Cap 23

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Todo o silêncio anterior parecia ter voltado de uma só vez, engolindo tudo o que havia naquele campo aberto no fim da noite. Dali algumas horas a madrugada começaria, mas eles continuariam longe do amanhecer.
De todo modo, Sooyoung não conseguia se ver chegando ao vilarejo, com uma sensação de alívio, enquanto o sol nascia no horizonte. Na verdade, a menina não tinha nenhuma certeza de que veria novamente o sol nascer e a cada minuto que passava aqueles pensamentos se distanciavam cada vez mais da realidade.
Segurando uma de suas mãos, Momo estava mergulhada aos mesmos pensamentos, mas pelos motivos diferentes. Ela não tinha motivos para temer a morte como Sooyoung tinha, mas desde que Alice surgira, salvando Heechul e Sungjae tão facilmente, um sentimento estranho transitava dentro da cabeça da menina.
Ela não confiava em Alice, nem um pouco. Mas não era nada em relação a ela. Na cabeça de Momo, as memórias das mortes de D.O, Nanjoom e Jungkook continuavam vivas demais e ela não via como a vida deles poderia voltar a ser como era antes sem os três amigos. Com a memória eterna do que havia acontecido a eles.
Por isso ela não conseguiu sorrir quando Sooyoung olhou pra ela e forçou um sorriso. Por isso ela só conseguiu sentir raiva quando viu, no rosto de Alice, a confiança que a mulher apostava naquele momento, na hipótese de que tudo ficaria bem – e que agora parecia tão distante.
Todos os outros também pareciam estar envolvidos nos seus próprios pensamentos enquanto permaneciam em pé, formando uma roda, um de mãos dadas com o outro. Até mesmo Alice olhava para o nada, o foco do olhar misteriosamente perdido em algum pensamento que nenhum dos cinco amigos conseguiam sequer imaginar do que se tratava.
Mas mesmo assim, continuaram nervosos, esperando. Cada batida do coração parecia mais forte e mais rápida. Cada vez mais forte o medo dentro de cada um deles, um medo que eles nunca haviam sentido antes.
Eles esperavam, mas nem por um segundo estiveram preparados.
E foi então que, no mais absoluto silêncio e na mais densa escuridão, o inferno se abriu ao meio.

Sungjae e Heechul só se deram conta do que havia acontecido quando Momo e rosegritaram alto olhando para trás: Sooyoung havia sido subitamente puxada para trás por alguém que eles sabiam que estava ali, mas não podiam ver.
Quando Sungjae viu o braço dela virado pra trás num ângulo estranho, ele soube por onde ela estava sendo puxada.
E o caos se instalou.
Sungjae e Heechul mergulharam de uma só vez para frente tentando desesperadamente liberar Sooyoung , mas o esforço foi desnecessário. A menina caiu no chão e silenciou-se, olhando assustada para os lados.
Heechul lhou confuso para os lados.
- Ele te soltou?
Alice sorriu com uma pitada de sarcasmo, mas quase como se estivesse se divertindo.
- Ele está brincando com vocês... Quer provocá-los!
- Eu não acho tentativa de assassinato uma brincadeira muito esportiva – retrucou Momo, carrancuda.
Sooyoung se levantou e sacudiu as roupas sujas de terra.
Ela olhou para os lados, mas não viu ninguém além dos amigos e Alice. Era estranho: se ela podia ver espíritos, porque não podia ver o velho bruxo agora? A resposta surgiu fulminante diante de seus olhos: porque ele não queria.
O velho materializou-se na frente da menina e, antes que ela reagisse de qualquer forma, ele a empurrou para trás. Só que dessa vez sua força agira de forma sobre-humana e Sooyoung não caiu pra trás, ela voou mais de três metros para longe depois de cair no chão com um baque seco.
- Sooyoung ! – Momo gritou.
Ela correu até a amiga e virou-a para si. Havia um corte pequeno, porém profundo, três dedos acima da sobrancelha esquerda e de lá um filete de sangue escorria pela lateral do rosto até o queixo.
- Eu estou bem – a menina disse. – Rosie , cuid...
Mas a frase nunca foi completada. Sooyoung viu quando o velho novamente surgiu do nada atrás da amiga. Ele apenas levantou uma mão e o corpo de Momo sofreu o mesmo efeito que o de Sooyoung .
Dougie e Rose correram para ver se Momo estava bem, enquanto Tom foi até Sooyoung . Ele não sabia que estava indo na direção exata do velho, mas pode supor algo assim quando sentiu o corpo comprimir contra uma parede que não existia, uma barreira invisível que não o deixava chegar até Sooyoung .
E então, Alice, que até então apenas olhava tudo aquilo, resolveu agir.
Ela passou rápida e suavemente correndo pelo lado de Tom e saltou no ar. Executou uma cambalhota com a destreza de uma ginasta, mas o chute forte que atingiu precisamente o peito do bruxo foi brusco e nem um pouco delicado.
O velho caiu com um grito rouco que só Sooyoung e Alice ouviram.
Singjae então, resolveu que era hora de tentar de novo. Correu contra a barreira invisível, mas, como ele suspeitava, ela não estava mais ali. Ele pegou Sooyoung pelos ombros quando chegou até ela.
- Meu Deus, Sooyoung , você está bem? – ele perguntou.
A menina não respondeu a pergunta dele.
- O exorcismo – ela murmurou, em pânico. – Preciso ler o exorcismo!
Só que quando suas mãos tatearam o bolso de trás das calças jeans, ela não pôde sentir o papel dobrado que Alice lhe dera ali.
Foi quando ela o avistou a poucos metros de distância, onde Alice começava uma briga violenta contra o espírito, caído no chão.
Heechul , Momo e Rose tinham chegado ao lado dos dois amigos. O ferimento causado pelo espírito no rosto de Momo era bem pior que o de Sooyoung . A morena não havia somente cortado a testa, ela tinha batido o rosto fortemente contra o chão, sofrendo uma pequena hemorragia que deixara uma grande mancha roxo-avermelhada logo abaixo do olho direito.
- Eu preciso pegar o papel! – Sooyoung exclamou.
Mas quando os amigos viram ao que ela se referia, quase como se pensassem em sincronia, eles barraram seu caminho.
- A gente pega o papel, você vai pro círculo – disse Sungjae
- Mas...
- Sooyoung , a gente vai chamar bem menos a atenção dele do que você – Rose retrucou. – Vai lá!
Hesitante, Sooyoung obedeceu aos amigos.
E de longe ela viu quando eles todos se aproximaram do papel sem nenhum tipo de cautela, ao mesmo tempo. Ela viu o rosto do bruxo virar-se pra eles.
Agora, ele estava diferente de todas as outras vezes que ela o vira. Ele estava com uma expressão vivaz, o ódio emanava pelos olhos furiosos. Às vezes, ela tinha até mesmo a vaga impressão de ver uma luz vermelho-bordô acender-se em torno do corpo dele. Era como se ela estivesse vendo todo o ódio dele vazar pelos poros do corpo na forma de poder.
Sooyoung girou, aterrorizada, quando viu que o olhar dele destinava-se a Sungjae e que o menino fora atingido com força por aquele brilho vermelho e jogado para longe dali com uma força descomunal.
Sungjae não teve a mesma sorte de Sooyoung e Momo. Quando seu corpo bateu contra o chão, seu braço foi forçado em um ângulo anormal e quebrou. Uma injeção de dor lancinante subiu pelo braço quebrado e espalhou-se pelo resto do corpo. O menino não perdeu a consciência, mas sua cabeça rodava tanto que ele não conseguiu mexer o corpo nem mesmo numa tentativa de levantar-se.
Ao longe, o velho parecia estar prestes a fazer o mesmo com Heechul , mas o grito de Sooyoung chamou sua atenção de tal forma que a rajada vermelha destinada ao menino desviou para cima.
- Heechul , abaixa! – ela gritou.
E o rapaz obedeceu a tempo. Toda a energia direcionada a ele passou a mais de um metro acima dele e a distração do velho ainda lhe deu tempo suficiente para se levantar.
Quando o espírito fez menção de deixar a luta com Alice para ir atrás de Sooyoung , outro chute lhe veio na direção da face, mas ele parou-o com a mão direita, agarrou o calcanhar de Alice e jogou-a no chão.
Ele teve tempo de novamente estender a palma das mãos paraHeechul , mas dessa vez o garoto não foi jogado para longe. Ele sentiu como se uma corda invisível se enrolasse em seu pescoço, sufocando-o brutalmente. As mãos correram até o local numa tentativa frustrada de se libertar, mas não havia nada ali além da garganta se contraindo pelo nada.
Pouco a pouco o garoto foi perdendo o corado do rosto, e quando Momo chegou para tentar ajudá-lo – mesmo com uma quase certeza de que não conseguiria – o efeito da tentativa de assassinato do espírito se estendeu a ela.
Lado a lado, os dois jovens estavam lentamente sendo erguidos ao ar, sufocando. A sensação de queimação nos pulmões era comum entre eles. O desespero de não ter como salvar suas próprias vidas também.
E, de fato, foi Alice quem salvou.
Ela se levantou do chão e adiantou-se o mais rápido que pôde na direção do velho. Ele não viu ela se aproximar, por isso não previu a dor lancinante que ferroou sua coluna quando Alice investiu-lhe um soco nas costa.
Ele se virou para encará-la com ódio, mas tudo o que fez foi observar o incrivelmente rápido movimento que ela fez com a perna comprida, atingindo-lhe o rosto com um chute violento.
Ela lançou um olhar significativo a Rose , que só conseguia ver a mulher se sentando em cima do nada e distribuindo sucessivos socos no ar.
Rose viu Heechul e Momo caindo no chão, buscando o ar desesperadamente, mas dessa vez conseguindo respirar. Ela hesitou em pegar o papel com o rito exorcista ao pensar que eles poderiam precisar de ajuda, mas um olhar de Heechul , que agora abraçava Momo ajudando ela a respirar, foi mais do que o suficiente para que ela soubesse o que tinha que fazer.
Ela completou seu trajeto até o pedaço de papel e pegou nas mãos no exato momento em que viu alguma coisa atingir Alice no peito e fazê-la voar muitos metros acima do chão, caindo ao lado de Sungjae .
Só Sooyoung viu quando o bruxo se aproximou dela com um sorriso malicioso e as mãos estendidas, mas todos eles conseguiram ver o corpo dela se erguer do chão enquanto ela sufocava tentando afastar as mãos invisíveis que apertavam sua garganta.
- Você! – Alice gritou para Rose , que ao longe estava paralisada de terror com o papel em mãos. – Recite o exorcismo!
A garota apenas mudou o foco do olhar de Sooyoung para a mulher. Estava estupefata, cada nervo paralisado com o horror do que presenciava.
- , ACORDE! – ela gritou. – Você PODE recitar o exorcismo, qualquer um pode!
O olhar da menina correu para o papel. Aquilo não era inglês, mas mesmo não sabendo latim, ela sabia pronunciá-lo.
"Regna terrae, cantate deo, psallite dominio... Tribuite virtutem deo."
E o pronunciar de tais palavras fez o vento uivar. E soprar mais forte, balançando sinistramente os cabelos de Rose .
Heechul Momo, Sungjae e Alice olharam para ela. Ela olhou para Sooyoung .
E de confuso, seu olhar tornou-se determinado. A menina elevou ainda mais a voz, fazendo-a ecoar por todo o campo aberto, até onde eles podiam ver, ao recitar as frases seguintes.
"Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas, omnis incuriso infernalis adversarii, omnis legio, omnis congredatio et secta diabolica..."
Longe dali, os contornos profundos do desenho que Alice fizera no chão começaram a afundar ainda mais, a ficarem mais profundos até que o desenho ficasse evidente no chão.
Uma fumaça avermelhada surgiu, aos poucos, do nada, cerca de três metros acima do círculo. Não era densa, muito menos opaca. Era suave, mas ainda assim era possível ver os lentos movimentos circulares que ela fazia acima do círculo, poucos centímetros atrás de Sooyoung .
"Ergo... Perditionis venenum propinare. Vade, satana, inventor et magister omnis fallaciae. Hostis humanae salutis. Humiliare sub potenti manu dei. Contremisce et effuge. Invocato a nobis sancto et terribile nomine. Quem inferi tremunt..."
E então a fumaça recuou do meio do círculo que ela mesma formava, rodopiando ao redor do mesmo, deixando no centro um buraco negro cujo fundo era impossível de se ver.
O espírito empurrou Sooyoung , ainda com as mãos na sua garganta, até que a ponta dos seus pés não ultrapassasse a borda do círculo desenhado no chão por pouco mais de um centímetro.
Rose olhou aterrorizada para Alice. Ela parou por um segundo de falar, mas pela garganta de Sooyoung , um grito sufocado pediu para que ela continuasse.
Sungjae tentou mais uma vez chegar até o velho, bem como Heechul e Momo, mas os três foram barrados pela mesma parede invisível conjurada pelo bruxo morto há minutos atrás.
"Ab insidis diaboli, libera nos, domine. Ut ecclesiam tuam secura tibi facias, libertate servire, te rogamus, audi nos. Ut inimicos sanctae ecclesiae humiliare digneris, to rogamus audi..."
Alice tentou também, então, chegar até os dois, mas o choque contra a parede invisível afastou alguns passos novamente.
Pela primeira vez na noite, ela não parecia confiante. Cada único traço no seu rosto demonstrava preocupação e medo. Rose só não sabia do que.
As lágrimas já escorriam sôfregas pelo rosto de Sooyoung quando Alice tentou investiu mais uma vez contra a barreira, em vão.
- Não entre no círculo! – a mulher gritou.
Sooyoung apenas respondeu, como pôde, a plenos pulmões:
- Continua!
E Rose adiantou-se para a última parte.
"Dominicos sanctae ecclesiae, terogamus audi nos, terribilis deus do sanctuario suo deus israhel. Lpse tribuite virtutem et fortitudinem plebi suae, benedictus deus, gloria patri..."
A última palavra soou mais alta, quase como uma sentença. E quando o buraco negro se abriu por completo, passando a sugar o ar para dentro de si, Rose também largou o papel e correu na mesma tentativa vã de ajudar Sooyoung .
E foi quando o velho espírito empurrou-a para dentro do círculo e continuou a segurá-la, de fora.
Sooyoung sentiu o mundo rodar ao seu redor. A queimação nos pulmões diminua lentamente. Ela constatou, aterrorizada, que pouco a pouco não sentia mais necessidade de respirar.
Não sentia mais o vento frio e cortante lamber sua pele, não sentia mais o vento verter para cima, balançando seus cabelos furiosamente. Ela simplesmente não sentia mais seu corpo.
Mas Sooyoung já sabia o que fazer.
Ela não teria forças para afastar-se do espírito. Certamente não conseguiria empurrá-lo ou inverter suas posições. Então, ciente do que estava acontecendo consigo mesma, ela apenas pôs os pés no chão e impulsionou.
Sooyoung puxou o velho para perto de si, para dentro do círculo.
Ele gritou e a soltou, mas não conseguiu ultrapassar as linhas no chão desenhadas por Alice. Estava preso.
A menina olhou para os amigos; as lágrimas ainda escorriam lívidas pelo rosto. Ela não forçou um sorriso, ela não gritou. Apenas continuou a chorar.
E nem teve tempo. No segundo seguinte ela olhou para cima. O buraco negro se aproximava, escuro e aterrorizante, cada vez mais perto. Até que tudo o que ela via era a completa escuridão.
E do lado de fora, Momo e Rose choravam alto, gritavam, enquanto o buraco se fechava acima do círculo na terra, a fumaça vermelha dissipava sem deixar vestígios e o corpo de Sooyoung caía mole e desfalecido no chão.

Sungjae estava silencioso, sentado no chão, encolhido, garantindo que estava bem, mas chorando copiosamente com o rosto escondido entre os joelhos.
Heechul ão chorava como ele, mas o rosto também estava molhado, os olhos vermelhos e inchados que ele não fazia muita questão de esconder.
Momo e Rose agiam de forma completamente contrária. Os rostos belos estavam pálidos e os olhos vermelhos de tanto chorar, elas soluçavam alto quebrando o silêncio da noite.
- Foi minha culpa – Rose declarou silenciosamente, sem parar de chorar. – Foi tudo minha culpa.
Momo mordeu os lábios e negou veemente com a cabeça. Heechul se deu ao trabalho de entreabrir os lábios e murmurar o mesmo que Momo tentara dizer com um gesto.
- Não foi culpa de ninguém – Alice declarou sem emoção.
Sua bota deslizou pelo círculo no chão sobre o qual o buraco negro se abrira há mais de três horas atrás, desmanchando os desenhos que ela mesma fizera.
- Ela sabia o que ia acontecer, ela estava bem ciente da decisão que ela tomou – a mulher repetiu, a voz parecia um pouco fria demais para a ocasião.
Sungjae levantou a cabeça e a olhou com ódio. Ele passou as costas das mãos nas bochechas e levantou-se.
- Ela sabia? – ele perguntou furioso, apontando o dedo acusador para Alice. – Você é quem sabia! Você sabia desde o começo e você simplesmente não se importa.
Novamente, com uma atitude que parecia muito fria, ela rodou os olhos como se aquilo fosse muito entediante.
- Chega de drama, certo? Eu ouvi vocês chorarem por mais de uma hora, e nós não temos tempo a perder...
- Sabe o que você é? – Momo a encarou, os dentes trincavam de raiva. – Você é uma assassina, além de uma pessoa ridícula e hipócrita! Você simplesmente não se importa. Você é uma vadia!
Alice estreitou os olhos e direcionou a Momo um olhar que a confrontava de igual para igual.
- Eu não me importo? – ela soou incrédula. – Quem foi que avisou que ninguém além daquele velho decrépito deveria entrar no círculo? Quem foi que salvou a vida dos dois rapazinhos ali? Quem foi?
Ela deu um passo adiante, intimidando Momo.
- As oito almas de luz não servem muito pra humanidade sendo só quatro – disse ela. – E eu certamente não fiz o que fiz, não me dei ao trabalho de vir até aqui pra salvar mais um ou dois se soubesse não tem como consertar o que vocês fizeram! – ela suspirou. – E não me chame de vadia.
Rose fungou o nariz e tentou controlar o choro.
- O que nós fizemos?
- É – a mulher respondeu com simplicidade. – Deixar Do Kyungsoo , Nanjoom e Jeon Jungkook morrerem.
Sungjae balançou a cabeça, confuso, e retrucou:
- Espera... Como assim, consertar? V-você quer dizer...
Ele não completou, mas Alice fez isso por ele sem se importar nem um pouco. Ela só disse com simplicidade:
- Trazê-los de volta do inferno... É, foi isso que eu quis dizer – um vestígio de sorriso apareceu no canto de seus lábios. – Vocês conhecem as almes, não?
Rose e Momo se entreolharam.
A história das almes contada pela velha senhora não tinha soado muito digna de confiança, talvez fantasiosa demais até para quem estava na situação incomum que eles estavam.
Contudo, vinda da voz de Alice, na forma como ela falava, a teoria das almes não parecia mais tão absurda.
- As almes... Aquilo que prende a alma de alguém a terra? – arriscou Heechul .
Alice riu.
- Existe uma forma bem mais clássica de explicar, mas não deixa de estar certo – o olhar dela tornou-se sério sobre os quatro amigos. – O corpo da Sooyoung caiu daquele jeito porque a alma dela foi sugada para dentro do buraco, para o inferno. Mas com as almes tanto ela, quanto D.O, Nanjoom e Jungkook podem ser trazidos de volta para a Terra.
- E como vamos saber como identificar uma alme? – Rose perguntou confusa, levantando-se do chão com Momo, se pondo em pé ao lado de Heechul e Sungjae.
Todos eles já haviam parado de chorar. E por mais que a ferida da perda dos amigos ainda latejasse por dentro da alma, agora os quatro sentiam uma ponta doce e refrescante de esperança atingir seus corações.
- Isso não é importante agora – Alice virou-se de costas para ele, olhando para o horizonte, onde o sol ainda não dava sinais do nascer do dia. – O corpo dela foi enterrado da maneira apropriada, os dos seus outros amigos provavelmente também foram pelos espíritos animais. Agora o mais importante é voltar para onde as almes com certeza estão
Tom suspirou pesadamente.
- Seoul, certo?
Momo, Heechul e Rose concordaram silenciosamente.
Alice sorriu. Dessa vez não havia malicia ou sequer sarcasmo no seu sorriso, apenas expectativa.
- Por bem ou por mal – disse ela. – A história de vocês não está terminando aqui... De fato, ela mal começou.
- Então... – disse Momo. – Seoul está nos chamando.
Ninguém respondeu, mas todos sabiam que sim.
Os olhares todos convergiram para o horizonte. Ainda estava escuro, mas já era possível ver um contorno escuro delimitando o fim do que se podia ver da terra e o começo do céu. Não havia nuvens, seria um dia ensolarado, de um céu muito azul.
O dia ainda estava longe de amanhecer, mas pelo menos, agora, eles tinham a certeza de que veriam isso acontecer.
Agora, tinham certeza de que veriam o sol nascer ali.
E que, há muitos quilômetros de distância, naquela direção, Seoul os aguardava.

F.I.M.

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