Cap. 5

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   Assim como as estações continuavam a passar e mudar, assim também era com Marie. Suas roupas eram apertadas e não mais lhe cabiam. Um poncho foi improvisado, feito inteiramente com trançados de palha, quase como faziam-se as cestas, e precisaram reaprender muitas coisas quanto a rotina.

  Inocente com apenas quatorze anos sua mocidade floresceu. Uma maldição certamente recaíra sobre si! Como poderia estar sangrando tanto daquele jeito e continuar viva? Pior ainda se tornava o medo de Grum pela morte da moça. Nunca havia visto algo assim... apenas partos, mas seu ventre não estava inchado então não poderia ser um filhote. A única coisa que poderiam fazer seria tentar estancá-lo. Tecidos de algodão pareciam melhorar a situação, mas então dores tão agudas chegavam. Como se fosse uma doença em todos os meses, a qual não poderiam tratar porque retornaria inevitavelmente, e escolheram então apenas viver com isto de uma maneira que possa continuar fazendo o que quiser nestes períodos.

   Além de tantas mudanças, seus sentimentos começaram a embaralhar-se. Havia tempos em que estava feliz, e repentinamente mudava de humor. Também involuntariamente sentia amor. Não o amor carinhoso de uma família, mas um amor onde apenas duas pessoas poderiam estar. Um amor que ansiava ao ver alguém que a atraía desta forma. Não sabia bem discernir suas diferenças, mas sabia que existiam.

   Já aos 16 anos, Marie percebeu que sentia amor por Grum. Talvez fosse o tipo de amor que descobrira! Mas não sabia o que deveria fazer para senti-lo em um momento.

   Punha-se a pensar, e fez lembrar suas memórias da antiga vida nas cidades. Para ganhar algum dinheiro muitas vezes vendia rosas, que eram compradas por jovens apaixonados, que as ofereciam para suas amadas. - Talvez seja assim que funcione! - ponderou.

   O dia amanheceu mais belo que o normal. Sentia-se boba, sabendo que o dia seria especial e então poderia sentir seu amor. E prestou atenção em cada som, planta e animal que vira em seu caminho, admirando suas belezas em meio da grande satisfação que sentia.

   Escolheu dentre as flores mais belas , a mais perfeita para entregar ao sátiro que amava. Relembrou-se do que falaria muitas vezes, sem parar, e não poderia ter erros.

 Encontrou na beira do riacho enquanto tocava sua flauta de sons miraculosos, e se aproximou, com a flor sendo pressionada ao seu peito. Quando Grum a viu percebeu que algo estava diferente. Seu semblante brilhava como o sol da tarde que iria despedir-se em alguns momentos.

   -Esta flor é para ti - fala, sem conseguir arrancar o próprio sorriso, que teimava em continuar em seu rosto 

   -Obrigado. - olhou-a duvidoso - mas por quê este presente agora?

   -Porque amo-te. Não entendo muito bem o que sinto por ti, mas sei que é muito especial, e sei que é amor.

   Quando ouviu aquela resposta arregalou os olhos, espantado. Nunca pensaria que pudesse chegar a tal ponto... e ela realmente tinha mudanças muito radicais para seu limitado conhecimento. Mas lembrava quando ele mesmo era jovem, e comportava-se do mesmo jeito. Lembra-se de seu romance com uma ninfa que simplesmente acabara de conhecer, mas com uma beleza excepcional e aparentemente diferente de todas as outras. Enquanto memorava o passado fitava um ponto fixo nas águas fluentes, pouco abaixo de suas visões.

   -Entendo-lhe neste momento, mas terei de dizer a verdade a ti. - Volta á ela, olhando-a - Também fui jovem e senti as mesmas coisas. O florescimento de sua maturidade já acontece e estamos todos confusos. Contudo quero lhe mostrar que isto pode cegar-te.

   A expressão da moça mudou completamente, e agora via-se recurvada sem conseguir mirar o rosto dele. Percebendo isso segurou seu queixo, levantando o rosto para que olhasse

   -Quando resgatei a ti, pensei que se tornaria um ser assim como os outros animais. Porém tem me dado mais trabalho que o normal - a descontração do momento conseguiu arrancar uma pequena risada da menina - Agora lhe vejo não apenas como alguém que faz parte da minha família, mas ainda mais próxima como se fosses minha irmã de coração, a qual devo cuidar como se minha própria vida se tornasse a tua. Podes entender agora? 

   - hm. - murmurou, querendo afirmar a pergunta sem precisar dizer algo a mais.

  -Não te tornes furiosa por causa disto... Um dia encontrarás teu verdadeiro amado e sentirá o amor de que falas tão radiante - Levanta-se e a abraça tentando reconfortá-la

  -Não poderei sentir raiva de ti em nenhum momento de minha vida.

  E ficaram admirando a paisagem, enquanto ele continuava a tocar sua flauta, fazendo com que um pouco de felicidade e ânimo chegasse a pobe garota, um pouco abalada mesmo entendendo suas ações.

    

    

  

   

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⏰ Última atualização: Apr 26, 2020 ⏰

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As crônicas de Grum - TesteOnde histórias criam vida. Descubra agora