Pelo interfone

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Memórias invocadas e memórias que não se vão.
Memórias que chegam de fininho,
Ou invadem sem permissão.
Memórias livres e memórias presas,
Memórias apagadas no porão.

Memórias de porcelana, ou avulsas de papel
De início inofensivas mas cortantes sob pressão.
Memórias de gaveta, de disco arranhado
Com roupa de noiva, vestido em véu.

Memórias que não param de chegar,
Que nos fazem rir e chorar,
Desabar e dançar,
Mas que, de forma alguma, não vão embora não.

Memória; memórias, malditas memórias
Em meio ao acaso, ao azul impecável,
Estão enfurnadas em um apartamento apertado,
Onde nenhum som entra ou sai.
Nenhum barulho de trânsito,
De vendedor de rua,
De sirenes soando,
De marido chegando.

Memórias de casa, do céu, o véu, léu,
Malditas memórias que o tempo não leva,
Nem as caixas, nem o tempo que passa,
Ou a quarentena que não acaba.

– 16 de abril.

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