— Rosie — ouvi ao longe, desejando que aquele não fosse o meu nome — Rosie — chamaram novamente.
Era como se o vento soprasse em meus ouvidos, com a voz carregada de preocupação. Eu não queria abrir os olhos, mas o fiz involuntariamente, encontrando Nathan em meu campo de visão.
— O que houve? — senti a cabeça doer.
— Você está desmaiada faz uma hora. Sua pressão caiu e te colocaram no soro.
— Onde está minha mãe?
— Ainda com Carter — titubeou — Não houve mudança no quadro dele.
— Eu — tentei formular a frase seguinte com dificuldade — Estou morrendo de fome — falei sentindo o gosto amargo na boca.
Nathan sorriu e percebi que não tinha mais um dos dentes encavalados — como quando o conheci — convencido, exibiu um perfeito sorriso alinhado.
— Espere aqui, está bem?
Afirmei enquanto o via caminhar para o lado direito do corredor. As costas largas, os braços semi abertos pareciam não caber dentro da camisa, a calça delineava seu bumbum que estava mais arrebitado.
Estiquei-me na maca afim de observar aquele Nathan — especificamente, sua bunda — e sem querer derrubei o suporte do soro caindo por cima dele.
— Que merda — sussurrei para mim mesma, enquanto tentava erguer o corpo sob as pernas trêmulas.
Eu mal havia caído e ele já estava ao meu lado, me dando apoio para voltar até a maca. Observei seu zelo e automaticamente comecei a me questionar sobre aquele Nathan que eu — com certeza — não conhecia. Porque ele está aqui? O que ele quer?
— O quê está fazendo aqui? — ele pareceu não entender.
— Eu soube do seu pai — fez uma pausa, escolhia com cuidado as palavras que viriam a seguir — Imaginei que você não estaria bem e quis te ver. Talvez... ajudar — ele comprimiu os lábios em um sorriso tímido.
— Quem te falou do meu pai? — fui ríspida.
— Cat ligou para você, não conseguiu contato, então tentamos no seu trabalho.
— Ah, claro — revirei os olhos — Quero sair daqui — disse tentando tirar a agulha presa ao meu braço.
— Rosie, tenha cuidado — Nathan segurou minha mão — Eu já chamei uma enfermeira, vou te levar para casa.
— Não quero sua ajuda! — foi estranho dizer aquilo, porque algo dentro de mim dizia o contrário.
— Eu sei que não quer — ele se encolheu — Mas vou ajudá-la mesmo assim, só até em casa. Tudo bem?
Nathan ergueu seus belos olhos, claros como um céu límpido de nuvens num dia ensolarado. Eu era apaixonada por aquele par de olhos, e jurei nunca me cansar de admirar a beleza que ele carregava, mas não foi suficiente para ele.
— Só até em casa — repeti.
Era tão estranho rever o homem que eu amei depois de tantos anos e sentir que uma fagulha do amor que eu sentia ainda estava acesa. Nathan foi meu melhor amigo, a pessoa que eu entreguei minha confiança, meu respeito e admiração. Foram cinco anos sem ouvir, ver ou falar sobre ele e de repente, ali estava o homem com quem eu quis me casar um dia.
***
— Pronto querida, você pode ir agora — a moça sorriu gentilmente.
— Está pronta? — perguntou enquanto se aproximava e afundava o celular no bolso da calça.
— Podemos ir — afirmei.
Não me sentia segura. Era uma sensação constrangedora de querer tocá-lo ou de contar algo engraçado para fazê-lo rir como nos velhos tempos. Meus pensamentos pareciam acelerados demais, mãos suando, um nó se formava em minha garganta e dessa vez não era choro...
— Podemos ir no meu carro — sugeri apontando para o veículo.
— Não acredito — Nathan sorriu — Você comprou um Mustang? — seus olhos brilharam — Ah Buzzi, sempre surpreendente.
— O..o quê você disse?
— Ora, seu sonho era comprar um Mustang, me lembro disso!!
— Não — chacoalhei a cabeça — Do que você me chamou?
Ele não respondeu, encolheu os ombros e desviou os olhos para os próprios sapatos. Eu também não soube o que dizer depois daquilo e preferi manter o silêncio.
— Vamos no meu carro — foi o que disse e seguiu a minha frente com sua postura ereta.
Eu nunca tinha me sentido tão desconfortável com alguém como estava naquele momento. Não trocamos nenhuma palavra, era apenas o som suave do ar saindo pela ventilação. Nathan estava lindo, ainda mais do que há cinco anos e sua postura tinha mudado, não os trejeitos, mas a forma como se comportava. Mais educado, formal, de longe um ótimo empresário e talvez uma ótima pessoa, porém, naquele pouco espaço éramos como estranhos.
Dois estranhos... com memórias.
— É aqui — falei observando o prédio pela janela.
— Como está se sentindo? — ele me olhava com ternura — Melhor?
— Estou bem — forcei um sorriso fraco.
O silêncio reinou mais uma vez, acho que nem ele e nem eu sabíamos o que fazer ou como agir um com o outro. Era uma situação delicada. As mãos dele apertavam o volante — como faço quando fico nervosa — pude ver os nós dos dedos ficarem brancos pela força que estava fazendo, o maxilar travado e os ombros tensionados.
— Você quer subir? — perguntei sem encará-lo, mas senti seus olhos me observando.
— Eu.. é — ele fez uma pausa — Claro.
Comprimi os lábios e saí do carro sem esperar por ele. O que deu na minha cabeça, eu só posso estar dopada ou sob efeito dos medicamentos.
Fala sério.
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Querida Rosie
RomancePerdida. A única palavra que define Rosie Blackburn, uma escritora que tropeça nos próprios pés quando se vê sufocada por um bloqueio criativo, logo após o sucesso de seu primeiro - e único - livro. Após dois anos e meio de tentativas frustradas par...