Inesperado

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Capítulo 1

Inesperado

"Não tenha objeções ao inesperado"

- Dexter

XxX

Os olhos azuis focaram novamente no objeto em suas mãos, tremia levemente, mas ela desconfiava que fossem suas mãos.

Não conseguia acreditar no que seus olhos viam, como aquilo havia acontecido?

Sorriu nervosa, esfregando as mãos no rosto em puro nervosismo, ela não era idiota, sabia como havia acontecido, mas ainda assim, como? Porque?!

— Grávida… — sussurrou para o nada do banheiro de seu consultório, escutando a palavra reverberar-se nas paredes, num eco eterno.

Estaria em júbilo, se não estivesse tão desesperada pelas atuais circunstâncias. Batidas foram ouvidas na porta de seu consultório, fazendo com que reagisse a notícia saindo então do banheiro, deixando o resultado do teste em cima da pia, não queria que ninguém o visse por descuido. Talvez o mesmo fosse uma miragem de sua cabeça e desaparecesse… Mas ela sabia que não era tão simples assim.

— Pode entrar — a mulher disse quando se acomodou em sua confortável cadeira, tentando passar uma pose mais calma, observou quando a sua secretária adentrou o cômodo, contendo alguns papéis em mãos. O fim do expediente já estava próximo, ela estava apenas trabalhando em seu consultório particular no momento, mas ainda assim, a disposição quando era solicitada para algo mais urgente.

— Doutora Taisho, — revirou os olhos com a forma que ela a chamou, Rin, a sua secretária. Ela era uma garota jovem, recém casada com o irmão de sua melhor amiga, não poderia deixar de ajudá-la, e ela conhecia a garota desde pequena, era quase como sua irmã mais nova. Porém, ela continuava a chamá-la de Taisho quando a sós, como se fosse desrespeitoso tratá-la de outra forma, mesmo que ela já tivesse a advertido quanto a isso — os pacientes já terminaram por hoje.

— Obrigada querida. — Kagome a respondeu, dirigindo um sorriso que não chegou aos seus olhos, às mãos pareciam nervosas sobre a mesa, nunca paravam num lugar, mas a mais jovem decidiu não questioná-la. Conhecia Kagome muito bem para saber quando ela estava nervosa — Já pode ir, se tiver terminado…

— Grata, se cuide! — ela sorriu, deixando os papéis sobre a mesa,  seguindo para a porta em seguida, estava começando a fechá-la quando pareceu se recordar de algo, colocando parcialmente o corpo dentro do recinto — Senhor Inu-Yasha lhe deixou um recado, pediu pra avisar que não virá pra casa hoje, parece que houve uma viagem de negócios de última hora irremediável.

Sorriu amargurada, Kagome sabia muito bem que aquela viagem tinha nome, sobrenome e um belo par de pernas. Apenas assentiu para a garota que se retirou de seu consultório, suspirando relaxou na cadeira quando a porta se fechou, apoiando a cabeça no encosto observando o teto, pegou o celular no bolso do jaleco e percebeu que não havia mensagens, nem se quer uma ligação do marido. Jogou o aparelho em cima da mesa, afundando ainda mais na cadeira. Por um instante sua mente viajou ao passado, três anos atrás. Quando aquele casamento começou a ser planejado.

Já possuía seu consultório, foram cinco anos de estudo de medicina, mais dois de especialização em estética, era formada em anestesiologia. Abriu seu consultório aos 23 anos, afinal já sabia fazer alguns procedimentos estéticos e já estava se especializando há um ano para procedimentos mais avançados. Não queria continuar a vida de princesinha dos Higurashi, apesar dessa posição tê-la ajudado na questão do financeiro, muito menos seguir o ramo da família, queria ter sua vida, seu domínio. Seu próprio reconhecimento. Mas às coisas não saíram como ela planejava. Seus pais lhe deram sim liberdade para escolher que caminho seguir, porém, sempre havia um porém… Ela teria que se casar com o filho mais novo dos Taishos.

Seu pai era um advogado de renome, um dos melhores do país, pegava casos complexos e os resolvia, era muito renomado, o que fez com que o sobrenome Higurashi crescesse e se tornasse famoso. Sua mãe também seguia o ramo, e quando se casou, fez com que a empresa expandisse ainda mais. Os concorrentes temiam o nome Higurashi e havia um forte concorrente, os Taishos, mas InuTaisho sabia que os Higurashi eram mais fortes e se eles se tornassem sócios, seriam imbatíveis, e eles teriam o mesmo grau de renome.

Ali, eles fecharam o acordo, e para deixar tudo às claras, os filhos teriam que se casar, mas ao invés do mais velho, seria o mais novo, na época ela não quis saber o porquê, mas hoje se questionava sem saber a resposta. Kagome relutou bastante quanto a isso, um casamento arranjado, mas os pais foram bem abertos nessa questão, permitindo que eles primeiramente se conhecessem. E graças a isso, Kagome se apaixonou pelo filho caçula, um romance aflorado e quente, repleto de paixão, namoraram por sete meses, e antes de um ano de relacionamento se casaram.

Inu-Yasha era muito diferente no começo, romântico e sempre zelando por ela, carinhoso e atencioso, Kagome se sentia num pedestal em que apenas ele a idolatrava, se sentia amada e importante, pela primeira vez alguém olhava para ela e não para a sua família. Estavam casados há quase dois anos, mas isso não parecia valer de nada para ele. Os azuis focaram na placa com seu nome na mesa, não se apresentava com seu nome de casada, ali era doutora Higurashi e assim continuaria, não havia orgulho em carregar o sobrenome do marido.

Um suspiro escapou de seus lábios, precisava ir agora, estava cada vez mais tarde, dessa vez seria mais fácil ir pra casa. Pegou seu celular o colocando no bolso e seguiu para o armário, pegando sua bolsa, se sentia tranquila, ir para casa hoje seria mais tolerável e ela se sentia grata por isso. Pegou o resultado do teste no banheiro e seguiu para a saída, trancando tudo quando saiu. O jaleco estava pendurado no braço e a chave do carro em sua mão, aquele carro era o presente de seu pai por seu casamento, um mercedes GLA 250 Sport, vermelho, sua cor favorita. Amava aquele carro, era prova de sua liberdade, naquele casamento de fachada do qual apenas ela levava em frente. A verdade era que a mulher não queria magoar os pais...

Pegou a rodovia, escutando uma música leve, apenas sentindo o ritmo envolvê-la, dançava levemente no ritmo da música, balançando para os lados. No começo, o casamento era mil maravilhas, Inu-Yasha era atencioso e amoroso, faziam amor a maioria das noites e às vezes durante o dia, sempre que podiam, saiam para jantar e passavam bastante tempo juntos, mesmo com os trabalhos atarefados eram apaixonados, porém após seis meses, tudo mudou. A sociedade estava finalmente fechada, 55% para os Higurashi, 45% para os Taisho. Naquele momento seu conto de fadas ruiu e seu amado esposo mostrou sua verdadeira face, o total desinteresse por ela e a fascinação pelo poder. Inu-Yasha não a amava, e sim o poder que seu nome lhe proporcionava, como todos os outros antes dele.

Kagome já estava esgotada daquela situação, onde apenas ela sofria, iria tomar uma providência quanto aquilo, não era obrigada a viver uma vida na base de mentiras, não era ela quem necessitava daquele casamento, daquele acordo, era ele. Inu-Yasha quem deveria tratá-la como rainha, não ela tratá-lo como um rei, não precisava se rastejar por ele, como vinha fazendo nos últimos meses, em busca de qualquer migalha que ele pudesse lhe dar para salvar a farsa desse casamento. Sentia falta do começo, quando ela achava que era real, quando tudo era mais simples.

Socou o volante enquanto sentia as lágrimas inundar seus olhos, o desgosto e a raiva falando mais alto, não iria chorar por ele, ela queria chorar por ter sido tola e ingênua, porque havia se entregado? Kagome sabia o porque, era para ser um casamento longo e duradouro como o de seus pais, e por este motivo tentou viver o amor que havia há muito esquecido, mas ainda assim, não era a mesma coisa. Estacionou em sua vaga de sempre, morava num apartamento de alta classe no centro de Tóquio, não queria morar no centro, mas seu amado marido havia lhe convencido, Inu-Yasha queria apenas mostrar que podia morar num lugar caro como aquele. Digitou a senha de seu andar e aguardou o elevador seguir até a cobertura.

A silenciosa casa a saudou quando a mesma entrou, nos últimos meses estava sendo assim, corriqueiramente apenas a casa e ela; naquela grande e amplo espaço. Colocou suas coisas em qualquer lugar e se sentou no sofá, independente de qualquer coisa com seu marido, ela possuía agora um problema maior para resolver, que nada tinha a ver com o mesmo, todavia como o faria? Pegou o teste de seu bolso, observando atentamente o resultado. 3 semanas. Estava grávida de três semanas… Jogou o teste ao seu lado no sofá deitando-se sobre o móvel de forma espalhafatosa, observando o teto de sua sala. Inu-Yasha não apareceria tão cedo tinha certeza, provavelmente apenas na segunda e olhe lá, porém amanhã teria um almoço com seus pais, do qual ele sabia e decidiu ignorar.

Estava na hora de ser dona de si, de tomar as rédeas de sua vida novamente, e ela o faria, ou não seria Kagome Higurashi.

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