Na manhã seguinte acordei com o barulho ensurdecedor do despertador. Naquela altura do campeonato, ainda embriagada pelo sono, perguntei-me porque alguém ainda usava um alarme de cabeceira. Tateei o objeto sobre o criado-mudo e desliguei ao encontrá-lo. Virei-me de barriga para cima na cama e me espreguicei ouvindo alguns estalos que a idade me trouxe, já dizia minha mãe.Arrastei-me pelo quarto de paredes brancas ignorando as lamúrias da minha cama que me chamava de volta, era uma tentação que eu estava vencendo todas as manhãs.
Ok. Nem tantas — pensei enquanto fechava a porta do banheiro.
Após aliviar-me de uma noite inteira – ou nem tão inteira assim – segui para o banho ainda enrolada em preguiça. Liguei o chuveiro sentindo os primeiros toques da água em minha pele que logo arrepiou-se, mas aos poucos se acostumava com a temperatura morna e o sono se dissipava ralo abaixo. Meus olhos ainda pesavam devido a noite mal dormida e o sentimento de angústia e fracasso tomou meu peito mais uma vez.
Depois do sucesso de Folhas de Outono, a editora me procurou solicitando um novo lançamento que eu não tinha e a busca incessante por algo tão bom quanto, me fez cair no poço do bloqueio criativo e por mais que eu desse o meu melhor nada era suficiente para me tirar daquele buraco em que eu me encontrava.
Desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha, meus neurônios gritavam tentando reaver algo em minha mente que me fizesse voltar a ativa, aquilo fazia minha alma minguar. Caminhei até o guarda-roupa e sem pressa retirei dois cabides, senti minha respiração descompassar. Estava esgotada. Fisicamente e mentalmente, emocionalmente eu já nem contava mais. Tinha me tornado uma pedra fria e reclusa.
Vesti a calça social preta e uma camisa branca de botões, retirei o excesso da água dos cabelos com a toalha e penteei os fios longos e castanhos que caíam sob meus ombros. Andei pela casa silenciosa em direção a cozinha, coloquei uma pequena medida de café na cafeteira e debrucei meu corpo esguio sobre a mesa. Minhas pálpebras ainda pesadas, imploravam por descanso e antes que pudessem me levar a um sono profundo ali na cozinha, tombei a cabeça para trás mantendo os olhos arregalados a fim de manter-me desperta.
Verifiquei as horas na tela do celular, oito e quarenta da manhã. Eu estava em cima do horário e nem tinha percebido.
Levantei e coloquei o café numa xícara pequena, virei o líquido amargo e quente na boca sentindo a língua queimar.
— Merda! — falei alto dispensando a xícara na pia.
Mau humor. Era como uma pequena formiguinha instalada em meu corpo que me fazia ver os dias mais cinzas e densos do que o habitual. Por dentro, eu sentia uma necessidade enorme de trancar a porta de casa e me empanturrar de sorvete até passar mal, não queria ver ou ouvir ninguém, somente eu e o vazio. O fato é que apesar dessa pequena “depressão” disfarçada de preguiça – que vinha manejando a minha vida como se eu fosse uma marionete – eu ainda tinha que me manter de alguma maneira. Estava acostumada a permanecer sozinha desde os 23 anos, quando saí da casa dos meus pais e aluguei meu primeiro apartamento.
Folhas de Outono foi apenas um romance fictício, contudo, me trouxe mais vida do que eu tinha e assim como trouxe a levou, como uma folha seca soprada pelo vento.
Peguei minha bolsa no sofá confirmando mentalmente se não estava esquecendo nada, até constatar – sem muita certeza – que não. Calcei a sapatilha vermelha que estava ao lado da porta de entrada, peguei as chaves do velho Mustang e saí sentindo o coração errar uma batida.
Era só minha arritmia.
Como se o próprio destino me pregasse uma peça, eu estava presa no trânsito e no calor escaldante de Michigan e para melhorar minha situação, não tinha ar-condicionado.
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Querida Rosie
RomancePerdida. A única palavra que define Rosie Blackburn, uma escritora que tropeça nos próprios pés quando se vê sufocada por um bloqueio criativo, logo após o sucesso de seu primeiro - e único - livro. Após dois anos e meio de tentativas frustradas par...