10 days {Beauany}

Chapter Two

Any's pov

Já se passaram 2 dias desde o dia da tragédia. E adivinhem? Estou agora no escritório do advogado da minha mãe tentando arrumar um jeito de que a minha guarda não vá para a minha avó. Ela seria indicada como minha responsável mais próxima, já que meu queridíssimo pai está apodrecendo na cadeia. Porém, minha linda avó me odeia. Ela, branca dos olhos azuis, sem nenhuma origem negra ou pobre nunca aceitou o fato de que minha mãe havia se apaixonado por um negro, pobre e brasileiro. E quando descobriu que ela estava grávida, nada melhor do que colocar a filha para fora de casa e dizer que a "provável preta" que iria sair de sua barriga nunca seria bem vinda nem perto dela. Eu nunca a vi pessoalmente. Sei que minha única tia é incrivelmente estúpida como ela, e que a família do meu pai nem sabe da minha existência, já que ele era um refugiado. Ou seja, sim, era mais do que provável que fossem me obrigar a viver com ela. E isso só me mostra que esse não é o meu lugar, eu só faço 18 em setembro do ano que vem, não posso morar com minha avó racista e ignorante enquanto isso. Mais um motivo para a minha listinha do "não tem porque continuar viva". O advogado me diz que vai fazer o que puder para que eu consiga a minha emancipação, mas que é um processo longo, e até lá eu tenho que me preparar para o que a justiça decidir. Vontade de dizer para ele que era bobeira ele se preocupar, já que provavelmente ao fim do processo eu já estaria morta não faltou, mas, como sempre e principalmente desde anteontem, Sabina sempre está do meu lado ouvindo e vendo tudo. Qualquer movimento em falso seria uma grande derrota. Ela não pode saber do meu plano.

*

Já estamos na casa de Sabina e agora ela está no banho, ou seja, um ótimo momento para que eu comece minha carta. Sim, minha carta de despedida para a garota. Ela é literalmente a única pessoa que eu ainda me importo e que sei que realmente se importa comigo. Então começo:

"Oi Sabi, provavelmente, se você está lendo isso é porque eu já não estou mais aqui. Eu queria lhe pedir desculpa, por não ter sido a melhor amiga do mundo, e principalmente por não ter seguido os seus conselhos. Você foi uma das pessoas mais importantes da minha vida, e não quero que se sinta culpada pela minha decisão. Quero que pense que foi o melhor para mim e para você. Você merece ser feliz Sabina, viajar todo esse mundo e ser muito amada, não viver presa á uma menina cheia de problemas que não sabe lidar nem com uma crise sozinha. Eu quero que você seja feliz meu amor, a pessoa mais feliz do mundo. Conheça todos esses cantos do mundo por mim. Espero que entenda o meu lado e me perdoe."

Eu te amo.
Any.

*

Terminei a carta e corri para escondê-la entre minhas coisas. Não escrevi muitas coisas pois não queria deixar isso ainda mais difícil para nós duas. Sequei as lágrimas que haviam caído e fingi naturalidade. O meu fim estava cada vez mais próximo e eu, cada vez mais preparada.