capitulo *4*

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Após a notícia a casa ficou num absoluto silêncio. Nenhuma reação. Nenhum dos pulinhos de alegria que Jhon, no seu devaneio de otimismo, esperava receber com a notícia.
Nada.

Por varios minutos só se ouvia o estalar e o ranger da própria casa, que naquele momento se faziam ainda mais audíveis.

A casa da família Thompson já foi palco de incontáveis momentos de felicidade.
Quando Jhon e Marta se casaram eram dois "pombinhos" descobrindo o amor. A casa recém comprada (na época bem menor do que seu tamanho atual) era pouco mobiliada, possuíam apenas o essencial para se começar a vida. Alguns móveis a maioria já usados, ganhados, comprados em topa tudo ou vendas de garagem.

Na sala uma TV de 14 polegadas que apesar da antena em cima só pegavam 3 canais, um sofá pequeno que quase não era usado já que toda às vezes que sentavam para ver TV Jhon se sentava em sua "poltrona do cara", (era assim que ele a chamava), e logo Marta vinha e sentava em seu colo ou se espremia ao seu lado na poltrona, não era nada confortável pra nenhum dos dois, mas mesmo assim eles não abriam mão daquele momento juntos.

Jhon ainda tinha aquela poltrona. Hoje velha e surrada já não era mais chamada de "poltrona do cara", ele e Marta não se espremiam mais nela, não a usavam mais como cenário de sua cenas mais íntimas de amor, já não a usavam mais para quase nada, porém ela continuava lá.

E era para ela que Jhon estava olhando perdido em seu mundo quando foi interrompido...

_Mudar, mais porque? _ questionou Beatrice largando o garfo sobre o prato.

_Porque sim Bia. As despesas dessa casa são altas. Você sabe que não tenho conseguido trabalho e está difícil manter nossa vida aqui.

O silencio sepulcral reina novamente, Marta da uma garfada na macarronada, acompanhando com o canto dos olhos as expressões de seu marido e filha, uma nuvem de tenção paira sobre a mesa de jantar.

_ Eu recebi uma proposta de emprego em outra cidade_ Recomeça Jhon, agora com um tom mais ameno _Seu tio Jack conversou com um amigo que é supervisor de uma clínica psiquiátrica. Vamos poder recomeçar Beatrice. Vai ser bom pra todo mundo.

_Mais pai, aonde vamos morar? O senhor vai vender a casa e nós vamos pra onde?

_Esse final de semana pretendo ir a Red River, vou conversar com Thomas, o tal amigo do seu tio, e ver a vaga. Se tudo correr bem é pra lá que nos mudaremos.

_ Red River? Eu nem sei onde fica isso?_ tenta argumentar Beatrice.

_Fica a alguns quilômetros daqui. Mais ou menos uma hora e meio de carro, não é tão longe. É uma cidadezinha bem parecida com a nossa. Cidade pequena, povo acolhedor igual aqui mesmo. Você vai gostar.
Jhon ajeita os óculos e prossegue
_Com a vantagem de que os imóveis lá são bem mais baratos e tem esse hospital psiquiátrico no qual pretendo trabalhar.

Nesse momento Beatrice já está de cabeça baixa tentando terminar o seu jantar. A comida entra pela sua boca e forma um nó na sua garganta. Bia força para que a comida termine seu percurso.
Nunca foi tão difícil digerir uma simples macarronada, porém o que estava realmente difícil de digerir era a noticia do pai.

"E meus amigos? E minha escola? Como vou fazer nessa cidade sem conhecer ninguem". Esses pensamentos se embaralhavam na cabeça de Bia, que permanecia calada, pensando na melhor forma de expressar todas essas emoções sem parecer uma adolescente birrenta.

Beatrice havia aprendido na prática o que é ter um pai que analiza clinicamente todos os seus "pitis" adolescentes.
Formulou uma frase da melhor forma que pode para tentar seu argumento final.

_Mas pai o senhor vai tirar eu e Duda da escola, logo no final do ano letivo. Não tem outra forma de resolver? Sei lá, pegar um dinheiro emprestado no banco. Essas coisas que gente com dívida faz.

Foi a gota para que Jhon explodisse em um acesso de raiva.

_ Não tem não Beatrice! Mesmo se eu pegar dinheiro no banco vou pagar com o que? Ein?
Me responde? Você não entendeu que eu não tenho conseguido trabalho? Que estamos a nenhum? O único motivo de ainda não estarmos passando fome era a ninharia que tinha na poupança, e até essa também já acabou.

_Jhon_ intercedeu Marta_ Talvez dê para esperar o ano letivo acabar, assim as meninas podem terminar a escola e enquanto isso você vai na frente e prepara o lugar pra nós.

_Como assim ir na frente mulher?

Marta continuou....
_Ir na frente Jhon, procurar uma imobiliária olhar umas casas em um bairro bacana, que tenha escola pras meninas, essas coisas. Você pode ir primeiro e fechar o negócio da casa nos vamos quando tiver tudo resolvido.

_Talvez dê certo assim....
Jhon responde com um olhar perdido. Até o momento não havia se dado conta de todo o trabalho que aquela mudança implicaria em suas vidas, mas também não via outra alternativa para sua vida fracassada.

_Depois nós resolvemos os detalhes Marta._virou sua cabeça em direção a Bia _ Assim fica bom pra você Beatrice?

Bia assentiu com a cabeça, mas não com o coração. Não havia nada mais que pudesse ser discutido, argumentado ou falado. O futuro da família já havia sido decidido.

No fundo da mente de Jhon só ecoava uma frase repetidas e repetidas vezes.
Tomara que tenha sido a decisão certa!

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