Capítulo 1 - Numa bela tarde de sol

1.7K 25 3
                                    

-Marissol! Vamos que já estamos atrasados, menina!
    Jovem, de calça e blusa de algodão, e cabelos curtos que o vento despenteava, Eliete chamava a filha.Fazia um calor incrível.
   Élvio Alvarado - o pai - era um sujeito alto, magro, até meio desengonçado . Agrônomo, tinha uma grande paixão por terras, gado e plantações. Loiraço de cabelo crespo, o rosto era sargento porque vivia constantemente debaixo do sol.
   Entrando na perua , bateu a porta.
    -Eliete, essa menina vem ou não vem?
  - Marissol! -voltou a chamar a mãe,irritada. -Se você demorar mais um minuto , ficará aí!
  -Não, mãe , já estou indo! -respondeu uma voz, dentro da casa.
    Dali a pouco, Marissol apareceu e foi saltando, de dois em dois e três em três , os degraus do alpendre. Entrou na perua como um foguete e bateu a porta.
   -Pronto,família imperial, podemos ir!
  Loirinha,olhos de um castanho esverdeado, Marissol fazia covinhas quando sorria. Ela adorava cantar, dançar, nadar e ler.O quarto dela era pior do que uma bibliodiscoteca porque tinha livros misturados com discos do piso ao teto. Dentre os livros, preferia as histórias de aventura, de amor, policiais com suspense e...histórias engraçadas.             A perua saiu pelas ruas de trás e tomou o rumo da fazenda. Lá longe , umas pequenas nuvens escuras boiavam solitárias no céu.
   Eliete ligou o rádio. Marissol perguntou:
  -A fazenda Santa Odila fuça muito longe , púpi?
  -Umas duas horas.
  -Nossa!
   O pai indiretou o chapéu.
-Nòs vamos mesmo mudar para lá?
   Com o rabo dos olhos , Élvio olhou para a esposa.
-Depende da mùmi. Por mim , você sabe que eu mudaria. Mas e ela? Pergunte diretamente.
  -Depende da escola - respondeu Eliete, antes que a filha perguntasse. -Se houver uma boa escola por perto, se houver possibilidade de você ir e voltar todos os dias , se não houver perigo, tudo bem.
  -Chê, já estou vendo que jamais compraremos essa fazenda! -declarou a menina fazendo uma careta. - A Mulher dos "Ses" ataca novamente!
   -Nem sei se será uma boa irmos passar uns dias na fazenda agora - continuou Eliete, fingindo não ter ouvido. - O noticiário da televisão informa que vão emendar dias de chuva.
  -Com esse sol?-e Élvio riu. -Nem por milagre! Ás vezes eles erram. Serão dias maravilhosamente ensolarados , vai ver só.
  -Veremos.
  -Você deveria ter trazido a Genô para ajudar na cozinha, isso sim- emendou o marido.
-A Genô? Você não sabe que ela nasceu e cresceu no sítio? Disse que não passeia em fazendas nem morta. Por isso, querido, se você resolver mesmo comprar a Santa Odila, pode ir , desde já, providenciando outra empregada.
  -Bem , as férias mal começaram-retrucou Élvio. -Isso quer dizer que nós vamos ter o tempo que quisermos para tentar nos acostumar na fazenda...se gostarmos dela. Depois é que resolveremos se a compramos ou não.
  -Pùpi, tem rio lá? -quis saber Marissol, toda assanhada.
  -Tem , mas é fundo, perigoso, e você está proibida de nadar! -declarou Eliete.
-Falou a polícia feminina! -resmungou Marissol, emburrando.
-Sua mãe tem razão , filha- ajuntou o pai. - ! Ouvi dizer que já morreu muita gente naquele rio.
   Marissol não abriu a boca . simplesmente encolheu os ombros como se dissesse que não tinha nada com isso.
   A perua correu pela estrada de asfalto e, a certa altura, embicou por uma estrada de terra vermelha que deixava um poeirão para trás. Flores-de-são-joão se abriam aqui e ali, agarradas aos arbustos e oferecendo um belíssimo espetáculo alaranjado. A estrada serpenteva pela frente. Agora apareciam ligeiros morros arredondados. Depois, passaram por uma ponte de madeira roliça, e a perua produziu um ruído chocho. Pouco mais adiante, viram vestígios de construções que o pai explicou ser uma antiga ponte de cimento. Havia outras ruínas pelas imediações. O ar por ali era diferente , dava uma idéia de desolação e declínio.
-Que sensação esquisita! -murmurou Eliete, sentindo um arrepio.
-Vai passar quando você vir a casa da fazenda - respondeu Élvio. - Aquilo nem é casa, é um verdadeiro palácio de contos de fada.                                   

O príncipe fantasma - Ganymédes José/Teresa NoronhaOnde histórias criam vida. Descubra agora