IV 겨울 (Gyeoul) - Inverno

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A vida demonstrava-se cada vez mais efêmera e, porventura, tenha sido a constatação desse fato que motivou-me a caminhar, com os dedos entrelaçados nos de Hoseok, pelos jardins matizados em tons rosados e campos tingidos de um verde vivo, pisar as folhas policromáticas e, principalmente, afundar os pés na neve nívea, porque as mãos do guerreiro na estação álgida ficavam muito mais quentes e macias.

A cada dia gelado que passava, Hoseok ficava cada vez mais determinado a fazer com que o meu amor por ele chegasse a níveis estratosféricos, tanto que toda a afeição que sentia pela figura singular, quase, não cabia dentro do meu peito. Provavelmente fosse o seu jeito amável que me encantava tanto, mas nunca consegui caracterizar e identificar todos os sentimentos que, todas as vezes que Jung Hoseok sorria, floresciam no meu âmago. Hoseok tão-só reunia fascínios e qualidades que de imediato me cativavam e acalentavam.

Naquele específico dia de inverno, a caminhada tornou-se particularmente divertida quando, por causa das camadas abundantes de neve, eu tentava pousar os meus pés nas pegadas que o guerreiro deixava na branquidão que cobria todo o reino. A hanok de Hoseok ficava um pouco afastada do palácio, andar sobre aquela alvura, no entanto, fazia com que o nosso destino parecesse ainda mais longínquo.

Contudo, não tardamos a chegar na sua casa, cuja pigmentação me chocou. O jardim de Hoseok estava todo florido no inverno e eu questionei-lhe o porquê de semelhante irregularidade. Fiquei, então, a conhecer as Cymbidium, as orquídeas que florescem na árdua estação gélida e análogo significado, espantosamente, descreve em poucas palavras a figura mais corajosa e amável de Goguryeo: sensibilidade, beleza e pureza espiritual. A partir dessa descoberta, passei a associar o guerreiro àquelas flores, e e ainda é incrível a capacidade que elas têm de me fazer relembrar da figura benévola ao ponto de me causarem um choro saturado de saudade e receio.

As paredes de madeira da casa tradicional eram decoradas por várias plantas e pinturas paisagísticas, nomeadamente de cerejeiras e montanhas cortadas pelas nuvens. Semelhante pigmentação de folhas artesanais de arroz trouxe-me algumas memórias da minha mãe, porque ela gostava muitíssimo daquele pintor, o qual também me inspirou e encorajou a criar Arte com um pincel descascado e velho.

Através da assinatura no canto inferior direito do papel, percebi que o criador de tais belas obras era o pai do guerreiro e, em virtude a essa descoberta, sorri perante aquele ambiente acolhedor e abundante em boas memórias. A casa de Hoseok, a partir desse momento, passou a ser um local confortante para a minha mente, então eu passava a maioria do tempo ali, embalado pelo bem-estar.

Hoseok convidou-me para sentar sobre a almofada em frente à pequena mesa, embelezada por um conjunto de chá de porcelana com ramos de cerejeira estampados, e colocou uma manta sobre as minhas costas para que o meu corpo aquecesse mais depressa, visto que o sistema de aquecimento do piso não cessava a minha tremedeira.

As minhas mãos chegavam a ficar roxas e a ponta do meu nariz vermelha devido aos graus negativos, mas Hoseok logo vinha me abraçar com o objetivo de esquentar o meu corpo magro. Eu considerava essas atitudes tão benévolas e bonitas. Elas, de imediato, confortavam o meu coração ferido e é por isso que as saudades que hoje sinto da sua bondade chegam a esmagar-me por dentro.

As mãos delicadas preparavam o chá de ervas medicinais, com paciência e cuidado, e um sorriso perdurava-lhe enquanto a bebida era pronta para me aquecer. O seu corpo movia-se de um lado para o outro, revelando toda a sua preocupação e rigor, em busca de um toque particular. Existia, igualmente, uma grande perseverança para que eu bebesse a infusão, mesmo que eu alegasse não ser um grande apreciador de chá.

Eu, porém, sempre me rendia à linha curvada dos seus lábios rosados e às suas palavras conquistadoras. Hoseok mostrava um biquinho manhoso e dizia que ficaria triste se eu não aprovasse as suas técnicas de preparação de água tingida. Mais tarde, entendi que ele só queria comprovar que o chá criado pela sua mãe era o melhor do mundo. Nesse dia, confirmei que o guerreiro Jung Hoseok também vivia sufocado pela solitude e, como se já não tivéssemos muitas coisas em comum, eu passei a vê-lo como o meu reflexo. A cura eficaz da melancolia e solidão que me trucidava.

As quatro estações de Jung Hoseok | vhopeOnde histórias criam vida. Descubra agora