula sentia do braço forte em torno de sua cintura aumentou, e a entonação de Ryan mais parecia uma carícia, afetando-lhe os nervos como uma estimulação sexual verbal. Paula lembrou a si mesma o quanto ele devia ter praticado para atingir a nota certa.
Tentou relaxar. Ela e Ryan sempre davam apoio um ao outro, e a pressão da coxa dele contra a dela devia lhe ser familiar o suficiente. Porém, excitava-a, evocando uma ânsia louca em seu íntimo, que a inquietava. Será que Ryan conseguia perceber seu desejo por ele? Paula se afastou.
— Pode deixar, Ryan. Eu agora estou bem.
— Se prefere assim... — Com um movimento rápido, tomou-a no colo.
O tempo pareceu parar. Cada centímetro dela respondia a Ryan. O roçar dos braços firmes contra a sensível parte de trás de seus joelhos e costas, o erguer e baixar do peito musculoso contra seu seio direito, as batidas de seu coração.
Paula se pôs a observá-lo, considerando alguns dos sentimentos e pensamentos perigosos surgido naqueles últimos dias, que se recusavam a ir embora. Gostava da provocação em que Ryan era mestre; de erguer o olhar e ver que ele estava por perto. Se cerrasse as pálpebras, até conseguia imaginar-se casada com ele, ambos sozinhos numa ensolarada manhã de domingo, saboreando café e bolo e lendo jornal. Talvez caminhando pelo parque, partilhando os sonhos, fazendo amor... fazendo bebês...
Espantou-se consigo mesma, e balançou a cabeça.
— Passe o braço em torno de meu pescoço — Ryan instruiu.
A razão avisava que ela devia exigir que ele a colocasse de volta no chão. No entanto, uma outra parte de seu cérebro reconhecia o quanto gostava da sensação de estar aninhada a ele, sendo carregada por Ryan naquela sedutora noite jamaicana. Por isso, aconchegou-se ainda mais.
Esperou que Ryan fosse cambalear com seu peso, mas, em vez disso, continuou a caminhar sem o menor esforço.
— Em seu quarto ou no meu?
A noite, aquela frase sugestiva, seu perfume, sua voz enrouquecida... “Paula, meu bem, Ryan pretende apenas examinar seu tornozelo.”
O quarto dele era o mais próximo. O dela ficava na ala oeste, e quanto mais cedo ele a colocasse de pé, melhor seria.
— O seu está mais perto que o meu, e existe uma grande possibilidade de Elliott ter desmaiado lá dentro. — Paula não queria pensar no namorado enquanto o magnetismo de Ryan a virava do avesso.
Ryan parou do lado de fora da porta do aposento e, ainda com ela no colo, procurou no bolso pelo cartão-chave. Uma risadinha soou do lado de dentro.
— Para variar, Kiki deve estar ao telefone — murmurou Ryan, a boca a poucos centímetros do ouvido de Paula.
Abriu a porta e entrou.
Sem notar a audiência, de costas, em um emaranhado de lençóis, pernas e braços, Kiki gritou. Com um dique, a porta fechou atrás deles.
“Mas o que...” Paula encarou Ryan.
— Ela não está telefonando.
Kiki ergueu a cabeça. Seu grito subseqüente combinava com a surpresa em seu rosto ao deparar com Ryan e Paula. No meio da cama, a cabeça de Elliott surgiu sob os lençóis.
Todo o oxigênio parecia ter desaparecido de seus pulmões. Paula notara a atração óbvia entre Kiki e Elliott, mas não esperava por aquilo.
Escorregou do colo de Ryan para o chão e parou, um braço ainda em torno dele. Não apenas era Elliott aquele, na cama, nu, com outra mulher, mas dada a posição em que se encontrava, não precisava ser uma expert em física, como era Kiki, para adivinhar o que estiveram fazendo. Só que ele nunca estava disposto a fazer o mesmo com ela.
Ryan arqueou sobrancelha.
— Como vê, seu namorado não está desmaiado.
— Não é o que vocês estão pensando... Estamos nos divertindo, apenas isso! — Kiki soltou a declaração do ano. — Não precisam fazer tanto alvoroço por nada.
Elliott, sem o menor constrangimento, levantou a ponta do lençol e convidou:
— Não querem participar da festa?
E aquele era o homem com quem ela pretendia se casar. Paula contava com aquela temporada na Jamaica para “soltar” o severo Elliott, mas não nada a preparara para aquilo.
Ryan mantinha o braço em sua cintura, apoiando-a.
— Não, obrigado — Ryan recusou por eles dois.
Paula riu, esperando que ninguém notasse a ponta de histeria.
— Não sou muito de festas...
Kiki a fitou.
— Não banque a santinha. Reconheço que erramos, mas eu a vi na pista de dança. E embora você e Ryan tenham negado, notei o modo como se olham. E por que outro motivo dois casais viriam para a Jamaica juntos, se não estivessem interessados em sexo em grupo?
Tal coisa jamais ocorreu a Paula. Não era do tipo antiquado, só que sexo grupal não fazia parte de seu repertório.
— Venha, Paula. Isso colocará um pouco de pimenta em nosso relacionamento — insistia Elliott.
— Prometo que será bastante divertido — Kiki tentou persuadir, com meiguice. — Nós quatro, já pensaram? E você prometeu que cuidaria de Ryan.
Paula fez isso por achar que Kiki merecia uma lição por estar se insinuando para seu namorado. O que não significava que ela, Paula, iria para a cama com seu melhor amigo. Sua mão dela formigava de vontade de bater em Kiki e acabar com aquele seu olhar sedutor.
— Esse divertimento é relativo. — Ryan meneou a cabeça, o olhar duro, apesar do divertimento calculado no semblante. — Não gosto de dividir nada com ninguém.
Elliott bufou.
Embora Paula se sentisse ingênua e desajeitada em comparação à sofisticação sexual de Kiki, aquele era um jogo de que não tinha interesse algum em participar. Ou pelo menos não de acordo com as regras estabelecidas pelos dois traidores.
Tampouco se abateria por isso. Tinha e seguia as próprias normas. Um sorriso lento suavizou seus traços. Virou-se para Ryan, pondo-os em total contato corporal, insinuando a perna por entre suas coxas.
A surpresa se estampou no rosto dele.
— Viu que bom, querido? Agora não teremos mais que nos preocupar sobre como, ou quando, dar a notícia a eles.
Ryan entendeu a deixa e passou o outro braço em torno dela, correndo a mão por seus quadris e parando em suas costas.
— Não poderia existir momento melhor, meu bem.
— Que novidade? — Elliott quis saber, provando sua grande estupidez ao preferir Kiki a Paula.
— Kiki acertou quanto a uma coisa. Paula e eu acabamos de descobrir que existe algo mais intenso correndo entre nós dois além de uma forte amizade. Algo poderoso, potente e explosivo. — Embora Ryan se dirigisse a Kiki e a Elliott, seus olhos não abandonavam Paula.
Ela umedeceu os lábios de repente secos. Aquilo estava mais próximo da verdade do que ele imaginava.
— Não sabíamos como dizer isso a vocês — Paula completou.
— Mal consegui afastar as mãos dela durante toda a noite. — Ryan correu a palma por suas nádegas, passando por sua cintura até parar na nuca. — Agora não preciso mais me conter.
Aquela carícia deixou uma trilha de fogo por onde passou. Os olhos verdes de Ryan a hipnotizavam. Por um instante, pareciam os únicos naquela suíte.
— Como pôde fazer isso comigo, Paula?! — protestou Elliott, de cenho franzido.
— Eles nunca me enganaram — Kiki teve o descaramento de se indignar. — Notei o modo como se olhavam. Eu o avisei.
E aqueles dois ainda tinham a coragem de se sentirem ultrajados, mesmo estando ali, juntos na cama e nus sob os lençóis! Pelo visto, o fato de irem para a cama juntos era algo muito natural. Mas para Paula e Ryan era insultante.
Paula estava grata por ela e Ryan terem virado o jogo.
— Ora, vocês parecem muito espantados — zombou Ryan, com um toque de sarcasmo. — Mas tudo bem, logo se recuperarão.
Paula forçou uma expressão contrita.
— Lamento muito, Elliott. Essa coisa entre nós... — Roçou a boca na de Ryan e mordiscou-lhe o lábio, com malícia. Apesar de o desempenho ser para aquela audiência exclusiva, sua pele arrepiou. — No entanto, veja as coisas por este lado: você não ficará a ver navios. Pelo menos receberá um prêmio de consolação.
Kiki mal continha a fúria.
— Um minuto, por favor...
Paula a interrompeu:
— Entendo sua aflição. Em seu lugar eu também ficaria aflita. — Paula olhou bem para Kiki na cama com Elliott. — Mas há tantos homens maravilhosos lá fora... você só precisava escolher um.
Ela roçou a testa no queixo de Ryan.
— E pensar que ele esteve o tempo todo por perto...
O olhar ardente de Ryan a fez estremecer.
— Vamos, querido. Eu gostaria de um pouco de privacidade, agora que tiramos esse peso da consciência.
Ryan abriu a porta e se dirigiu a Elliott:
— Voltarei em cinco minutos com suas roupas, e então pegarei as minhas.
Elliott afastou a coberta, fazendo menção de se levantar.
— Pode deixar que eu mesmo faço isso. Não quero minhas roupas amarrotadas.
Ryan estendeu a mão.
— Não! Faça um favor a todos nós, Fique aí mesmo.


Paixão Secreta    Degustação Onde histórias criam vida. Descubra agora