Chapter One

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Any's pov

E mais uma vez aqui estou eu, sentada no chão do banheiro feminino com apenas um objetivo: continuar respirando. "Conta até 10 e pensa em algo bom" era o que Sabina me diria se estivesse aqui. Mas é difícil pensar em algo bom quando as últimas palavras que se ouviu foram "ela... infelizmente não resistiu à cirurgia. Sinto muito." Essas foram as únicas frases que saíram da boca do médico responsável pela minha mãe antes que ele se virasse e saísse andando, sem nem olhar para trás. Minha mãe era tudo o que eu tinha, ela foi mãe, pai, avó, avô e toda família em uma só. Ela era uma das únicas razões pela qual eu ainda estou aqui. A pessoa que eu mais amei. A pessoa que eu mais amo se foi. Eu estou sozinha nesse mundo. Eu não tenho mais ninguém. Tudo dói, meu coração, meus pulmões estão falhando. Meus olhos estão fechando e eu não sei se quero acordar depois. Estou fraca, mas uso as minhas últimas forças para soltar um baixo "me leva contigo mãe". E assim, eu apaguei.

*

Depois de ter ficado presa no hospital por horas pois os médicos não sabiam se eu estava "emocionalmente bem para fortes emoções", eu finalmente consegui alta para ir no velório da minha mãe. Sabina veio comigo, eu precisava dela ao meu lado. As pessoas me abraçam o tempo todo, me dizem que sentem muito e soltam a clássica frase do "vai ficar tudo bem". O que elas não entendem é que nem sempre é assim. Desde os meus 10 anos eu espero o dia em que fique tudo bem. Espero o dia em que meus traumas, medos, angústias e paranoias me deixem viver. Mas isso nunca ocorreu. E quanto mais velha eu fico, mais coisas ruins acontecem e isso tudo só piora. Então eu me atrevo a falar que sim, a morte da minha mãe foi a gota d'água. Eu nunca quis que ela sofresse com a minha perda, então eu sobrevivia por ela. Mas esse motivo já não é mais importante. Acho que finalmente sou livre para fazer a minha escolha. A escolha que eu já fiz há alguns anos, mas que eu ainda não havia posto em prática. Ainda.

Xxx: desculpe senhorita, precisamos fechar o caixão.- escuto a voz que julgo ser de um membro da funerária e apenas olho para os olhos fechados da pessoa que eu mais amei e digo:

-Me desculpa mamãe. Me desculpa por não ter sido a melhor filha do mundo. Me desculpa pelo que eu vou fazer. Me desculpa se eu não me encontrar no céu contigo por causa dessa minha decisão, que provavelmente vão julgar a pior do mundo. Me desculpa por não ser forte o suficiente. Eu te amo, minha rainha.- susurrei tudo isso torcendo para que Sabina não escutasse e vi o caixão ser fechado, e com ele, o meu coração. Senti os braços de minha melhor amiga na minha cintura e ela me guiou até o cemitério. E meu mundo parou ali mesmo. Tudo o que eu senti foi enterrado junto com a pessoa mais importante da minha patética vida.

10 days {Beauany}Onde histórias criam vida. Descubra agora