⚜️ Capítulo 2 ⚜️

81 23 195
                                    


O relógio marcava duas e vinte da tarde e depois de cinco xícaras de café, meu estômago implorava por comida. Organizei as folhas e bloqueei a tela do computador antes de me levantar para almoçar, minha bexiga alertou que estava cheia e se não fosse por isso, eu esqueceria dessa necessidade.

Trancada no toilette, ouvi um som ritmado no que seria meu "escritório" e deduzi, pelo som do saltinho batendo no piso de porcelanato, que era Leonor futricando minhas coisas.

- Rapazes, certifiquem-se de que tudo estará no lugar antes que Rosie volte do almoço - ouvi a voz do Sr. Rodwell.

- O que está acontecendo aqui? - perguntei aparecendo de surpresa e analisando alguns móveis novos sendo colocados em frente a minha mesa.

- Ah, você ainda está aí - Steve coçou a cabeça bem no início de sua calvície, meio desconfiado - Estamos arrumando as coisas da Charlize.

- Char... O quê? - arqueei a sobrancelha.

- Rosie, esqueceu da nossa conversa de hoje cedo? Contratei uma nova secretária para ficar no seu lugar.

- Mas senhor, eu não quero tirar férias - lamentei com um pouco de dengo.

- Não quer, mas vai. Depois que voltar do almoço, quero que passe todas as instruções para Charlize nos acompanhar nesse período. Já fui ao banco e retirei o seu pagamento e também liguei para os seus pais - ele riu orgulhoso - Só para garantir que você vai descansar.

- O senhor não vai desistir né? - ele pousou os olhos em mim expressando seu carinho.

- Você sabe que não - sorrimos, agradecendo um ao outro silenciosamente - Agora vá almoçar, você terá um pouco mais de trabalho quando chegar.

Assenti e retirei-me do espaço. Só quando estava dentro do elevador é que notei a mulher parada perto dos móveis. Meus olhos analisaram rapidamente suas costas, passando dos saltinhos scarpin para as pernas morenas e torneadas envoltas por um tubinho branco até o joelho. Sua postura era como a de Leonor e eu esperava que fosse apenas isso que as duas pudessem ter em comum.

Prendi a respiração por alguns minutos, enquanto passava pela enorme entrada da loja recheada de carros, apenas para não chamar a atenção de Leonor. Já não bastasse todas as crises que eu controlava dentro de mim, ainda havia mais um motivo para eu não querer sair de casa. Por sorte, ela não estava lá e eu senti um pequeno alívio em meus ombros tencionados.

O sol ardia tanto quanto de manhã, a alguns passos minha camisa já colava nas costas e o cabelo começava a grudar na nuca molhada de suor. As pessoas transitavam com facilidade na rua, o cheiro de verde que vinha dos canteiros da calçada inundavam o ar quente e tudo ali me deixava agoniada.

O calor, o cheiro, as pessoas.

Duas esquinas adiante, numa bifurcação ao fim da rua e eu entrava pela porta de vidro sentindo o ar gelado chocando-se com meu corpo quente, os pelos eriçaram por alguns segundos. Ocupei uma das poucas mesas que havia disponível no pequeno restaurante, olhando ao redor em busca de alguém que me atendesse. Não demorou muito para que Maggie aparecesse com seu bloquinho nas mãos e um sorriso estampado no rosto.

- Já estava com saudades - disse sentando-se em minha frente.

- Eu estava aqui ontem - ri.

- E daí? - ela deu de ombros - Eu não posso sentir falta da minha amiga? - arqueou a sobrancelha tentando parecer intimidadora, o que me fez rir um pouco mais.

- Claro que pode - rimos - Mas será que eu posso comer antes de conversarmos? Estou desmaiando de fome - fiz drama.

- Quando você não está? - ela revirou os olhos e se levantou, depositando o bloco de notas no bolso do avental que vestia sobre a roupa.

- Não seja má.

- Má é meu sobrenome - ela riu me dando as costas - Prato do dia?

- Por favor - respondi e ela se perdeu atrás do balcão indo para a cozinha.

Margareth Tate era dona do restaurante caseiro em que eu almoçava, além disso, era minha melhor amiga. Foi a única que me sobrou durante os anos de minha vida e a que mais me apoiava na carreira de escritora, desde os tempos escolares.

Meu estômago estava impaciente e não satisfeito em apenas roncar, começou a doer. Procurei meu celular na bolsa apenas para mudar o foco, haviam duas chamadas perdidas da minha mãe. Pensei em retornar, mas avistei a ruivinha magrela vindo em minha direção com uma bandeija recheada e eu tenho quase certeza que meus olhos brilharam.

- Aqui está - ela depositou a bandeija em minha mesa - Arroz, feijão, fritas, filé mignon e uma salada de cenoura e beterraba.

- Acho que minha baba está caindo na comida - rimos.

- Algo para beber?

- Uma limonada rosa - carreguei a voz de entusiasmo.

- Afonso - ela chamou a atenção do rapaz no balcão - Limonada rosa, duas na mesa oito.

Ele assentiu e Maggie sentou-se comigo.

- E então? Nenhuma novidade? - referia-se a um novo escrito.

- Por enquanto não - respondi levando o garfo até a boca.

- Ora Rosie, já perdi as contas de quantas vezes disse que você precisa se distrair para voltar a criar. Além do mais, acho que também deveria conhecer alguém - sorriu maliciosa.

- Maggie - a repreendi - Eu não preciso de ninguém agora.

- Mas amiga, já faz cinco anos desde o Nathan. Eu não sei como você consegue - balançou a cabeça abrindo outro sorriso malicioso, certamente pensando em sexo.

- Se estivesse no meu lugar, saberia. Fora que você e seu maridinho perfeito devem ter insônia todos os dias né - revirei os olhos.

- Pode parar com essa implicância, vocês são duas crianças birrentas.

O garçom chegou à mesa com dois copos de líquido rosa com uma fatia de laranja presa na borda. Sorri em agradecimento para o homem a frente, era a primeira vez que o via ali.

- Espera - disse antes que ele saísse da mesa - Eu não conheço você.

- Desculpe senhorita, eu deveria conhecê-la? - ele tinha um sotaque extremamente fascinante e se eu não estivesse enganada, era Português.

- Ah não - sorri sem graça - Eu não sou ninguém, imagina.

- ROSIE - Maggie soou indignada - Afonso, está é minha melhor amiga Rosie Blackburn. Ela trabalha na concessionária, ali perto do seu prédio - a ruiva me olhou novamente maliciosa - E este é Afonso Abranches, nosso novo barman.

- É um prazer senhorita - inclinou o corpo beijando minha mão num gesto surpreendente de cavalheirismo.

- O prazer é meu Afonso - sorri, tendo a plena certeza de que estava vermelha - ou rosa, talvez.

Ele retribuiu o sorriso, perfeito e alinhado. Retirou-se da mesa me deixando admirar sua beleza, enquanto saboreava o suco.

- Ele é uma graça né - Maggie cochichou.

- Sim, ele é - retomei minha postura - E você é uma imbecil.

- Eu sabia que você ficaria vermelha - Margareth riu alto - Termine seu almoço, tenho alguém para acertar com minha flecha do amor.

- Nem pense nisso - apontei o dedo para ela - Nunca mais falo com você.

- Tá, para de drama - ela revirou os olhos - Não farei nada.

- Acho bom.

Maggie fez uma careta e saiu da mesa indo direto para a cozinha. Meus olhos se encontraram com os de Afonso, que sorria enquanto alternava olhares comigo e com o balcão que limpava.

Novamente sem graça, abaixei a cabeça levando a última garfada até a boca.

Quando foi que eu comi tudo isso? - pensei rindo comigo mesma.

Procurei pelo celular para verificar as horas e como se sentisse meu toque, vibrou numa nova ligação.

A editora.

Querida RosieOnde histórias criam vida. Descubra agora