Abri os olhos contra minha vontade, sentia frio. Com enorme dificuldade ergui o corpo do sofá, a cabeça pesava e não era pelo tamanho.— Não devia ter bebido — balbuciei enquanto tropeçava nos meus próprios pés.
Usava apenas lingerie e me abraçava na vã tentativa de manter-me aquecida enquanto tentava chegar ao quarto. Ouvi o celular tocar em algum cômodo da casa e não tive forças para procurá-lo. Me joguei na cama puxando o edredom até o pescoço, adormeci.
***
Lembro-me de sentir o peito carregado de ansiedade, um nó na garganta que a saliva não desfazia e a irritante sensação de querer chorar desesperadamente. Perguntei-me como aquele furacão de sentimentos cabia dentro de mim, todos latejando ao mesmo tempo, incessantemente.
— Você está tão linda — Maggie me olhou orgulhosa com os olhos marejados — Acho que vou chorar.
— Amiga, não faz isso — implorei abanando o rosto com as mãos para não borrar a maquiagem. Rimos.
— Aquele sacana está te levando para o altar. Estou muito feliz por vocês.
— Acho que minha arritmia vai atacar com todo esse estresse — rimos novamente — Preciso vê-lo.
— Mas amiga..
— Maggie, sabe que não acredito nessas supertições. Preciso vê-lo, pra ficha cair de que isso é real, sabe?
— Vai — ela me ajudou com a calda do vestido — eu cubro você pra sua mãe não infartar.
— Eu te amo — estendi a mão para Maggie.
— Eu também te amo — respondeu apertando minha mão com carinho.
Segurei a saia do vestido para não tropeçar, enquanto a parte de trás varria o chão. Percorri o caminho para a escadaria da casa de campo, desci apressada, sentindo o coração errar as batidas.
Estava no térreo, olhei para a porta onde meu noivo estava se aprontando, enchi os pulmões de ar e virei a maçaneta com o sorriso ainda estampado de orelha a orelha.
Empurrei a porta, e, quase que imediatamente meu tão largo sorriso se fechou e só quando os olhos azuis de Nathan encontraram os meus, foi que senti a lágrima pesar e cair abruptamente sobre meu rosto.
Ele parecia assustado, manteve-se imóvel me olhando por sobre o ombro da mulher que também manteve-se parada com os braços ao redor do pescoço dele. Uma de nossas madrinhas.
Pude sentir algo dentro de mim rasgando numa dor infindável, não pronunciei uma palavra sequer, juntei os panos nas mãos e corri sem olhar para trás.Atravessei a porta de entrada para a cerimônia, as lágrimas me impediam de reconhecer qualquer pessoa que estivesse em minha frente. O nó que eu sentia na garganta se tornava um soluço reprimido. Corri novamente, corri sem pensar para onde ia. Corri, corri até escutar o grito de Nathan ecoar pelo campo.
— ROSIE.
***
Levantei de uma só vez, assustada, a luz do dia invadindo o quarto pelas frestas fazendo meus olhos arderem.
— Puta merda — grunhi.
Fui para o banheiro, o corpo enfraquecido, a cabeça doendo, me forçando a aguentar mais um dia.
Aquela foi a última vez que olhei nos olhos de Nathan, ao me virar para encara-lo e depois daquilo corri até encontrar um restaurante na beira de uma estrada e ligar para meu pai.
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Querida Rosie
RomantizmPerdida. A única palavra que define Rosie Blackburn, uma escritora que tropeça nos próprios pés quando se vê sufocada por um bloqueio criativo, logo após o sucesso de seu primeiro - e único - livro. Após dois anos e meio de tentativas frustradas par...