Mais uma dose de 𝙼𝙰𝚁𝚃𝙸́𝙽𝙸. O barman de cabelos acinzentados e barba rala serviu a bebida e mencionou algo no sentido de que, se precisassem de mais de seus serviços poderiam chamá-lo. No fundo, do balcão do bar, uma mulher observou com certo desdém alguns olhares imorais. Ela percebeu por casualidade os cochichos e os apontamentos de dedos de um grupo de rapazes assim que seus olhos pousaram nos vitrais que refletiam exatamente onde a mesma se encontrava.
Sua teoria era que eles provavelmente tinham fetiche por mulheres em roupas sociais, esse mesmo tipo de roupas que ela vestia no dia-a-dia no escritório do MP – Ministério Público.
Numa blusa branca acinturada com listras azuis, agora levemente enrugada com as mangas arregaçadas até os cotovelos, uma saia em tecido Oxford clássico, nitidamente cinza pérola, sem esquecer o scarpin preto. Esse era seu conjunto naquele dia.
Geralmente a mistura de seriedade e capacidade profissional incitava facilmente os instintos de qualquer indivíduo. Para ela, isso era um fato.
Em seu rosto, um breve sorriso de lado expressava seu pensamento cheio de convicção.
Ela, uma cubana com conceito de beleza natural, com seu tom de pele luzentemente bronzeado e seus grandes olhos dominantes cor de fuligem, que agora refletiam a imagem da taça de Martini em sua mão. E certamente aqueles olhos eram um destaque a mais em seu rosto oval e delicado. Possuía o tipo de olhar que despertava curiosidade, até desejo em quem se atrevesse a encará-la mais de perto. Uma dessas pessoas audaciosas era o homem que tinha os olhos carregados de desejo sobre a mesma e a acompanhara naquele momento na casa noturna.
Esse homem estava sentado ao lado dela em um dos bancos conectados ao balcão de textura de madeira castanha e polida.
O aroma da essência de bɑunilhɑ pairou no ar quando a mulher cubana arrumou algumas pontas no cabelo, passando os dedos longos pelos os cachos castanhos que chegavam ao meio das costas.
Ela sustentou o copo de martíni e permitiu que seus lábios tocassem o líquido alcoólico, trazendo-o de volta à boca. O líquido descera por sua garganta arranhando-na. A aversão automática ao sabor da bebida quente surgiu em seu rosto e, não muito tempo depois, pôde sentir aquele sabor passageiro adocicado. Era como a primavera após um longo inverno.
Foi nesses curtos segundos que ela abandonou a postura, relaxou os músculos e sua mente a fez imaginar-se dentro de algumas lembranças, que em um momento ou outro, apareciam insistentemente em seus pensamentos, tão vivas e reais que às vezes ela sentia por dentro da pele a nostalgia.
A imagem de olhos delineados que brilhavam numa cor verde-𝑎𝑏𝑠𝑖𝑛𝑡𝑜, o sorriso naqueles lábios rosais entre aqueles dentes frontais incisivos, desalinhados, ainda assim de alguma forma charmosos;
O doce aroma que emanava daquela pele branca banhada a luz do luar;
As pegadas na areia desaparecendo ao serem cobertas pelas ondas que iam e vinham enquanto ela caminhava ao lado de uma garota, vendo o sol se pôr no horizonte em uma área quase deserta de Miami Beach;
Estudando diferentes assuntos juntas e jamais esqueceria o primeiro beijo no campo de softball;
Perdida nessas memórias, como se tivessem acontecido 𝑜𝑛𝑡𝑒𝑚, ela voltou à realidade no momento em que ouviu seu nome:
— 𝐾𝑎𝑟𝑙𝑎 𝐶𝑎𝑚𝑖𝑙𝑎?
Ainda em 'piloto automático', ela voltou a sua visão quase de imediato para a voz daquele homem que a tinha acompanhado naquela noite e nas anteriores.
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Finis Hominis, CONTAMINAÇÃO
Romance❝𝑼𝒎𝒂 𝒔𝒐𝒄𝒊𝒆𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒒𝒖𝒆𝒃𝒓𝒂𝒅𝒂, 𝒂 𝒉𝒖𝒎𝒂𝒏𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒔𝒆 𝒕𝒐𝒓𝒏𝒂𝒏𝒅𝒐 𝒖𝒎 𝒏𝒂𝒅𝒂 𝒔𝒐𝒃𝒓𝒆 𝒂 𝒕𝒆𝒓𝒓𝒂, 𝒆𝒙𝒊𝒔𝒕𝒊𝒏𝒅𝒐 𝒎𝒆𝒔𝒎𝒐 𝒅𝒆𝒑𝒐𝒊𝒔 𝒅𝒂 𝒎𝒐𝒓𝒕𝒆.❞ Como você reagiria se durante um dia normal de trabalho s...