CAPÍTULO III - UM DIA RUIM!

9 0 0
                                    


Sua criadora está a caminho de Mag Mell, a Druida sumiu como fumaça entre as árvores da grande floresta, de todo ouro tirado da guarda de Liath não foi literalmente ele todo jogado ao chão, o perdido Deimne ficou com uma certa quantia para que pudesse se virar certo tempo até achar dignidade em fazer algo para se manter.

Ao caminhar pela grande floresta, compartilhando do lar das árvores e animais, ele se encontrava pensativo sobre o rumo que sua vida tomou em tão pouco tempo, se passaram alguns dias desde o assassinato a Liath, memória essa que lhe assombrava corriqueiramente, mas causava um misto de sensações, raiva, medo, tristeza, mas não arrependimento, embrulhava seu estômago ao pensar que ele havia feito o ato.

Ao parar a beira do lago, assentar seu joelho na grama verde, ele se olha ao reflexo da água, onde se ver, mas não se reconhece mais, sem fome, sem sede, apenas sobrevivendo um dia após o outro. Reconhecendo sua situação, ele se via um sujeito sem rumo, ao pôr a mão na sua bolsa presa a cintura sente a base de apenas oito a dez moedas de ouro, sustento a pouco mais de dois dias.

Seu pesar sobre si mesmo é interrompido ao ver as águas na beira do lago que costumam estar inertes a revelar pequenas ondas de estremecimento, pouco a pouco o trote dos cascos dos cavalos ressoam mais alto, pouco pode fazer, quando um grito ordenando para pará-lo assustou os pássaros das árvores de tão alto. Ele se vira com uma mão no cabo da espada, mas revelando nenhuma intenção de desbainha-la, pouco mais de seis guardas reais, um seleto grupo dos Fianna, montados e bem armados cercam-no na margem.

O que ficava ao meio com um pano azul enrolado em seu pescoço, se aproximou lentamente de queixo erguido, pós seu cavalo de lado, mas permaneceu montado, apenas analisando o homem.

- Em nome do rei Cormac e de toda Meath – diz ele com tom de soberania – Espero não ter interrompido sua caça, pesca ou seja lá o que faz a margem do lago pobre alma, estamos em busca de um sujeito, ou melhor, de um carrasco fútil e você apareceu no rastro!

Com gestos ele ordena dois soldados, que descem dos cavalos e agindo com moral cada um segura um braço do rapaz, o da direita parecia um pouco mais franzino, mas não compensava por ser muito firme, ele bem faz por onde, quando, com seu pé, encosta com força na região atrás do joelho fazendo-o cair de joelhos no chão. O da esquerda que agia feito bobo, parecia querer agradar constantemente seu superior, rindo com desdém a cada momento que tratava-o mal, porém, ele parecia capaz de fazer qualquer coisa por isso, matar um ou dez, estranho ou família, por trás do seu elmo, seus olhos lembravam a guerra.

O próprio puxou os cabelos do rapaz, agarrando-o como uma prostituta, e levantou como se mostrasse um prêmio, olhando para os olhos do superior montado e tentando-o convencer de que era o homem, pois sua aparência era igualmente a da descrição das pessoas de sangue fraco no mercado. Ainda com dúvidas o mandante pediu para examinar seus bolsos, onde depois de duas tentativas falhas eles retiram sua bolsa da cintura e encontra as moedas de ouro.

    - Essas moedas de ouro, como conseguiu vagando pela floresta homem? – o superior pergunta com ar de dúvida e arrogância.

    - Desculpe senhor, se não for dizer muito, esse questionamento é um tanto idiota, já que essa moeda circula não somente todo reino de Meath, como toda Kiffterland, ouro é ouro em qualquer lugar! – com um sorriso forçado no rosto!

    - Muito bom ver que você não só parece um sujeito tolo como realmente é um, como ousa direcionar-se a um guerreiro de alta patente de tal forma?

Com o cabo da espada o guerreiro ao lado esquerdo golpeia a barriga do homem rendido fazendo-o perder o ar, enquanto o da direita o segura firme. O superior sorrir de canto de boca e aos poucos vai virando seu cavalo em retomada, ordena que prenda o homem, pois tinham achado o guerreiro branco, defensor dos sangues fracos, Fionn, mas antes solicitou que dessem-lhe uma surra como forma de lembra-lo de reverenciar de forma digna um guerreiro Fianna.

Dessa forma Fionn apanhou por alguns minutos, apenas com socos e chutes, o suficiente para deixa-lo em um estado fraco. Sangrando e com machucados em todo corpo ele foi amarrado pelas mãos e foi caminhando puxado pelos cavalos até o castelo real.

Enquanto passava por dentro das ruas rochosas, puxado como um cão leproso ou um assassino cruel, as pessoas do mercado se congelaram ao presenciar o homem que dias atrás lhe deu suas riquezas, em meio a comentários de desculpas e pêsames de desconhecidos, sujeitos mais desprezíveis se divertiam com sua situação, jogando restos de comida e objetos, rindo e se referindo a ele como individuo estúpido por ter dado seu ouro aos pobres.

Olhando indiretamente, um dos guardas que o tinham preso em seu cavalo lhe diz.

    - O que me diz guerreiro Fionn, como o chamam, será que dá uma de herói ou salvador esse povo valeu a pena? Como é ver as pessoas que se referiram a você como um gigante dias atrás atirarem seus restos de comida e rirem de sua cara agora?

Eles continuaram andando e dando gargalhadas do prisioneiro até chegar as masmorras do castelo, onde o prenderam pelos pulsos com correntes de aço e lhe deixaram no chão, dizendo apenas que o pobre homem deveria esperar sua sentença pelo rei.

Depois de horas na prisão ele é enfim recepcionado pelo próprio rei Cormac, visitando-o ao lado do próprio Goll como seu segurança particular, ao entrar na cela, Fionn o reconhece com clareza, seus olhos se esbugalhavam, os dentes roçavam um no outro e seu sangue fervia, tanto ódio que a presença do rei era insignificante.

No mesmo momento Fionn se levanta guiado pela pura raiva, na tentativa de desferir socos em Goll, ele é interceptado pelas correntes, os guardas como medida de proteção supuseram que o ataque era para o rei e no mesmo momento Goll tomou sua frente e desferiu um soco no bem no seu nariz o fazendo cair para trás, ainda posteriormente o tratando como desprezo.

O rei então se aproxima de Fionn franzindo a testa como se estivesse analisando-o, da mesma forma, mesmo que com um olho inchado, nariz e lábios sangrando, tentando ao máximo não demonstrar dor, Fionn observa o sujeito por trás da capa grossa vermelha e armadura dourada.

Colocando seu cabelo escuro para trás da orelha e coçando o queixo por trás da barba rala, o rei se questiona que tal homem fosse capaz de ter matado a grande guerreira e protetora dos portões do tesouro real Liath, alegando que o prisioneiro era corpulento sim, mas que não parecia ser capaz de manejar uma espada como sua antiga guardiã.

Um guerreiro atrás interrompe o rei lhe dando hipóteses cabíveis, alegando ser possível o homem ter conquistado Liath, assassinando-a e lhe roubando depois, teoria que pareceu plausível ao rei, mas acima disso tudo, ele não entendia o porquê de matar alguém de tão prestigio no reino apenas para agradar os de sangue fraco, sabendo que tal ato é pago com morte. Segurando-o pelo queixo e olhando nos olhos ele o questiona mais uma vez.  

    - Porquê miserável? Porquê cometer um crime desse porte por ações com tão pouco valor? Não que meu povo seja pouco, claro! Mas nem eu mesmo faria tal crime, embora você se guarda sendo mesquinho, acredito que você tenha um bom motivo para isso, a menos que seja um louco ou não tenha a mente saudável.

     - Vejo que nosso rei, mesmo por trás de ouro, más escolhas e confiança tola de seus aliados não tem uma mente envenenada, é apenas uma criança com coroa brincando com ovelhas! Não importa se uma ovelha morra hoje ou amanhã, desde que as demais permaneçam dentro do seu quadrado, assim como não importa se um companheiro seu morra desde que outro lhe diga que vai ficar tudo bem!

O rei permanece com a testa franzida, olhar pensativo diante Fionn, sem movimentos bruscos de sua parte, ele olha pra Goll que vislumbrava em sua mente, com feição de cachorro bravo, encarando o prisioneiro, aquele breve momento de silencio e dúvidas ficou marcado por cada um deles.

Cormac se vira sem falar nada, ao pôr um dos pés para fora da cela ele para e chama a atenção de Fionn, revelando que tem interesse em seus comentários, assume que não entendeu o que significava, porém, diante trabalhos que lotam o dia do rei ele não teria tempo para ouvi-las e que tudo se encerraria com sua execução por assassinato e roubo de uma guerreira real ao amanhecer.

Todos saem da cela deixando apenas Fionn aprisionado, à medida que o fervor do seu sangue ia amenizando ele ia refletindo sobre tudo o que aconteceu naquela semana, desde descobrir a verdade sobre seu pai, olhar no rosto do assassino, até ter matado Liath e ter perdido Bodhma, sua outra criadora, que lhe ensinou muito sobre ter paciência e ser capaz de realizar suas ações de forma mais plena.

FIONN - O Resgate da HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora