cento e noventa e nove

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Felipe: Vamos para o hospital. Agora.
Bruna: Não é necessário... Felipe: Sim, é. Eu te ajudo — Ajudo Bruna a se levantar e caminho com ela até o carro, ajudando ela a entrar e a colocar o cinto de segurança.
Felipe: Me espere aqui — Corro para dentro de casa e pego nossos documentos, junto com as bolsas com roupas dos bebês. Tenho quase certeza de que não irão nascer agora, mas nunca se sabe, não é?
Volto para a garagem rapidamente e guardo as bolsas no porta-malas, me sentando no banco do motorista.
Bruna: Não precisa disso, gatinho — Eu coloco o meu cinto de segurança.
Felipe: sim, precisa — Dou partida para o hospital.
Felipe: Eu não me importo nem um pouco em ir ao hospital por algo "bobo", pelo menos terei a certeza de que vocês três estarão bem.
Bruna: Tudo bem, você não acredita na minha... P-Palavra.
Felipe: Não é que eu não acredi... Você gaguejou. O que está acontecendo? E não minta para mim, me ajude a te ajudar, meu anjo — Ela ri fraco.
Bruna: D-Dor. Está doendo.
Felipe: Se acalma! Respira fundo. Um, dois, três... — Ela respira fundo.
Felipe: Melhor?
Bruna: U-Um pouco.
Felipe: Acha que podem ser contrações?
Bruna: Não irei descartar essa... P-Possibilidade.
Felipe: Deus... — Suspiro. Vai dar tudo certo, Felipe, se acalma, vai dar tudo certo.
Bruna: Estamos chegando?
Felipe: Quase. Aguente só mais um pouco — Bruna assente e eu acelero mais um pouco. Faltavam apenas alguns quarteirões para que chegássemos ao hospital.
Fui conversando com Bruna o caminho inteiro, tentando distrair ela, para que ela não prestasse tanta atenção nas dores.
Chegamos ao hospital e eu ajudo Bruna sair do carro o mais rápido possível, entrando no ambiente.
Felipe: Agnes! — Grito ao vê-la de longe e ela arregala os olhos, correndo até onde eu e Bruna estávamos.
Agnes: Felipe, Bruna? O que fazem aqui?
Bruna: D-Dor... Agnes: Vem comigo — Ela pega uma cadeira de rodas que estava ali perto e ajuda Bruna a se sentar.
Felipe: Irão nascer agora?
Agnes: Não sei. Mas busque a bolsa com as coisas deles enquanto eu levo Bruna para fazer exames. É melhor previnir. Nos encontre na mesma sala de sempre, certo? — Eu assinto e vou para o estacionamento, pegando as bolsas dos gêmeos.
Felipe: Vai dar tudo certo, Felipe, fica tranquilo! Os três logo logo estarão bem — Respiro fundo, me acalmando, e volto para dentro do hospital, indo até a sala em que doutora Agnes sempre nos atendia.
Agnes: Felipe — Ela me olha assim que eu entro na sala.
Felipe: Está tudo bem, não é?
Agnes: Teremos de fazer um parto de emergência.
Felipe: O quê? — Meu coração acelera. Só agora que caiu a ficha. Meus filhos vão nascer. Oh, céus, meus filhos vão nascer!
Agnes: Eu já pedi para organizarem a sala de parto. Será uma cesariana de emergência.
Felipe: Bruna quer parto normal... — Ela nega.
Agnes: Não temos outra saída. A vida dos três está em extremo risco.
Felipe: C-Como?
Agnes: Não dá tempo de explicar. Aqui, vista isso e higienize bem as mãos. Você é o pai, tem todo o direito de acompanhar a cirurgia, mesmo não sendo apropriado no momento.
Felipe: E onde está Bruna? — Coloco as bolsas dos gêmeos em cima da mesa.
Agnes: Está saindo da sala de exames. Foi tudo muito rápido. Acho melhor Você ir logo — Eu assinto e entro no banheiro, vestindo aquela "roupa" que ela havia me dado. Pego meu celular e mando mensagem para Stellar, avisando que os gêmeos iriam nascer, e peço para que ela avise todos. Guardo o celular no bolso e higienizo bem as mãos, suspirando. Eu estou com um pressentimento e ele não parece ser nada bom.
Felipe: Sem pensamentos negativos — Suspiro, saindo do banheiro.
Agnes: Vamos — Ela sai da sala e eu a acompanho.
Felipe: Eu posso perder um deles?
Agnes: Eu não vou mentir, Felipe... As chances são altíssimas.Principalmente para Bruna.
Felipe: D-Deus... Não pode ser.
Agnes: Eu farei o possível para que nada aconteça com nenhum deles, está bem? Mas agora você tem que me prometer uma coisa — Paramos em frente a uma sala e ela me encara.
Felipe: O quê?
Agnes: Você vai dar o seu melhor para tentar deixar Bruna acordada durante toda a cirurgia.
Felipe: Eu vou tentar, eu prometo.
Agnes: Qualquer coisa que acontecer, você me avise. Eu vou estar concentrada na cirurgia e não vou poder ficar observando vocês, então você precisa me ajudar! — Eu Concordo.
Felipe: Darei o melhor de mim. Os três são importantíssimos na minha vida.
Agnes: Certo. É agora — Entramos na sala e eu vejo uma equipe - bem grande, até - de médicos e Bruna deitada em uma... Cama? Ah, sei lá o que era aquilo.
Felipe: Princesa... — Vou até ela e ela dá um sorrisinho fraco.
Bruna: Gatinho...
Felipe: Olha... N-Não importa o que aconteça, nunca me deixe, está bem? — Ela assente.
Bruna: Eu amo você...
Felipe: Fique com os olhos abertos, está bem? Não os feche — A cirurgia havia acabado de começar. Eu e Bruna conversávamos "normalmente" - entre aspas porque não é normal conversar com alguém que está em cirurgia, pelo menos, eu não considero normal -, até eu perceber que os olhos ds Bruna começavam a pesar.
Bruna: G-Gatinho...
Felipe: Agnes... — A olho.
Agnes: Se ela desmaiar vai ser pior, Felipe, deixe-a acordada! — Eu assinto e desço meu olhar para Bruna.
Felipe: Princesa, olhe para mim — Ela me olha, com sua respiração um pouco desregulada.
Felipe: Aguenta firme. Vai dar tudo certo.
Bruna: Eles vão... Vão nascer a-agora?
Felipe: Sim. Acredito que a queda trouxe algumas preocupações, e os médicos disseram que seria um parto de emergência.⁣
Bruna: Eu estou com trinta e três semanas...⁣
Felipe: É o jeito, meu amor. A vida de vocês três está em risco, e eu não vou perder nenhum.⁣
Bruna: Desculpe... — Ela vai fechando os olhos lentamente, mas eu a faço abri-los novamente.⁣
Felipe: Não! Princesa, fique aqui comigo. Não feche os olhos, P-Por favor, faça esse esforço por mim... Por mim e por nossos filhos. ⁣
Bruna: E-Eu não queria, gatinho, mas... É-É mais forte que e-eu...⁣
Felipe: NÃO! — Grito.⁣
Felipe: Você não vai! Você vai ficar aqui, comigo, princesa. Por favor, meu amor — Lágrimas começaram a descer por meu rosto descontroladamente.⁣
Bruna: Nunca se esqueça da nossa noite passada... — Ela sussurra e, por fim, fecha os olhos.⁣
Felipe: Princesa? Bruna? Acorda! Agnes, ela f-fechou os olhos, Agnes! ⁣
Agnes: Ela o quê?⁣
Felipe: D-Desculpe, eu... — Ela me interrompe.⁣
Agnes: Para fora da sala, por favor. Clara, a garota — Uma enfermeira vem até mim e Bruna e eu me abaixo, beijando sua bochecha.⁣
Felipe: Eu te amo, m-meu amor...⁣
Agnes: Por favor, Felipe, não complique ainda mais as coisas! — Eu assinto e saio da sala de cirurgia, me sentando no banco mais próximo. Eu não posso perder ela, não posso! ⁣
Felipe: N-Noite passada... — Sussurro, lembrando de ontem à noite.⁣
⁣ Flashback;; Felipe: Certo, eu já entendi. Mas você me ama? — Ela ri.
Bruna: Para, seu bobo! Eu já disse que sim. Te amo, te amo, te amo muito! — Ela cola nossas testas e esfrega seu nariz no meu, me fazendo rir.
Felipe: Eu te amo, meu amor! — Beijo seu rosto milhares de vezes, ouvindo a risada mais gostosa do mundo inteiro.
Bruna: G-Gatinho, para!
Felipe: Por quê?
Bruna: F-Faz cócegas! — Ela continua rindo e eu paro de beijar seu rosto, a encarando.
Bruna: O que foi?
Felipe: Eu te amo... Te amo! Nunca imaginei que passar um dia inteiro com você pudesse ser tão bom. Está sendo um dos melhores dias da minha vida! — Bruna sorri e me beija.

Flashback;; Chorei... Chorei muito. Oh, como eu chorei! Ela tem que ficar bem, eu não posso perder o meu amor. Não posso perder a minha princesa!
Agnes: Felipe? — Ouço a voz baixa de Agnes e rapidamente me levanto, a olhando.
Felipe: A-Agnes! A cirurgia já acabou?
Agnes: Sim. Não foi tão... Demorada.
Felipe: Como estão os gêmeos? E Bruna? Eles estão bem, não é? — Ela suspira.
Agnes: Os gêmeos estão bem. Os enfermeiros estão dando banho e arrumando eles agora. Logo eu venho te chamar para vê-los — Eu sorrio aliviado.
Felipe: Ah, graças a Deus! — respiro fundo.
Felipe: E Bruna? Ela está bem também, não é?
Agnes: Felipe, eu não sei nem como te dizer isso... — O sorriso que havia em meu rosto some.
Felipe: N-Não... Não me diga que o que eu mais temia aconteceu — Ela fica calada.
Felipe: E-Eu... Não! — Volto a chorar e vejo ela sem saber o que fazer.
Agnes: Eu tentei, Felipe, mas estava tudo muito complicado...
Felipe: E-Eu quero ficar s-sozinho...
Agnes: C-Claro... — Ela sai e eu me encosto na parede, deslizando até o chão. Eu... Eu perdi ela? Perdi o amor da minha vida?
Stellar: Felipe? — Ouço a voz de Ste. Eu não falei nada, apenas fiquei sentado no chão, chorando, chorando muito. Meu coração dói, dói muito, muito. É uma dor insuportável, que, somada com a minha vontade de chorar e o nó em minha garganta, me dá vontade de fazer coisas que eu não deveria nem imaginar em um momento como esse.
Chrissy: Hey... — Sinto alguém tocar meu rosto e eu levanto a cabeça lentamente, vendo Chrissy, Stellar e Elisa ali.
Elisa: Papai! — Ela vem até mim e me abraça.
Felipe: M-Meu amor...
Elisa: Por que você está chorando, papai? — Ela passa seus dedinhos em meu rosto e eu sorrio fraco.
Felipe: Nada demais, minha princesinha... — a abraço e olho para Chrissy e Ste.
Stellar: Como Bruna e os gêmeos estão?
Felipe: Filha... Faz um favor para mim? — Ela se afasta do abraço e me olha.
Elisa: O quê?
Felipe: Ali tem um bebedouro. Pega água para o p-papai? — Aponto.  Ela assente e vai até o bebedouro, então eu lentamente me levanto.
Felipe: Ela... Ela se foi.
Chrissy: O QUÊ?
Stellar: O QUÊ? — Elas gritam em uníssono.
Felipe: A cirurgia acabou há pouco tempo, mas eu já recebi a notícia de que... Q-Que eu a perdi — Soluço e as duas me abraçam, também chorando.
Stellar: Não pode ser verdade...
Felipe: A-A última frase dela foi... "Nunca se esqueça da nossa noite passada"... E isso está doendo, doendo M-muito.
Chrissy: O-O que aconteceu noite passada?
Felipe: F-Foi... O dia mais feliz da minha vida. Ela cantou para mim, me c-contou histórias de quando era pequena, disse tudo o que queria fazer quando os gêmeos nascessem e... D-disse muitas e muitas vezes o quanto me amava. Eu nunca havia me sentido tão feliz — Soluço.
Felipe: E essa foi a... A última noite — Meu corpo fraqueja e eu caio no chão, sentindo alguém me abraçar
Elisa: Papai... Papai, por que você está chorando, papai?
Felipe: E-Eu... — Tento dizer algo, mas meu choro impede.
Chrissy: F-Filha, vem aqui com a mamãe, vem.
Elisa: Você Também está chorando, mamãe? E a titia Ste também? Não, não chorem!
Agnes: Felipe? — Ouço a voz de doutora Agnes.
Elisa: Papai... — Eu me levanto do chão.
Felipe: A-agora não é o momento, filha. Ste, hospital não é lugar de criança... — Falo com um nó na garganta e Stellar me abraça.
Stellar: V-Vai ficar tudo bem... Nunca se esqueça, você não está sozinho — Eu beijo a bochecha dela e ela sai junto com Chrissy e Elisa. Chrissy e Ste estavam quase tão desnorteadas quanto eu.
Felipe: A-Agnes... — A olho.
Agnes: Me desculpe, Felipe, eu dei o meu máximo... — Eu a abraço.
Felipe: E-Eu nem sei o que dizer... Eu imaginava que esse seria o melhor momento da minha v-vida! M-Mas...
Agnes: E-Eu... Desculpa — Ela abaixa a cabeça.
Felipe: A culpa não é sua. Você s-se esforçou — Tento sorrir, mas não consigo. A tristeza é muito maior.
Agnes: Eu vou te levar para ver eles. Talvez isso te acalme um pouco — Ela tenta não demonstrar, mas eu percebo sua tristeza.
Felipe: Agnes, a culpa n-não foi sua, está bem? Eu sei que você deu o seu melhor — Ela sorri fraco e vai andando, então vou atrás dela.
Agnes: Irei... Irei deixar você a sós com os seus pequenos. Qualquer coisa que precisar, chame um enfermeiro — Eu assinto e entro no quarto, fechando a porta.  As lágrimas começam a descer ainda mais rápido pelo meu rosto. Eles são lindos, lindos igual a mãe.
Felipe: M-Meus filhos... — Pego os dois no colo e me sento na poltrona que ali havia, vendo eles se aconchegarem em meus braços.
Felipe: Maya e Martin... Vocês são meu porto seguro a-a partir de agora. P-papai irá protegê-los de todo o mal aqui na terra... E mamãe cuidará de vocês lá do céu — Beijo a bochecha deles, enquanto chorava.

Bruna Gomes, mãe de meus filhos Maya e Martin, você terá, para todo e eterno sempre, todo o meu amor. [FIM] •

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