V 발문 (Epílogo) - Quinta estação

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2 anos depois 

Ainda dói, sufoca e mata-me, essa saudade que consome toda a minha felicidade. As folhas com os escritos de todas as minhas memórias agora estão manchadas e embebidas pelas minhas recorrentes lágrimas. A minha alma, completamente destruída, permanece rendida ao meu coração angustiado e melancólico e eu, na minha mais murcha constituição, continuo a viver apoiado no restante de uma esperança incompreensível.

Foram dois mal-aventurados anos, onde desejei todos os dias satisfazer o precipício e a escuridão dos meus pensamentos. Porém, eu escapo e isolo-me. Continuo a respirar e a viver protegido pela construção de madeira no meio da floresta, escrevendo e pintando, com as gotículas salgadas, todas as agonias latejantes no meu coração.

O nobre Yoongi, que está sentado no soalho de madeira do meu recanto abanando de modo ininterrupto a perna numa atitude ansiosa, olha-me apreensivo. Todos os dias recebo o seu mesmo encarar trágico, silencioso e, também, acolhedor. Desde que Hoseok foi, reprimido por uma coragem controversa, lamentavelmente para a guerra, o ambiente taciturno prevalece, amparando-me de um desmoronamento psicológico.

Não vejo o guerreiro Jung desde o último dia do inverno mais triste, e, de modo infeliz, a última visão que tenho é a dos seus olhos manifestando o mais legítimo receio pelo chamamento. Todos os dias pergunto-me a mesma coisa e rezo pelo seu bem-estar, mas somente recebo o silêncio como resposta à minha preocupação.

Distanciei-me e, mediante semelhante procura ávida por solidão, fui em parte esquecido. As minhas passagens pelo palácio são breves, porque não aguento ficar no meu quarto e ver o jardim vazio durante o dia. O meu diálogo é quase inexistente, porque a alienação me consome e prefiro não enfrentar a realidade que me absorve negativamente.

Fui, entretanto, suspenso de herdar o trono pela minha criticável insânia e patente desinteresse pelo poder. Vivo absorto, indo e vindo para o palácio que outrora me parecia cômodo. Essa liberdade é resultante da desistência do Rei, que alega não existir esperanças para a minha melhoria, porém Yoongi, revelando toda a lealdade que tem para comigo, mantém-se ao meu lado, vigiando todos os meus delírios, mesmo que tivesse sido dispensado do cargo.

Ele é a minha única companhia nessa batalha de angústia. Conta-me histórias, as quais nem sempre têm um final feliz, no intuito de me distrair dos meus pensamentos e adiar o meu choro diário saturado em saudade. Essa estratégia, no entanto, faz com que eu me considere um personagem dessas histórias mais infortunadas. Hoseok, infelizmente, também.

Um ano após o início da guerra, o nobre Yoongi, numa hesitação palpável, contou-me a história do Guerreiro Jung Hoseok a meu pedido. Era uma história confidencial, a qual completava todas as falhas de coerência no aparecimento repentino de Hoseok no palácio, e pareceu que foi-me narrada tão-só porque o destino parecia o mais cruel e fatídico.

Mas eu acredito que esses pensamentos negativos são oriundos dos meus demônios interiores, os tais que torturam todos os dias a minha alma ao apagarem a parca fé que ainda estimo.

A família de Hoseok vivia nas terras vizinhas, pregando a um Deus diferente num culto secreto que suscitava desconfiança pelas diferenças e inimizades com uma outra família nobre. Hoseok era uma criança que vivia no meio de adultos sequiosos por vingança e orações distintas. Não estava diretamente envolvido pela inocência que carregava, porém também sofreu as consequências.

Um ataque às suas terras resultou na morte de quase todos os seus parentes. Os pais de Hoseok foram um dos únicos grupos que conseguiram escapar e, durante um tempo, viveram em paz nas montanhas. Ao no entanto descobrirem o seu esconderijo, tatuaram-lhes os pulsos com ferros quentes para fazê-los recordar de todos os seus pecados e incendiaram, dominados pela repugnância, as suas habitações.

As quatro estações de Jung Hoseok | vhopeOnde histórias criam vida. Descubra agora