Verdades de Concorrência

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Ao sair da escola vou direto para a loja, quero ver como ficou o estrago e se tem com salvar alguma coisa, ao chegar vejo que realmente destruíram tudo, as roupas, rasgaram todas, de forma que não tem como arrumar, é só lixo ou então criar uma moda de roupas em farrapos, minha garganta chega a doer de tanta vontade de chorar, como alguém consegue fazer uma maldade dessas? Como que alguém consegue ser tão ruim a esse ponto? Vejo que faltam bem poucas roupas, foram levadas cerca de 4 peças por modelo, de uma coleção de 15 modelos, por sorte os dois últimos ainda não estavam prontos, meus pais falaram para eu ir aprontando o que faltava e que eles iam dar um jeito de resolver as coisas, disse para eles que não iria fazer mais nada, não quero que eles gastem mais dinheiro ou se endividem para um propósito falido.

Depois de arrumar e jogar quase tudo fora, volto para casa, vou para meu quarto e passo o dia a escutar musica e ler, quando já está anoitecendo vejo a porta do quarto se abrindo e a cabeça de Lari aparece.

- O que foi Lari?

- Será que você pode vir aqui fora comigo? Por favor?

Me levanto e a acompanho, ao chegar na sala vejo vários rolos de tecido, parecidos com os que eu tinha comprado, olho tudo admirada e confusa.

- Não tinha mais os tecidos que você tinha comprado, então escolhi uns parecidos.

- Mas como?

- Nós tínhamos umas economias no banco.

Escuto a voz da mãe da Lari e os vejo do outro lado da sala.

- Não posso aceitar!

- Não só pode como vai, Ale todos nós confiamos em você, sabemos que essa ideia pode dar certo, e ta na hora de você também começar a confiar em si mesma e não deixar alguns "contra- tempos" te atrapalharem.

Realmente, todos aqui nessa sala acreditam em mim, porque eu não? Acho que os acontecimentos do passado me deixaram insegura. Mas como dizem, quem vive de passado é museu, eu tenho que viver do presente e do futuro e no momento meu presente é com pessoas que confiam, acreditam e me amam, então, também tenho que fazer por onde sentir tudo isso por mim mesma, e é o que vou fazer, meus lábios se abrem em um sorriso enorme.

- Muito obrigada a todos vocês!! Não sei como agradecer.

- Só não desista dos seus sonhos.

Escuto o pai da Lari falar, vou até eles e os abraço, vou até meus pais e faço o mesmo, quando chego na Lari ela se afasta, a olho curiosa.

- Não, não, se me abraçar vou chorar.

- Aaaah, mas vou te abraçar sim, se não fosse você aparecer e falar aquele dia comigo nada disso teria acontecido!

A puxo em um abraço bem apertado.

- Amanhã voltamos aos trabalhos, então descanse bem essa noite mamãe, amanhã temos que adiantar o máximo possível essas costuras!

Todos rimos, os pais da Lari vão embora, hoje ela pediu para dormir comigo e seus pais deixaram, então fomos jantar para assistir um pouco de tv antes de dormir.

~~~

Sou acordada pela Lari me cutucando.

- O que foi? Ainda ta cedo.

- Não amiga, já tá na hora, temos que nos arrumar, hoje não iremos a escola, vamos ao desfile, não podemos perder por nada!

Lembro do desfile da loja dos Sanches, me levanto e começo a me arrumar, meus sentidos estão em alerta, como se quisessem me dizer alguma coisa, meus pais também vão, os encontro sentado à mesa tomando café, comemos e fomos ao local, sentamos em uma das primeiras fileiras, quero ver bem de perto, o lugar começou a encher, ainda não entendi o porque que eles colocaram esse desfile tão cedo, mas ok. Depois de uma hora de espera o desfile começa e mal posso acreditar em meus olhos, olho para Lari e meus pais e estão com a mesma expressão de espanto e descrença. Eram os meus modelos, então nossa suspeitas se confirmaram, realmente foram eles, e acho que agora entendi o porque de ser cedo, não era para eu estar aqui, e sim na escola, assim eles iriam fazer o desfile e eu só iria descobrir quando as peças estivessem a venda, mas acho que a idiota da bianca não conseguiu esperar, com a vontade de implicar e me humilhar não conseguiu guardar esse segredo, meu pai começou a tirar foto de todas as modelos que desfilavam, não entendi pra que as fotos, afinal eu tinha os desenhos dos modelos em casa, não tinha necessidade das fotos. Ao irmos para casa fomos o caminho todo em silêncio, eu presa em meus pensamentos, Lari ao meu lado sempre olhando meu rosto, ao chegar em casa não aguentei mais e explodi.

- Não posso acreditar que ela realmente foi capaz de uma coisa dessas!!!

- É a Bianca, esperava o quê? Sabe que ela é uma cobra trapaceira!

- Ela eu sei, mas seus pais seguirem suas vontades ou conselhos? Eles são bem piores que ela, eles já tinham o espaço plus size, todos já compravam lá, porque eles acharam que eu era uma ameaça?

- Porque ninguém jamais gostou das roupas dessa categoria que eles colocavam na loja, todos reclamavam que era de muito mal gosto, ouvi até o senhor Sanches falando com a esposa de que essa ala estava falida, que as pessoas dessa categoria preferiam comprar roupas nas cidades vizinhas ao invés de ir neles.

Olho para meu pai prestando atenção no que falava.

- Creio que quando a filha chegou falando que iam abrir uma loja só dessa categoria na cidade, eles se sentiram ameaçados, pois aqui têm muitas pessoas acima do peso, e saber que era uma estilista da cidade, que conhece os gostos das pessoas, eles sabiam que seria uma concorrência muito forte, e ainda saber que era a filha de um de seus funcionários, ele jamais iriam querer passar por essa humilhação.

Vejo pela primeira vez meu pai derrotado, se sentindo culpado pelo que aconteceu.

- Eles vieram me interrogar uns dias atrás, como fui idiota!! Como não percebi! Vieram me perguntar de você, disseram que receberam um panfleto da loja e que ficaram curiosos, e que gostariam de dar apoio, jamais pensei que eles seriam capaz de fazer isso.

- Pai isso não é culpa sua, não tínhamos como saber que eles iriam fazer isso. Mas vamos nos reerguer, vou fazer novos modelos agora mesmo, irei pensar em peças muito melhores que aquelas, eles podem ficar com aqueles modelos, não me importo.

- Não!! Não podemos deixar, pois se não, irão fazer de novo!

- Seu pai está certo minha filha, se não fizermos nada, está capaz deles fazerem de novo. Afinal você está começando agora e não é conhecida, então não terá repercussão, mas se os colocarmos na justiça vão pensar vinte vezes antes de fazer isso de novo com alguém.

- Isso! E o bom é que temos todas as provas que precisamos, seus desenhos, o cartão que a Lari fez com suas fotos vestindo os modelos e as fotos do desfile.

Agora entendi porque ele tirou aquelas fotos, ele desde aquela hora já tinha pensado nisso.

- Ok, concordo com a ideia de vocês, pai faça do jeito que achar melhor, confio totalmente em você.

Os abraço e viro para Lari.

- Por favor amiga, o ajude com isso, ele vai precisar de um apoio com esse assunto.

Ela acena com a cabeça.

- Agora me deem licença, vou precisar começar o mais rápido possível a criar novos designs, se não, não terei nada para apresentar na inauguração da loja.

- Ok minha filha, enquanto você cria outros, vou costurando os que a gente já tem.

Me despeço de todos e vou para meu quarto, quero que até o final do dia eu já tenha todos os modelos. Lembro que tenho uns desenhos guardados de uns modelos que eu tinha pensado, decido dar uma olhada, encontro dois modelos que dá para fazer, só fiz algumas alterações e pronto, já tenho quatro modelos de quinze (contando com os dois que ainda estamos costurando).

Quatro horas depois e só consegui criar dois modelos, acho que o que rolou hoje cedo me abalou e me deu um bloqueio criativo, mas não posso deixar isso acontecer!!! Necessito desses modelos novos!! Para ontem!! Escuto a campainha tocar e me irrito mais ainda, quem diabos pode ser!!! Assim não dá para me concentrar!!! Escuto minha mãe me chamando e me irrito em dobro, o que será que aconteceu? Quem pode ser??? Ao chegar na sala vejo duas mulheres sentadas no sofá.

- Olá, quem são vocês?

julgada pela capaOnde histórias criam vida. Descubra agora