Amizade

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Brad me disse que os socs arrombaram o armário do colégio para roubar algumas informações, a câmera do local estava estragada e os garotos disseram que foi o Brad que fez aquilo tudo, obviamente a diretoria não iria deixar de acreditar nos socs para acreditar em um greaser.

Aqueles caras odiavam a gente só por sermos pessoas pobres que andam de jaqueta de couro, os meninos gostam de usar brilhantina no cabelo e geralmente trabalham nos postos de gasolina da cidade, eles nos enxergam apenas como bandidos, inferiores e perigosos. Já os socs gostam de andar com blusas de estampa xadrez, sempre estão em um Mustang e tirando sarro da gente.

Fiquei um tempo pensando na situação de Brad, ele não merecia ser culpado por algo que não fez, aquilo era tão injusto. A condição dele já não era tão boa no colégio por ter repetido e não se dar muito bem com as matérias, eu sei que seria horrível se o expulsassem, provavelmente ele iria desistir dos estudos, eu não queria aquilo para ele.

O sinal do intervalo bateu, eu só conseguia pensar no acontecido, eu não podia deixar aquilo daquele jeito, então, decidi ir até a diretoria. Chegando lá esperei por cinco minutos até o diretor do colégio ter um tempo disponível para conversar comigo.

Eu não tinha alternativa, eu tive que fingir que eu tinha feito tudo que tinha acontecido para o Brad não levar a culpa, ele já fez tanta coisa por mim, isso é o mínimo que eu devia fazer por ele, mesmo eu não tendo nada haver com o acontecido.
_ Diretor, fui eu que roubei as informações do armário, eu sou a culpada.

O diretor me olhou com uma cara bem estranha, pois, eu nunca tinha aprontado nada, aquilo parecia muito estranho para ele vindo de mim.
_ Grace, eu preciso que você me devolva essas informações, e aí verei o que vou fazer com você.
Meu coração gelou na hora, a única coisa que pensei na hora foi:
_ Eu as queimei!
Eu não fazia ideia o que eram aquelas informações ou que tinham nelas, mas com certeza são registros de coisas que os socs aprontaram e queriam se livrar daquilo.

Eu fiz aquilo pelo Brad porquê ele nunca ia conseguir se safar, o castigo seria bem pior para ele do que para mim.

Depois de um tempo conversando com a coordenadora, o diretor me chamou novamente e disse:
_ Nós vamos te transferir para outro colégio, nós sabemos suas situações, mas, não podemos te aceitar mais aqui. Você vai para o colégio Norman North High School.

Logo depois chamaram meu pai no colégio, ele ficou decepcionado, mas eu não podia falar para ele que apenas safei um amigo, eu acho que ele iria ficar mais decepcionado ainda.

Voltamos para casa e o meu pai me perguntou porquê fiz aquilo, mas eu disse que não queria falar sobre e ele preferiu não insistir. Ele não me colocou nada como castigo porque uma hora iria acabar, e não iria adiantar nada, afinal, eu já tenho dezesseis anos.

Um pouco mais tarde Brad passou aqui e me perguntou porquê eu tinha embora mais cedo e não tinha o esperado. Eu falei o que fiz e ele não teve muita reação, acho que naquele momento ele percebeu o quanto eu amo a nossa amizade de verdade. Ele só sabia me agradecer de todas as formas, mas ao mesmo tempo ele disse que me arrisquei muito e não deveria ter feito aquilo. Conversamos a tarde inteira e Brad me trouxe uma fita com músicas do Elvis Presley para que pudéssemos escutar, para mim, esses são os momentos mais valiosos do mundo.

Brad decidiu ir embora pois estava ficando tarde, o acompanhei até a porta e depois voltei para a sala. Meu irmão estava assistindo na televisão o desenho do Mickey Mouse, sentei ao seu lado e ele me disse que ficou sabendo o que eu fiz.
_ Estou tão orgulhoso de você, finalmente se tornando uma delinquente de verdade.
E a única coisa que eu falei foi:
_ Como você é idiota Carl!
Fui até o meu quarto e fiquei pensando no colégio novo, eu iria começar na próxima semana, as pessoas lá eram mais diversificadas, tinham greasers e socs, mas o ensino era bem pior.

Olhei para o lado e vi a fita que o Brad deixou aqui, coloquei para tocar e pensei comigo mesma "Será que vou me dar bem? Brad vai ficar sozinho agora. Eu espero que aqueles socs deixem ele em paz..."

1969, The Greaser's Life. Where stories live. Discover now