Vou em direção ao camarim, finalmente os ponteiros batem duas horas e não há mais nada que me aborreça. Me imagino daqui à meia hora, deitada no sofá do meu apartamento enquanto me encho de granolas com leite – naturalmente com uma única peça de roupa, sempre foi mais confortável assim.
As garotas se despedem uma das outras, passam por mim e sorri, algumas até conseguem ser verdadeiras. Se eu disser que todas nós nos damos bem uma com as outras, estaria mentindo descaradamente. Me dirijo até o meu armário e vejo Kabila encostada nele, com seus braços cruzados e um bico nos lábios.
— Vai me deixar ir embora hoje? – pergunto.
— Só se for comigo.
Dei um soquinho em seu braço, ela se afasta, ficando atenta a cada movimento que eu fazia enquanto tiro o vestido idiota e pegajoso, visto meu jeans e amarro minhas botas.
— O mesmo papo de sempre. Por que não inova?
Ela dá de ombros.
— Porque seria meio falso. Eu não quero parecer falsa pra você, quero que a minha loirinha favorita caía nos meus braços por um motivo real.
Visto a minha jaqueta, amarro meus cabelos e pego a minha bolsa, rindo de sua fala e a sua gesticulação exagerada.
— Tenho que concordar. – afirmo. — se um dia eu estiver perdidamente apaixonada por você ou por qualquer outra, essa pessoa tem que ser cem por cento verdadeira.
— Se for por mim... me avisa o mais rápido possível, ok?
O sorriso dela alcançava as orelhas. Talvez a hipótese de estar com ela, romanticamente falando, seja o bastante para deixá-la feliz.
— Vou te ligar na primeira oportunidade e se estivermos trabalhando, paro tudo para dizer o quanto te amo Estefanía Kabila.
— Essa foi a coisa mais romântica que já ouvi de você. – suspira. Reviro os olhos e tranco o armário, pronta para sair pelas ruas escuras de Valência.
— Até amanhã, Rizos.
— Te vejo a noite, loirinha.
No meio do caminho, entre o corredor estreito que levava a escada de caracol, uma das portas da salas a qual nunca entrei se abre. Sou obrigada a parar. À minha frente se materializa a mulher cujo ninguém aqui sonha em encontrar. Me senti extremamente azarada e naquele instante, pela expressão dura e o olhar impassível que ela carregava, notei que algo estava muito errado. E de alguma forma, esse algo me envolvia.
— Anabel.
— Macarena. – devolveu o meu aceno.
— Algum problema? É que já deu a minha hora e eu realmente preciso ir. – digo.
Entre o sim e o não, deparar com ela nunca deu em boa coisa.
— Infelizmente você vai ter que esperar só um pouquinho. – fala espremendo o rosto. Nunca entendi como essa mulher chegou no topo da cadeia alimentar da boate mais requisitada, sofisticada e exorbitante de Valência.
Anabel não tem o perfil da pessoa mais correta para gerenciar qualquer lugar que seja. Ela é rude e pelo o que eu soube, sabe tudo de todas.
É assustador.
— Algum problema comigo? Eu fiz alguma coisa errada? – pergunto à seguindo em direção ao final do corredor.
Entramos em uma sala grande, as paredes eram pintadas de um vermelho vivo e havia dois sofás largos de couro que facilmente comportaria uma família inteira cada um. O carpete vinho combinava com cada objeto que enfeitava o lugar, desde o lustre de esmeraldas até o vaso de rosas sobre a mesa de centro.
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Unravel
FanfictionPassar anos presa a uma boate nunca foi o sonho de Macarena Ferreiro, logo ela já não suporta mais a vida que leva e por si só tenta refazer os passos abandonados de quando era apenas uma garota que buscava alcançar suas metas. Porém, a suspeita de...