❝𝑼𝒎𝒂 𝒔𝒐𝒄𝒊𝒆𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒒𝒖𝒆𝒃𝒓𝒂𝒅𝒂, 𝒂 𝒉𝒖𝒎𝒂𝒏𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒔𝒆 𝒕𝒐𝒓𝒏𝒂𝒏𝒅𝒐 𝒖𝒎 𝒏𝒂𝒅𝒂 𝒔𝒐𝒃𝒓𝒆 𝒂 𝒕𝒆𝒓𝒓𝒂, 𝒆𝒙𝒊𝒔𝒕𝒊𝒏𝒅𝒐 𝒎𝒆𝒔𝒎𝒐 𝒅𝒆𝒑𝒐𝒊𝒔 𝒅𝒂 𝒎𝒐𝒓𝒕𝒆.❞
Como você reagiria se durante um dia normal de trabalho s...
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"A onda de doentes aumenta e cresce o número de mortes..."
"O governo de alguns países decide promulgar a lei marcial..."
"Usuários da Internet afirmam ser o fim dos tempos..."
— O centro de prevenção de doenças contagiosas decretou leis para evitar a propagação do suposto vírus.
"Guarda de trânsito é surpreendido por sujeito vítima de acidente de carro e tem pedaço de carne do braço arrancada..."
"Reino Unido fecha fronteira para países vizinhos..."
— Mas já era tarde demais... As cidades estavam tomadas por cadáveres.
"O preço das conservas está em alta e o consumidor sente pesar em seu bolso..."
"Aprenda a fazer chá tradicional com mel e limão em casa para dores de garganta e resfriados..."
Todos nós conhecemos as teorias de como vai ser o fim do mundo. Essas que anunciam em voz alta, como um prognóstico, desde os tempos medievais.
Embora eu já estivesse acostumada com o bramar dos evangélicos, usando frases repetitivas sobre a volta de Jesus Cristo... sempre estive dividida do que era realidade de fato e ficção. Na verdade, várias coisas que estão escritas no livro de Apocalipse de Pedro parecem plausíveis... mas uma parte de mim acreditava que a terra ainda duraria um pouco mais.
E que provavelmente os humanos continuariam se destruindo e buscando seu próprio caos.
Estava ciente de que o fim da humanidade poderia acontecer a qualquer fodido momento, enquanto estivesse levando meus filhos para a escola ou creche; fazendo compras no supermercado ou até mesmo voltando do trabalho para casa. Era uma possibilidade que eu não podia descartar.
Hambo veio como um foguete de algum lugar e se chocou contra minhas pernas quando eu estava abrindo as portas de vidro deslizantes que davam para o quintal. Me limitei a sorrir com seu desespero.
Hambo era um cachorro metido e babão que gostava de se aventurar em minhas plantas, quebrando galhos e arrancando folhas.
Minhas pobres plantas...
Depois de pegar um pouquinho de sol da manhã, tamborilei a cozinha ouvindo o barulho piante da chaleira. Enfiei a mão na luva térmica, agarrando a alça da chaleira com cuidado para não me queimar, e carreguei-a comigo até deixá-la na ilha. Eu mesma me servi e me sentei liberando minha mão. Peguei o controle remoto, pressionei a borracha para ligar a televisão e abri o notebook ao meu lado, também na ilha.
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Em algum momento, não sei qual, me perguntei, e se essa teoria fosse real?, quer dizer, a idealização macabra de tal futuro, ou o desejo profundo de destruição do ser humano? Uma sociedade quebrada, a humanidade se tornando um nada sobre a terra, existindo mesmo depois da morte.
Não prestei muita atenção à televisão e continuei investindo meu tempo na plataforma de leitura que utilizava. Ultimamente a mídia estava derramando informações desconexas sobre o suposto vírus, e ninguém sabia explicar muito sobre ele, exceto que era contagioso.
― Lauren, essa reportagem é sobre o vírus de quem todos estão falando? – Antes de tomar palavras por ter me alarmado pelo timbre de voz que surgiu das minhas costas, sorvi um pouco do liquido morno do chá para dentro da minha boca, chá este que havia preparado com as flores da alfazema. Eu não pude descansar como deveria e era por isso que meu humor estava péssimo naquela manhã.
― Hmm, talvez seja, sei lá, eu estava lendo. – eu murmurei, indicando a tela do notebook em um pedido silencioso para que não fosse incomodada.
Virei o rosto para olhar para ela. Não podia negar, enxergava cada aspecto dela sublinhado em apenas uma palavra: linda, mesmo com o rosto amassado de sono. Estreitei meus olhos de tons verdes para ela quando a luz que entrava pela porta dos fundos obscureceu parte da minha visão.
De repente, me lembrei de todo o inferno mental que me perturbava a ponto e me fazer perder uma noite de sono. Ela mentiu para mim ontem à noite e eu apenas tentei engolir esse fato tão naturalmente quanto pude. Mas ainda estava entalado na minha garganta.
― Wow, que mau humor é esse...? Esquece. Você não me acordou e não estava na cama quando acordei. Deu formiga na cama, foi isso? – A vi puxar os lábios com os dentes de maneira nervosa. Eu odiava quando a via assim. Sentia pontadas em minha pele; sim, ela me desarmava com facilidade. No entanto, eu estava ciente da energia desagradável e pesada entre nós duas.
― Não olhei a hora em que levantei. Mas alguma coisa? – murmurei novamente e uni as duas sobrancelhas, cerrando os meus olhos para encarar Camila um pouco à frente. Minha linda esposa, a quem de modo algum queria prolongar um assunto com ela, pelo contrário, gostaria de me distanciar de sua presença até que estivesse menos frágil emocionalmente.
Desta vez, olhei para o lado para assistir à TV, então não precisei continuar a nossa conversa. Queria que ela percebesse que não era um bom dia para tentar se aproximar.
Mas Camila seguia sendo Camila, e no minuto seguinte ela já estava me perguntando em um tom firme e curioso:
― E já faz muito tempo que você acordou? Porque a Lis estava na cama e eu não sei se você...
― Eu vi algumas coisas relacionadas a esse vírus, alguns programas estão cobrindo isso. Acho que se a situação piorar terei que fechar o Trevo de Quatro Folhas. – comentei, tentada a ignorar qualquer alfinetada que ela pudesse me dar. Eu estava olhando diretamente para ela, sem nenhuma vontade de ser educada e respondê-la. Dentro da minha pele, eu podia sentir lentamente a chateação esquentando meu sangue, então busquei respirar fundo. ― Talvez hoje eu vá ao mercado. Você quer algo de lá?
Camila parecia intimidada pelo meu olhar, e a expressão culpada que se arrastou em seu rosto apenas reforçou minha teoria de que ela tinha aprontado algo ontem, eu precisava descobrir... eu tinha que descobrir e... eu descobriria.
― Por que tenho a impressão de que você não dormiu na cama comigo? – Camila perguntou querendo saber se isso realmente aconteceu.
Mais uma vez, respirei fundo e pesadamente para disfarçar minha irritação.