Capítulo 2 • Alone

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Anne Shirley

  Eu me levantei e fomos até a cozinha para podermos jantar, já que eles haviam me acordado eu não iria perder a melhor parte da noite né?

  Gilbert sentou do meu lado e Diana e Josie na nossa frente, as duas me olharam e fizeram sinal para o garoto do meu lado. Eu fiz uma expressão confusa e ela fez o mesmo sinal.

  — Josie eu não sou advinha e não é porque você fez o mesmo sinal que eu vou entender. Então seria muito mais fácil se você usasse palavras. — Digo enquanto ela olha para mim e Diana esperando uma aprovação. — Pode falar.

  — Não vai contar a ele? — Ok, se eu soubesse que era sobre isso, eu diria que ela não poderia falar. Não era meu assunto favorito no momento, e Gilbert e eu estávamos tão bem assim. Por que eu precisava falar?

  — O que tem que me contar? — Gilbert me olhava preocupado, merda, por que ela foi falar? era exatamente esse olhar que eu estava tentando evitar desde o aeroporto. E eu conseguiria se não precisasse entrar nesse assunto. — Anne?

  — Nada Gilbert, depois eu falo. Não é nada muito importante. — Digo sorrindo e desviando meu olhar para meu prato. — Mas então, oque você faz da vida?

  — Quando eu estava em Avonlea, eu era psicólogo, aqui eu não sou nada ainda. — Então significa que o universo tá contra mim e ao mesmo tempo a favor é isso?

  — Que bom não é Anne? — Diana diz forçando um sorriso, aquilo já era suficiente. Qual a dificuldade de entender que eu não queria falar sobre aquilo?

  — Perdi a fome. - digo me levantando e voltando ao meu quarto, eu entrei, fechei e tranquei a porta para que ninguém me incomodasse.

  A última coisa que eu precisa era de pessoas me lembrando que eu preciso de cuidados. A cada vez que eu ouvia algo assim eu me sentia um pouco mais inútil, parece que sou incapaz de cuidar de mim mesma.

  As pessoas tem que viver ao meu redor para que eu não faça nenhuma merda com a minha vida? É isso?

  Senti meus olhos se encherem de lágrimas e na mesma hora ouvi uma batida na porta.

  — Anne? — Por que o Gilbert? Diana com certeza falou algo que o fez vir até aqui. Eu fui até a porta, a destranquei e abri enquanto com a outro mão eu secava uma lágrima que havia caído pelo meu rosto.

  — Oi. — Falo forçando o meu melhor sorriso, algo que nunca dá muito certo para mim contando que me meus amigos me conhecem demais.

  Gilbert entrou e meu quarto e foi em direção à minha cama enquanto eu fechei a porta logo indo junto a ele.

  — Se não quiser me contar oque está acontecendo, tudo bem, não precisa mas mesmo que não vá me contar eu vou ficar aqui com você. — Tudo oque ele dizia parecia tão lindo, mas minha mente dizia que ele só estava ali por que ele achava que se eu ficasse sozinha eu faria algo ruim.

  — Você está aqui porque acha que eu vou fazer alguma merda comigo mesmo e...

  — Ei! Eu estou aqui por que te amo, você é minha melhor amiga, a pessoa mais incrível que eu conheci desde a época do colegial, Anne. Me preocupo com você. — Gilbert me interrompeu dizendo tudo aquilo e fazendo uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Eu não conseguia dizer nada então apenas mostrei.

Gilbert Blythe

  Anne estava mal e isso era perceptível, mas eu não queria que ela me falasse se ela não se sentisse bem, apesar de eu me preocupar muito com ela.

  Ela não disse nada apenas puxou a manga da blusa e esticou o braço em minha direção. Eu senti meu coração apertar e ao mesmo tempo bater mais forte contra meu peito. Eu não conseguia pensar direito, apenas não... Não conseguia imaginar Anne numa situação assim, logo ela. Isso ainda estava acontecendo?

  — Anne... — Ela começou a chorar mais do que já estava e aquilo estava acabando comigo. — Está tudo bem Anne, eu estou aqui, e eu não vou sair.

  A puxo para mais perto enquanto a abraçava. A mesma colocou o rosto em meu peito e ficou ali em silêncio por segundos, até finalmente falar algo.

  — Gilbert, me desculpa, eu sou um lixo por não conseguir vencer isso. — Ela afastou um pouco a cabeça do meu peito, repousando ela em meu ombro.

  — Anne... — Digo fazendo ela olhar para mim. — Você é uma garota incrível, a garota mais linda que eu conheço, é aquela garota de algumas horas atrás que foi me buscar no aeroporto e que veio até em casa falando animada, aquela que sempre acha uma solução para tudo e que está disposta a virar o mundo de cabeça pra baixo para defender oque acredita.. Essa é a minha melhor amiga Anne, minha Anne com um "e"... — Digo levando minha mão até seu rosto e secando as lágrimas que corriam pela sua bochecha. — Nunca pense que você é menos que isso.

  — Gilbert, eu te amo tanto sabia?

  Eu vejo ela finalmente abrir um sorriso, aquele sorriso da pessoa que foi me buscar, que estava com saudades, isso me fez ficar tão bem que eu acabei sorrindo junto à ela.

  — Eu também te amo cenourinha. — Eu a abraço novamente.

  Eu nunca quis tanto ficar perto da Anne como eu queria agora. Não queria que ela pensasse que eu achava que ela faria alguma merda sem alguém do seu lado, eu queria que ela entendesse que eu me preocupava com ela e queria o seu melhor e por isso decidi ficar com ela.

  — Vou dormir aqui no seu quarto hoje. — Digo me levantando e indo até o meu pegar o colchão de solteiro da cama.

  — Ah, eu deixei? — Eu parei com o colchão na porta e a olhei como um cachorrinho sem dono, esse olhar já me proporcionou muitas coisas. – Tá bom, eu deixo.

  — Ótimo! — Abro um sorriso.

  Eu coloquei o colchão do lado de sua cama e sentei me escorando na parede, Anne se levantou e veio até mim sentando ao meu lado.

  — Muito obrigado. — Seu sorriso era lindo, era aquele sorriso que eu tinha sentido saudades, ela deitou a cabeça em meu ombro e ficou quieta por alguns segundos.

  — De nada. — Falo a olhando de canto. — Quer conversar sobre algo, ver um filme ou algo do tipo?

  — Vamos apenas conversar, sobre qualquer coisa, tenho tanta coisa pra te falar.

  E assim foi, falamos por um longo tempo, até eu perceber que Anne não estava mais me respondendo.

  — Ela dormiu — Falei para mim mesmo.

  A peguei no colo e a coloquei na cama, tentando não a acordar.

  — Boa noite ruivinha, durma bem. — Sussurro enquanto a cobria com uma coberta que estava no pé da cama e logo me deito no colchão. Esse seria um longo ano.

Última Carta ❀ ShirbetOnde histórias criam vida. Descubra agora