Capítulo 3

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Acordei suando frio, senti um arrepio na espinha e minha respiração estava desregulada, com os cabelos grudados no rosto por conta do suor. Onde eu estava? Para onde aqueles bandidos tinham me levado? Existiam muitas dúvidas que rondavam minha cabeça, eu não sabia onde estava e nem o motivo, mas tudo indicava que se eu me comportasse e se esperasse o momento certo eu conseguiria uma brecha para escapar. Reparei no lugar, estava em uma cama enorme que era bem macia. Era um quarto ornamentado no Japão medieval, porém suas cores eram de um branco com rosa pastel.

Uma pessoa anunciou sua chegada batendo na porta de madeira escura do quarto. Logo a figura de uma senhora adentrou no quarto com uma bandeja de chá e bolinhos. Ela tinha cabelos pretos mas brancos na raiz, parecia ser por conta da idade.

- Bom dia Sakura-chan. Trouxe seu café da manhã. - Ela era um pouco corcunda e rechonchuda, usava um quimono branco com um laço azul bebê e tinha uma voz rouca mas doce.

- Quem é você? - Perguntei de imediato, prometi me segurar para tentar pegar pistas mas não pude me segurar. Eu sairia daquele lugar com facilidade, porém estava tão curiosa que não aguentei esperar.

- Pode me chamar de Mei-san. - Ela deu um sorriso leve. - Não posso responder suas perguntas agora porque não sou eu quem deve respondê-las. Suas roupas estão naquela mesa à sua direita, se precisar de ajuda não exite em perguntar. Estaremos te esperando no salão principal. - Ela se levantou delicadamente e me deixou só no quarto.

O que estava acontecendo? Será que tinham me trazido lá para ser mulher de algum yakuza? ou eles queriam informações de Konoha e me pegaram para ser refém? Eram tantas dúvidas.. Tomei o café da manhã que Mei-san deixou para mim e coloquei a vestimenta. Era um quimono rosa bebê com um laço preto. Não tive muita dificuldade em vesti-lo já que usava um todo ano nas festas de primavera. Mas aquele quimono era diferente, ele era bordado e parecia ser muito bem desenhado, com certeza aqueles bandidos tinham muito dinheiro.

Sai do quarto atenta à tudo, eu estava dentro de um templo! As paredes eram iguais as do meu quarto e o chão era de uma madeira escura, parecia ser muito refinada. Pessoas passavam por mim com o mesmo tipo de roupa de Mei-san, provavelmente era seu uniforme de trabalho, tentei conversar com algum dos trabalhadores mas quando eles me viram eles abaixaram a cabeça, comprimentaram e se foram. Acabei chegando a uma conclusão.. eu não estava entendendo mais nada.

Continuei a andar e logo vi um salão enorme. Ele tinha desenhos de cerejeiras nas paredes e era todo decorado com pedras preciosas como prata e rubi. Fiquei embasbacada em como aquele lugar era lindo, tudo era tão cheio de detalhes tão peculiares mas ainda assim tão delicados..

- É bonito não é? - Me virei de imediato, não senti seu chakra se aproximar, ela estava a poucos centímetros de mim. Era uma senhora bem velha, seus cabelos eram brancos mas volumosos. Seus olhos eram de um castanho profundo e suas roupas ao contrário dos outros serventes, era um quimono vermelho com pedras douradas. - Me perdoe te assustar garotinha, parece que não sou tão bonita quanto era na minha juventude, agora deixe me ver o seu rosto. - Ele segurou o meu queixo e me analisou de um lado para o outro como se eu fosse uma mercadoria.

- Você tem os olhos da sua mãe e o nariz do seu pai. Mas o espírito, com certeza, não tenho dúvidas. Você é ela. - O que aquela velha tinha acabado de falar? Ela me conhecia? Se eles souberem quem são meus pais eu teria muita dificuldade em sair daqui.

- Por que me trouxeram até aqui? - Perguntei já sem paciência com os olhos da velha sobre mim.

- Acho que precisaremos sentar, gosta de chá senhorita Sakura? - A velha fez um gesto para segui-la, sentamos no chão de frente para uma mesa enorme com duas xícaras de chá.

- Eu.. já tomei. Obrigada. - A velha ficou um pouco surpresa.

- Não gostou do nosso chá? - Ela bebericou sua xícara.

- Não. É muito bom. Mas não sou acostumada a tomar muito. - Sorri de leve. - Então o que é tudo isto? - Perguntei de novo.

- Sakura eu realmente queria que não tivesse que ser desse jeito. Mas os acontecimentos nos levaram a isto, os deuses já estão de acordo. - Ela bebeu mais um pouco e eu continuava sem entender. - Este lugar que você está, pertence a uma grande família que tem fortes influência no comércio. Tudo aqui tem décadas e décadas de tradições e costumes, somos de uma linhagem sanguínea nobre.

- Eu desconheço sobre este lugar e essas tradições.- Digo com tédio na voz e pego a xícara de chá e elevo a minha boca, mas sem beber. Ela suspirou fundo e franziu o cenho. Parecia estar fazendo muita força para pensar.

- Existem coisas que nem eu serei capaz de te responder jovem, mas tudo que você precisa saber hoje, é que tudo isso ao seu redor lhe pertence, esta casa, estas roupas e essa vila, você faz parte deste lugar tanto quanto o lugar faz parte de você.- ela diz calmamente mas com seriedade.

Olhei profundamente em seus olhos buscando alguma ironia ou graça mas acabei não encontrando nada. Ela estava me gozando? Nada daquilo fazia sentido. Estava nervosa com toda aquela situação e só queria voltar para minha casa e tomar um banho quente.

- Como se eu nunca nem pisei meus pés aqui? A senhora se confundiu e muito.- Largo a xícara e me levanto irritada. Nada disso fazia sentido, minha vida estava nos eixos, me esforcei tanto para ter tudo o que tenho hoje e do dia pra noite essa velha acha que pode dizer onde é meu lugar. Me virei para ela antes de sair. -Olha aqui, eu NUNCA vi você e nem este lugar, e muito menos quero fazer parte dele, quero que me levem para Konoha que é onde é o meu lugar.

- Eu entendo a sua raiva mas infelizmente eu não tenho este poder, já havia sido decidido desde antes do seu nascimento o seu destino e cabe a você aceitar.- Ela diz fazendo pouco caso a minha raiva, eu estou irritadíssima a ponto de ter um surto, não vou aceitar coisa nenhuma oras, decidido? eu quem decido o meu destino.

- Vamos caminhar um pouco Sakura, você precisa conhecer o clã Hana. Venha comigo.- Ela diz se levantando deixando a sua xícara de chá vazia sobre a mesa. Ela sai do salão e eu a sigo em silêncio para saber até onde esta história iria, passamos para fora do salão e daquele enorme templo que era o lugar onde eu havia sido levada. Fora do templo haviam casas simples que pareciam ser antigas mas eram muito bonitas, os comércios pequenos e também simples, os artistas de rua ganhando seu dinheiro do dia e as crianças correndo, tudo era simples e encantador, pareciam ser felizes e sem preocupações. Andamos por um tempo pela pequena vila, as pessoas pareciam realmente me conhecer, e a impressão começou a deixar de ser impressão, eu estava muito confusa mas permaneci quieta. No fim da nossa caminhada pela vila, eu pude ver quando estávamos voltando para o templo onde eu estava que, bem próximo ao templo havia uma montanha e estávamos indo rumo a esta montanha.

Depois de toda aquela volta pelo vilarejo percebi que a maioria das pessoas da vila tinham cabelos puxado para o tão róseo ou preto, era estranho aquilo. Na academia sempre fui alvo de piadas das outras crianças por conta do meu cabelo, se eu crescesse em um lugar como aquele, talvez minha infância fosse diferente.

Eu e a senhora continuamos nossa caminhada sem dizer uma única palavra, atravessamos a montanha e logo após ela, eu consegui enxergar um bosque. Era perfeito, todo aquele lugar parecia ter vindo de um conto de fadas. Aquele lugar parecia ter vida de tanta personalidade que tinha, as folhas das árvores assobiavam com o vento soprando nela, pareciam até que estavam conversando perguntando "quem são aquelas pessoas que estavam se aproximando?" Já o lago era encantador, translúcido, dava até para ver as pedrinhas no fundo daquela água.. os peixes eram esbeltos, sim, nunca achei que iria dizer isso, mas até os peixes eram belos, de um modo singular eles nadavam em círculos por aquele lago. Entretanto, o que mais me chamara a atenção era ver aquela cerejeira. Era a cerejeira mais linda que eu vi em toda a minha vida, se aquele lugar parecia ter vida, aquela cerejeira era o coração do bosque. Mesmo não sendo sua época, ela continuara estonteante. Gostaria de vê-la na primavera, poderiam fazer um festival inteiro só com aquela cerejeira.

De súbito, não senti as lágrimas escorrerem do meu rosto quando me aproximei mais da árvore. 

Akai ito: Destinado a te encontrarOnde histórias criam vida. Descubra agora