Marissol pulou bem cedo da cama e abriu a janela. Não estava chovendo, mas o tempo continuava feio e encoberto. Ela reparou no telhado do galinheiro, coberto por um tapete cor de fogo; as flores-de-são-joão, que também faziam uma cortina cobrindo uma parede lateral. Que beleza! Tudo parecia tão bonito e calmo naquela manhã que ela sentiu estar gostando da fazenda. Como se vivesse ali havia muito tempo. Como Verônica...
Depois do café, ela e Mário saíram com jeito de quem não quer nada, mas, por azar, parecia que seu Fumiko tinha adivinhado os planos dos dois, pois ficou nas vizinhanças da casa a manhã inteira!
- Será que dona Tomoe piorou? - perguntou Marissol ao amigo.
- Se piorou, por que ele não pede ajuda para o pessoal lá de casa?
- Não sei! Parece que ele não gosta de falar da doença da esposa..
Então, eles voltaram para dentro, porque começou a garoar. Mal comeram durante o almoço, tão pensativos estavam. Mergulhão, como sempre, falava por quantas juntas tinha; nos intervalos, devorou uma terrina de feijão e acabou com a sobremesa. Eliete ficava horrorizada só de pensar que podia caber tanta comida no estômago daquele homem.
Depois do almoço, Mário e Marissol ficaram de tocaia com o binóculo voltado para a casa do seu Fumiko. Quando a menina já estava quase dormindo de tanta monotomia, Mário, que estava observando, assanhou-se todo:
- Vamos, Marissol! Seu Fumiko acaba de sair a cavalo.
- Reparou se ele levou os cachorros? Tem um, o Alex, que é muito bravo, e avança em todo o mundo.
- Levou, sim.
Saíram ás escondidas, cuidadosamente, olhando para todos os lados, temendo que a saída de seu Fumiko pudesse ser um truque. Mário, porém, acompanhou a partida dele, sempre com um binóculo em punho. De repente, estremeceu:
- Marissol, dê uma olhadinha no que seu Fumiko está fazendo!
A menina pegou o binóculo e ajustou as lentes diante dos olhos. Atrapalhada, viu que, ajudado por dois homens que haviam surgido não se sabe de onde, seu Fumiko estava... destruindo o resto da velha ponte de madeira!
Mário, o que é isso? - perguntou, abobalhada.
- Cada vez estou entendendo menos! - respondeu o menino, encolhendo os ombros.
Em seguida, aproximaram-se da casa de seu Fumiko. Aparentemente, estava toda fechada e silenciosa. Lá dentro, dona Tomoe devia estar trancada em um dos quartos. Passarinhos esvoaçavam nas árvores próximas, tranquilamente. Patos e marrecos davam risadas - quac-quac-quac - como se fossem donos de tudo.
- Vamos logo, antes que ele volte! - insistiu Marissol.
Mário pendurou o binóculo no pescoço e segurou firmemente a misteriosa caixa vermelha da qual parecia não querer se separar. Depois, os dois amigos separaram-se, conforme os planos. Mário foi para a porta da frente, onde ficaria de prontidão para fazer algum barulho caso alguém a abrisse depois que ele batesse. Enquanto isso, Marissol se dirigia para os fundos, porque a missão dela era entrar na casa enquanto o menino distraía a atenção de quem estivesse lá dentro... se é que lá dentro tinha alguém.
A porta da cozinha estava trancada, mas as janelas mostravam apenas as vidraças descidas. '' Seu Fumiko é sabido! '', pensou Marissol. ''Fechar a casa inteira despertaria suspeitas... Ou será que não está fechada porque dona Tomoe não gosta do escuro? Preciso redobrar os cuidados!''
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O príncipe fantasma - Ganymédes José/Teresa Noronha
Mystery / Thriller-Dizem por aí que, todas as tardes, seu Isaltino volta ao casarão para tomar o cafézinho... -Impossível! Um fantasma no casarão? Alguém já o viu? -Ninguém viu nem quer ver.Mas muitos já ouviram os passos dele...o assobio...até os latidos de Astor,o...