Feche os olhos e dê um passo adiante...." Sugeriu o Arcanjo, esperando que o Principado acatasse a decisão, embora fosse mais um conselho. Segurava firmemente a sua mão. Depois disso, não estariam mais no céu, mas no espaço profundo, semivazio, não fosse por algumas criações já pinceladas no espaço infinito. Outros Anjos aguardavam ali. Pelo Arcanjo. Ele checou se Aziraphale estava ao seu lado e sorriu a ele. O silêncio também era inacreditavelmente perturbador, mas não impedia que eles conversassem. Frente a Raphael, um grande espaço de escuridão vazia se estendia.
"Podemos começar?" Perguntou o Arcanjo calmamente.
Aparentemente os outros Anjos formavam uma equipe mais ou menos fixa, que ajudava Raphael na criação de estrelas e outros corpos celestes. Quase como uma construção dos dias atuais. Alguém tem a ideia e monta o seu esqueleto e outras pessoas se unem a ela para completar o serviço. Aziraphale seria a testemunha, mas uma testemunha com papel essencial. Documentar que tudo aquilo aconteceu algum dia. E como aconteceu.
Aziraphale engoliu em seco ouvindo aquela sugestão que era mais como ordem e fez o que foi pedido confiando totalmente no Arcanjo, mas segurando sua mão a todo momento. Era um vazio esmagador... Parecia que não tinha mais volta. Eram apenas os dois naquela imensidão assustadora. O Anjo internamente estava feliz de não estar sozinho.
Pode notar claramente o olhar dos outros Anjos sobre si e como pareciam confusos com sua presença tão próxima a Raphael. Desconfiavam de algo? Mesmo assim ele não saiu do lado dele um instante sequer... Não lhe foi ordenado isso. Acenou um sim com a cabeça.
Logo acompanhou os outros trabalhando e pôs-se a se mexer também. Tentava o mais rapidamente narrar, descrever e desenhar tudo o que acontecia ao seu redor, juntamente com memorizar com precisão o trabalho que acontecia em uníssono em sua frente. Parecia uma obra de arte e de fato era. Seus olhos marejavam a cada movimento milimetricamente calculado de Raphael. Era tudo artisticamente perfeito. Quase deixou suas anotações caírem uma ou duas vezes de tanta emoção.
Raphael sabia que não precisava se preocupar demais com o Principado no sentido dele se perder. Apenas checaria periodicamente se ele não se havia se distanciado naquela vastidão e se o acompanhava relativamente de perto, não ficando absorto demais em suas próprias descrições.
O que Raphael planejava ali era algo grande. O espaço à frente indicava isso. Ele passara dias esperando por iluminação e forças para concluir pelo formato e tamanho ideais. Não poderia haver erros. Mas ele tinha fé de que, com a orientação d'Ela em suas mãos, guiando toda a estrutura a que ele se dedicaria a criar, certamente não haveria de haver maiores problemas. Muito trabalho aconteceria depois de formado o esqueleto daquele novo lugar, mas o trabalho não era apenas dele. E muito menos, terminaria em um dia, como havia dito à sua Nuvenzinha. Anjos falavam com ele, e como se estivéssemos na época moderna na Terra, grandes pergaminhos com desenhos foram compartilhados. Cada um mostrava a natureza e o objetivo do que estava sendo criado. Mas eram apenas artifícios que serviam como ajuda, para não contar com a imaginação apenas, para tê-la registrada em algum lugar temporário. Semelhante ao que Aziraphale fazia, mas com menos poesia.
Então mais afastado dos outros Anjos, o Arcanjo pareceu finalmente se concentrar profundamente, olhava as próprias mãos e o espaço à sua frente. Um brilho crescente iluminava seu corpo e fluía até a ponta de seus dedos, primeiro numa energia forte, que poder-se-ia temer incontrolável, mas aos poucos, Raphael lidava com ela, como quem lidava com a massa de um bolo, lentamente se tornando maleável, até que ele pode expandi-la com as mãos, numa teia brilhante, que lembrava bilhares de estrelas brancas. A forma, por fim, se tornou fixa, estável e o Arcanjo a soltou devagar, como se ainda temesse que ela pudesse se mover ou se partir. Havia se tornado semitransparente, exceto pelos pontos de luz. E agora parecia leve como teia de aranha.
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Quando Éramos Anjos | Good Omens fanfic
FanfictionEssa história começa antes da história. Antes do tempo contar como tempo. Antes de Crowley e qualquer outro demônio existirem. Antes de Aziraphale conhecer Crowley, no início daqueles 6000 anos, que eles consideravam realmente, o princípio de tudo...