Solitude. Jung Hoseok aparentava ser mais outro guerreiro solitário, somente um acrescento ao número de soldados determinados a alcançar o tão almejado mérito e a realizar os seus malditos desejos fúteis, em tal grau baixos como o corrupto e odioso conselheiro do Rei.
Algo na sua expressão, personalidade e essência — quase invisível aos olhos alheios relativamente desinteressados —, no entanto, despertava aquela incomum curiosidade que me fazia, enquanto acariciava o queixo com o polegar, formigar a ponta dos dedos e, ansioso, bater o pé no assoalho de madeira de carvalho polido do palácio real.
Hoseok era tão distinto, contraditório nas suas ações e inocentemente fictício que levou-me a retratá-lo em folhas de arroz artesanais com feições diferentes em cada uma das estações — primavera, verão, outono e inverno. O seu patente sobejo afastamento a nível de pensamento e moral em relação aos outros mostrava-se tão incrível, de tal modo fascinante, que permiti-me mergulhar nos seus mais simples encantos.
De alguma forma, o seu singelo curvar de lábios e os seus olhos escuros encolhidos, devido à alegria que carregava-lhe o peito no decorrer da chuva de pétalas de cerejeira, conquistou e curou o meu puro e amassado coração.
Sentado sobre a pedra do jardim, que ficava a alguns metros da porta do meu quarto, Hoseok polia a sua espada, com um punho esculpido em talha dourada, determinado a deixar o objeto de luta ainda mais atrativo e bastante perigoso do que já era.
Os fios castanhos compridos e lisos caiam-lhe sobre o rosto enquanto realizava tal tarefa e, num comportamento estranho para os outros, as suas vestes de seda num tom azul-escuro, com detalhes bordados com linha mouline branca, permaneciam perfeitamente dobradas sobre a grama bem cuidada do jardim da minha habitação. Apenas uma blusa branca cobria o seu tronco e as calças escuras as suas pernas magras.
Uma aura leve emanava, naquele momento, do seu corpo, tanto que quem olhasse cogitaria que a figura masculina desvelava certa indefesa e delicadeza. Hoseok, porém, estava tão longe de ser vulnerável e desatento que tais características fortes arrepiavam-me de uma maneira estranhamente suave. Por mais que ele se figurasse absorto, estava deveras atento ao que acontecia à sua volta, inclusive, quase sempre, o guerreiro notava que eu o observava e acenava com uma alegria em tal grau expansiva que suscitava um amplo, contudo tímido, sorriso meu.
Quase todos os dias, a partir da pequena frincha, que eu abria deliberadamente para tão-só espioná-lo, da porta da minha hanok, eu via os seus olhos rolarem nas órbitas quando algum comentário, sobre quão sem-vergonha era aquele soldado por estar apenas com uns finos pedaços de roupa perto do palácio, era dito em voz alta. Algumas vezes até mesmo palavrões escapavam pelos seus lábios.
Eu gostava de contemplá-lo assim, de tal maneira despojado e livre. A liberdade que Hoseok emanava confortava tanto o meu coração que me fazia esquecer o quanto a minha era restringida e ninguém se importava. Desgraçadamente, a culpa seria para sempre colocada no destino de um sangue azul.
Somente ao analisá-lo, sentia-me em paz. Era como se estivesse com os braços abertos no cume de uma colina a apreciar a frescura e a sensação de alforria que o intocável vento proporcionava-me no corpo.
Hoseok sempre foi o oxigênio para o meu angustiante sufoco de expressão e livre-arbítrio. Quando escutava as suas filosofias sobre a independência do Ser Humano, uma afluente felicidade alastrava-se pelo meu peito, porque eu enxergava no brilho do seu olhar a veracidade das palavras firmemente articuladas e, acima de tudo, através desse discurso, ele permitia-me sentir algo divergente de receio e desconfiança.
Eu fiquei, realmente, fascinado por isso.
O guerreiro facilmente esmagava qualquer tipo de ausência na minha mente e coração, incentivava-me a censurar as opiniões dos outros acerca das minhas parcas habilidades para a tarefa que me foi dada desde que me tornei a nova atração do reino. Eu não conseguia, todavia, ignorar o que diziam e nem tinha a capacidade de abafar os meus sentimentos de ódio e desprezo pela figura mais endeusada naquela maldita terra.
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As quatro estações de Jung Hoseok | vhope
Fanfiction[CONCLUÍDA] Com o seu singular encanto, Jung Hoseok, o guerreiro de olhos medonhos, porém igualmente donos de uma amabilidade nobre, conquistou o virtuoso coração do artístico príncipe Kim TaeHyung, que inspirado pelos seus fascínios e beleza única...