Fui acordada com mimos e beijos serem depositados sobre a minha bochecha exposta. Rolei na cama ficando de barriga para cima. Abri os olhos e deparei-me com o Miguel sorrir para mim.
- O que é que estás aqui a fazer? Já viste se alguém te apanha aqui? — sentei-me rapidamente preparando-me para ir trancar a porta. - Calma, já está trancada — disse agarrando-me o braço. - Nós estamos a arriscar imenso, Miguel. Não nos podem apanhar... - Porquê? Tens vergonha de mim é? - sorriu. - Deixa de ser parvo, claro que não. - Então? — perguntou curioso com um sorriso estampado na cara. - E então que sei lá, ia ser estranho para os nossos pais, não achas? - Eles habituavam-se não te preocupes. Vá agora levanta-te e veste-te que vamos passear o dia todinho. - E visto o quê? - Roupa? - perguntou confuso. - Wow, ajudaste imenso — gargalhei.
Acabei por me levantar e ir escolher a roupa. Enquanto isso o Miguel disse para depois ir ter com ele ao café ao lado da sua casa e abandonou o quarto. Vesti a minha roupa e o fato de banho por baixo e saí, mas antes fui avisar a minha mãe que ia sair. Depois disso fui ter com ele ao lugar combinado e partimos no nosso passeio.
O caminho até às docas foi feito com boa disposição e sorrisos à mistura.
- Acreditas que nunca tinha vindo cá? - disse à chegada. - Às docas? — perguntou surpreso. - Sim - gargalhei. - Como é que isso é possível se quer? - You know, sempre que venho para a ilha estou com os meus amigos e costumamos sempre ir para os mesmos lugares, praia, café, café, praia — disse enquanto apreciava o Miguel despir a sua t-shirt. - Epá realmente, só eu para te mostrar um lugar novo — disse puxando-me contra o seu corpo. Depositou um beijo nos meus lábios e deu a correr em direção à água.
Dei por mim a sorrir ao vê-lo correr que nem uma criança. Quando chegou à água e viu que ainda estava no mesmo lugar che ou-me acrescentando que a água estava ótima.
Despi a roupa, ficando apenas de fato de banho e percorri o mesmo caminho que ele, também a correr.
- A isto é que chamas de água ótima? - disse assim que os meus pés tocaram na água. - Não sejas fraquinha vá! Se não vieres vou te buscar aí! — ameaçou.
Rendi-me e lá entrei, em esforço, dentro da água. A cada momento que ia passando o meu corpo ia-se habituando à temperatura da água.
O tempo que passamos nas docas foi muito bom porque conseguimos conhecer-nos melhor, saber os objetivos de vida de cada um de nós, e por incrível que pareça bastantes deles são os mesmos, o que me deixou com esperanças de que talvez isto não fosse apenas uma curte de verão. Mesmo sabendo que em menos de um mês estaria de volta à realidade, em França.
- Foi tão bom este tempinho aqui contigo — disse quando ainda estávamos dentro de água, frente a frente. - É eu sei, já me disseram — disse com um ar convencido e um sorriso parvo na cara. - Estamos muito engracadinhos, portanto —bati-lhe levemente no peito nu. - Falando em coisas sérias. Os teus amigos disseram alguma coisa? - Não, e isso deixa-me um bocado preocupada. Não sei se significa que já sabem, ou se significa que já sabem e me odeiam. Não sei o que fazer. Será que marco alguma coisa com eles e lhes digo? - Na minha opinião, é sempre melhor eles saberem por ti do que saberem por terceiros — disse ao mesmo tempo que me acariciava o cabelo molhado. - Tens razão. Vou ali mandar-lhe mensagem a marcar qualquer coisa para falar com eles hoje. - Queres que vá contigo? - Não, achas? Tens noção que se eles te apanham que matam, não tens? — falei com os olhos arregalados. - Eles que venham então. - Não, Miguel. Não quero confusão, okay? Isto já é confusão que chegue — olhei-o profundamente nos olhos para que este entendesse que estava a falar muito a sério. - Está bem, mas se eles começarem com merdas, desculpa lá mas não vou ficar quieto — não consegui não olhar de lado para ele com a sua última frase.
Minutos depois fui até ao lugar onde estavam as nossas roupas, peguei no meu telemóvel e mandei mensagem para cada um dos meus amigos, exceto a Francisca, a pedir que fossem ter comigo por volta das três da tarde. Depois disso voltei para a beira do Miguel.
- Vamos andando? — perguntou o Miguel quando já nos encontrávamos os dois vestidos e prontos para embarcar na viagem até à praia onde íamos almoçar. - Sim.
O caminho até à praia foi feito com muitos risos e alguma cantoria à mistura. Chegámos à praia e entramos no bar da praia para termos o nosso tão esperado almoço.
- Ai, este almoço soube-me pela vida. Agora era uma sestinha e eu era feliz. - Epá pareces um velho meu — garhalhei.
Voltamos para casa, entrando um de cada vez com um intervalo de algum tempo entre a entrada de cada um de nós. Subi para o quarto, tomei um banho e troquei de roupa para de seguida ir ter a conversa mais difícil dos últimos tempos.
- Obrigada por terem vindo — dei um sorriso fraco. - Então e qual é a urgência? — perguntou o Tiago super curioso. - Isto não é fácil de se dizer... - Vais voltar para França já? - ouvi a voz do Pimenta. - Não... antes de eu dizer o que é que se passa eu quero pedir-vos desculpa por isto e espero que me perdoem. - Conta lá vá — voltei a ouvir o Pimenta. - Como é que hei de dizer isto... O namorado da Francisca traiu-a. - Sim e o que é que tu tens a ver com isso? — perguntou intrigado o Tiago.
Desviei o olhar para a Carolina e sem que dissesse nada consegui ver o desgosto estampado na sua cara ao aperceber-se do que se havia passado.
- Não... tu não fazias isso... — disse a Carolina com a voz rouca. - Podem me explicar é que eu não estou a perceber — pediu Pimenta. - Foi comigo que ele a traiu - disse com a minha cara virada para as minhas mãos pousadas sobre as minhas pernas. Por momentos instalou-se um silêncio constrangedor entre nós os quatro.
- Ela sabe disto? — o Pimenta acabou por quebrar o silêncio que já se encontrava à bastante tempo. - Sabe — disse ainda com a mesma postura. - Foste a maior desilusão da minha vida — disse a Carolina que logo de seguida se levantou e foi embora. - O teu namoradinho que não tenha a infelicidade de se cruzar comigo — ameaçou Tiago. Levantou-se juntamente com o Pimenta e deixaram-me sozinha. Nunca o tinha visto tão agressivo.
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