Capítulo 6

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Boa leitura🐍

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{Narrado por Shawn}

— Está atrasado. 

Olhei para o relógio. 

— É só meio-dia e três. O quatrocentos e cinco teve um problema. 

Fanny apontou o dedo torto de artrite para mim. 

— Não vai trazê-lo de volta tarde só porque não conseguiu chegar aqui na hora. 

Mordi a língua, engolindo o que realmente queria dizer e trocando por:

— Sim, senhora. 

Ela me olhou desconfiada, sem saber se minha resposta era condescendente ou se eu estava de fato me comportando de maneira respeitosa. Mas a segunda opção era impossível, porque é preciso ter respeito por uma pessoa para poder demonstrá-lo. 

Ficamos na varanda da casinha onde ela morava, olhando um para o outro. Olhei para a janela, mas a persiana estava fechada. 

— Ele está pronto? 

A mulher estendeu a mão aberta. Eu devia ter percebido qual era o empecilho. Enfiei a mão no bolso da calça jeans e peguei o cheque, o mesmo valor que pagava todo primeiro sábado do mês há oito anos para poder passar um tempo com meu afilhado. 

Ela examinou o cheque como se eu pudesse tentar algum tipo de golpe, depois o guardou no sutiã. Meus olhos ardiam por ter visto acidentalmente uma porção de colo enrugado. 

Ela se afastou para o lado. 

— Está no quarto dele, de castigo a manhã toda por ter a boca tão suja. Acho bom que não tenha aprendido esse vocabulário com você. 

É. É bem capaz que tenha sido isso. São as cinco horas por semana comigo que estragam o garoto. Não é o bêbado do seu quarto ou quinto marido – perdi as contas – caipira que grita cala a porra da boca pelo menos duas vezes durante os cinco minutos quepasso aqui, quando venho buscar e trazer o menino. 

Os olhos de Lucca brilharam quando abri a porta do quarto. 

Ele pulou da cama. 

— Shawn! Você veio! 

— É claro que vim. Eu não perderia nosso encontro. Você sabe disso. 

— Vovó falou que você podia não querer mais ficar comigo, porque eu sou podre. 

Isso fez meu sangue ferver. Ela não tinha o direito de usar minhas visitas como tática para amedrontar o garoto. 

Sentei-me em sua cama para poder encará-lo. 

— Em primeiro lugar, você não é podre. Em segundo, nunca vou deixar de visitá-lo. Por qualquer motivo que seja. 

Ele abaixou a cabeça. 

— Lucca? 

Esperei até ele olhar para mim de novo. 

— Nunca. Ok, parceiro? 

Ele assentiu, mas eu não tinha certeza de que acreditava em mim. 

— Vamos nessa. Vamos sair daqui. Temos um dia lindo pela frente. Isso iluminou os olhos dele. 

— Espere aí. Preciso fazer uma coisa. 

Ele enfiou a mão embaixo do travesseiro, pegou alguns livros e abriu a mochila. Pensei que estivesse guardando o material da escola, até ver a capa do livro no topo da pilha na mão dele. 

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