Stan acordou, não se lembrava como e nem porque mas ele estava em um cômodo largo com outras quatro pessoas ao redor tão assustadas quanto ele, não havia nada no local a não ser as pessoas e uma TV colada a parede, que alguém ja havia tentado ligar em vão. As pessoas se entreolhavam tentando descobrir se alguém tinha alguma informação mas ninguém tinha a menor ideia do que estava acontecendo, até que a televisão se ligou sozinha e um homem apareceu olhando diretamente para eles que se aproximaram lentamente da televisão, esperando que ele falasse.
— Devem estar se perguntando porque estão aqui. Deixe-me explicar, vocês foram convidados para participarem de um experimento social, um novo reality show. Todos vocês ficaram presos nesse cubo sem nenhuma interação com nenhum objeto, nem internet, nem mesmo a televisão, ela será usada apenas para eu me comunicar com vocês, a única companhia que vocês terão será uns aos outros.
O homem na televisão observou os murmurinhos ao redor com um sorriso satisfeito no rosto, ele não conseguia esconder a empolgação.
O homem que a essa altura apenas havia se identificado como Monitor, apresentou uns aos outros. Ali estavam Stan, Marcos, Sheila, Alina e Bill.
Os cinco foram escolhidos a dedo e ficaram ali naquele cubo juntos devido as suas personalidades distintas, aquilo tornaria o reality show interessante para a população que assistiria ao programa vinte e quatro horas por dia sem intervalos vendo cada respiração que eles fizessem, o grande problema é que nenhum deles havia se inscrito para programa nenhum, em outras palavras haviam sido sequestrados para fazerem parte daquela primeira edição do programa, porém havia um outro problema.
— O objetivo é simples, vocês cinco estão aí dentro mas só um pode ser o vencedor. - disse o Monitor.
— Então é um teste de resistência? Nós só temos que aturar uns aos outros? Se não aguentamos nós apertamos algum botão para sair? - perguntou Bill se auto colocando na liderança do grupo.
— Fico feliz que tenha perguntado. As coisas não são tão simples, existe sim um botão para sair do jogo e ele está logo abaixo dessa tela que eu estou aparecendo, porém deixe me lhes mostrar o que acontece caso alguém a aperte.
Uma porta camuflada se abriu e um homem trajado completamente de branco e sem nenhuma expressão emocional surgiu no cubo em que estavam e caminhou até a tela onde estava o botão, o pressionou e uma enorme pressão acima dele surgiu fazendo com que os membros de seu corpo se soltassem e se degenerassem até se tornar um esqueleto em uma fração de segundos, o homem obviamente havia morrido. O teto acima do cadáver se transformou em uma espécie de aspirador para limpar a área e deixar tudo pronto para a explicação do Monitor continuar.
— Como vocês puderam perceber só ha duas formas de sair do jogo: mortos ou vencendo. O grande objetivo é premiar o último a sobreviver. - disse o Monitor.
— E qual é o prêmio? - perguntou Sheila parecendo interessada no programa.
— Isso é segredo, só o ganhador pode saber. Eu já disse todas as regras, só um de vocês pode sair com vida, sou apenas o Monitor. Sirvo apenas para auxiliá-los, alguns de vocês podem não me ver mais até eu aparecer de novo já que estarão mortos.
A tela se desligou, mesmo com todos querendo tomar a frente para fazerem perguntas, o Monitor não iria voltar para responde-los, pelo menos não tão cedo. Todos se entreolharam imaginando quem seria o primeiro a ser morto ou o primeiro a matar alguém, obviamente nenhum deles teria coragem para tomar uma atitude, todos eles eram pessoas comuns e não assassinos. Havia um professor, um contador, uma dentista, uma veterinária e um vendedor no local e nenhum deles havia sequer agredido alguma outra pessoa.Alina se isolou em um canto entre as quatro paredes e pôs as mãos no rosto e começou a chorar em desespero, Stan se aproximou dela e tentou começar a puxar assunto com ela, no fundo ele só estava a garantindo como uma aliada para que não tentasse matar ele depois, ele estava sendo frio e calculista.
— Olha, tudo isso vai passar. Nossas famílias e amigos sentiram nossa falta, nenhum de nós está aqui voluntariamente. O Monitor disse que isso está na televisão mas eu não acredito nisso, ele é só um louco. Logo a polícia estará aqui e nos resgatará. - disse Stan.
— Você parece bem confiante nas suas palavras, você deve estar certo. - disse Alina com um sorriso embaraçoso.
Stan sorriu para ela e se sentou ao seu lado esperando fortalecer o vínculo de amizade, e ter pelo menos um aliado. Apesar de suas palavras reconfortantes, ele mesmo não tinha muita certeza disso e por ser uma pessoa calculista estava tentando garantir sua sobrevivência mesmo que houvesse uma chance mínima do reality show ser verdadeiro.
— O seu nome é Alina, não é? - perguntou Stan.
— Sim. - Ela confirmou.
— O que você faz da vida?
— Eu sou veterinária.
— Você gosta do que você faz?
— Sim, por que a pergunta?
— Se existir uma possibilidade desse prêmio ser verdadeiro, o que você acha que é? - perguntou Stan.
— Eu não sei, dinheiro talvez.
Stan deu uma leve risada tentando parecer sério.
— É sempre o dinheiro, não é? - disse Stan com o olhar distante.
— O quê você faz da vida? - perguntou Alina.
— Eu sou contador.
— Por isso a reação estranha quando falei que o prêmio deve ser dinheiro?
— Sim, eu acho que se existisse uma possibilidade mínima de eu mudar de vida, eu o faria sem hesitar. - disse Stan olhando para o teto.
— Falando desse jeito, parece até que você acredita que o reality show é verdadeiro. - contestou Alina.
— Temos que considerar que existe essa possibilidade.
— Se ele for real, você planeja me matar? - perguntou Alina seriamente.
— Não, eu não. Eu nunca tocaria as mãos para fazer mal a uma mulher como você.
— Então, pretende matar os outros?
Stan pensou duas vezes antes de responder.
— Eu não sei, todos nós deveriamos pensar em um jeito de sair daqui.- disse ele confuso se seria capaz de matar alguém.
— Sei o que está tentando fazer, me manter por perto para eu não te matar depois, bem inteligente da sua parte, um exímio estrategista. - disse Alina ironicamente.
— Só porque estou tentando conversar com você, você está pensando essas coisas?
— Não, estou pensando isso pois assim que me viu chorando você veio direto falar comigo sem nem se preocupar com os outros, pressupondo que eu sou frágil. A verdade é que eu não estava chorando, estava fingindo para saber quem seria o primeiro a vir falar comigo, acontece que voce me julgou errado, achou que seria uma boa estratégia falar comigo mas a verdade é que a verdadeira estrategista sou eu e agora sei que você e o mais frágil pois precisa de alguém do lado para se sentir seguro, então agora eu sei que se esse reality show for verdadeiro você sera a primeira pessoa que eu pensarei em matar.
Stan ficou sem reação, ficou com raiva, ele não sabia se deveria tentar matar ela ali naquele momento ou simplesmente se afastar e deixar as coisas fluirem naturalmente e deixar o confronto pra depois, tentou fazer uma aliada e acabou conseguindo fazer uma inimiga.
Os outros também interagiam entre si, talvez fosse uma boa ideia Stan tentar se enturmar com eles e fazer uma aliança sem erros dessa vez.
Bill parecia ser o mais prepotente e arrogante, o seu espirito impulsivo talvez fosse de grande ajuda, Stan se aproximou e tentou convencê-lo de que deveriam ficar unidos até o final do programa. Bill rejeitou solenemente, dizendo que era patético fazer uma aliança em um lugar onde só um sobreviveria.
Stan ainda poderia tentar algo com Marcos e Sheila, mas preferiu ficar quieto por enquanto e começar a pensar em quem eliminar primeiro. Marcos estava conversando com Sheila sobre as possibilidades de tudo aquilo ser real, e o que aconteceria quando alguém ganhasse o prêmio, também era difícil saber como algo daquele tipo era permitido.
Alina continuava sentado no mesmo canto, olhando ao redor, mantendo os olhos em Stan. Bill andava em círculos, tentando parecer ameaçador; mas ninguém tomava uma iniciativa.
A medida que o tempo passava surgiam a fome,o cansaço e a sujeira em seus corpos se acumulavam. Eles precisavam comer e dormir, mas aparentemente ninguém os iria dar qualquer tipo de conforto naquele lugar. Os dias se passaram, não sabiam quantos pois perderam a percepção de tempo devido ao isolamento, a essa altura já haviam percebido que o jogo era real e que ninguém os resgataria, começavam a pensar seriamente em matar alguém ali dentro para que tudo acabasse logo, estavam sofrendo mas ninguém teve coragem o suficiente para apertar o botão de desistência.
Quando imaginavam que estariam fadados a esse impasse, o Monitor surgiu novamente na mesma tela de antes fazendo com que os cinco se aproximassem.
— Eu percebi que o cubo está muito parado, as quatro paredes estão silenciosas. Vocês simplesmente não cumprem o objetivo do jogo, a intenção era começar e terminar no mesmo dia assim que houver somente um sobrevivente mas vocês são teimosos e ficaram esperando algum milagre acontecer. - disse o Monitor.
Todos ficaram em silêncio aflitos com aquilo, aquela altura a fome e o cansaço os deixavam sem forças para tentar argumentar.
— Nós precisamos de comida! - tomou a frente Marcos.
—E água, não vamos sobreviver muito se continuarmos assim. - disse Sheila.
— Essa é a intenção, alguns de vocês tem que morrer. - retrucou o Monitor.
— Não podemos nem recuperamos nossas forças antes de matarmos uns aos outros? Desse jeito não teremos forças para fazer qualquer coisa e ficaremos aqui muito mais tempo que o necessário. - apontou Alina.
— Você tem razão, sem forças não da pra jogar o jogo. Por isso eu tomei a liberdade de abrir uma votação aos nossos espectadores que estão os assistindo de votarem em quem eles queriam que morresse primeiro. - disse o Monitor sorrindo profundamente.
— O quê? - Todos gritaram em couro.
— Vamos tornar o jogo mais interessante. O primeiro a ser morto de acordo com nossas enquetes será… - o Monitor fez uma pausa dramática.
Todos se entreolharam e no fundo torcendo para que seus nomes não fossem ditos, porém um deles teria que ser morto.
— Marcos. - disse o Monitor.
Antes que qualquer um deles falasse algo, tentasse contestar ou até mesmo se oferecerem para ir no lugar pois não aguentavam mais estar naquela situação, Marcos foi atingido em sua cabeça por uma fração de segundos por alguma droga paralisadora que caiu direto do teto em sua cabeça fazendo ele perder todos os sentidos até ele morrer e cair no chão.
Ao contrário do teste feito dias atrás para mostrar o que aconteceriam se apertassem o botão, o corpo de Marcos permaneceu ali enquanto o Monitor os encarava como se estivesse dizendo apenas com o seu olhar o que deveriam fazer, mas os quatro restantes ainda o encaravam tentando obter a resposta óbvia.
— Vocês estão com fome, tem um corpo morto no chão. Não comem há dias, acho que não é necessário dizer que essa é a janta de vocês. - disse o Monitor.
— Não podemos comer um ser humano. - disse Sheila.
— Não estou obrigando ninguém a nada, se realmente precisam recuperar suas forças e suas energias. Aí está o alimento, se não quiserem, morram de fome! - disse o Monitor antes de desaparecer novamente antes que fosse confrontado novamente.
Os quatro olharam para o corpo, Alina foi a primeira a se abaixar e morder a coxa de Marcos com toda a força que conseguia para poder se alimentar.
— Não deveríamos esperar o corpo esfriar um pouco? - perguntou Stan.
— Vejam só para nós, eramos cinco pessoas estúpidas no começo e agora somos canibais discutindo como comer a porra de outro ser humano! - disse Bill irritado.
— Não se preocupe, vou deixar o pênis pra você. - respondeu Alina.
Enquanto os dois discutiam, um barulho de algo sendo esmagado os deu um susto olharam para a frente e viram que Sheila havia apertado o botão de desistência, sua cabeça foi esmagada por um bloco que caiu do teto e depois voltou para cima voltando a fazer parte da estrutura. Sheila agora estava morta e havia seu sangue espalhado pelo chão. Ficaram apreensivos, pois agora só restavam três.
Não tinham escolha, a fome estava falando mais alto. Os três comeram partes dos dois corpos mortos para saciarem a fome que sentiam. Após isso acabaram dormindo.Bill foi o primeiro a acordar, percebeu que os corpos dos mortos já não estavam mais ali, ele percebeu que Stan estava próximo dele e ainda estava dormindo, imaginou que seria um bom momento para acabar com ele e em seguida matar Alina para poder se sagrar o vencedor da competição. Bill se levantou e pisou na cabeça de Stan procurando uma maneira de esmaga-la ou fazer com que Stan ficasse sufocado, foi impulsivo e não pensou direito em como matar, poderia apenas ter dado um jeito de fazer Stan não respirar mais. Bill pisou com mais força na cabeça de Stan quase quebrando sua mandíbula, foi quando Alina como único recurso que tinha tirou sua blusa e a colocou em volta do pescoço de Bill tentando o sufocar e fazendo-o se afastar de Stan que se levantou assustado com a cena. Bill e Alina caíram no chão ainda com Alina segurando firme a blusa tentando asfixiar o oponente. Stan se aproximou e começou a dar golpes em Bill tentando enfraquecê-lo. Bill perdeu o controle do próprio corpo quando deixou de conseguir respirar, então ele finalmente sucumbiu a morte por asfixia. Agora os dois finalistas eram Stan e Alina.
O corpo de Bill estava em cima de Alina, Stan poderia facilmente matá-la naquela situação e ser o vencedor do jogo.
Ele olhou seriamente para Alina pensando no que fazer, acabou por retirar o corpo de Bill de cima de Alina e ajudá-la a se levantar. Alina pegou sua blusa que estava no pescoço de Bill e a vestiu novamente.
— Você poderia ter me matado. - disse Alina.
— Eu sei. Mas achei que não seria justo.
— Não é justo essas pessoas terem que morrer por causa de um jogo estúpido, mas não temos escolha é isso ou ficaremos aqui pra sempre. Alguém tem que sair. - argumentou Alina.
— Antes de um de nós morrermos poderíamos nos conhecer melhor. Já que não teremos essa oportunidade novamente. - disse Stan.
— Está tentando flertar comigo? - perguntou Alina sorrindo.
— Acho que sim.
— Não temos escolha, não sabemos como as coisas serão daqui pra frente.
Alina puxou Stan para perto de si e o beijou, não estavam fazendo aquilo por terem afeto um pelo o outro mas sim pela situação ter os deixado completamente apavorados e traumatizados, era mais como um beijo de despedida. Alina afastou a cabeça de Stan segurando por trás do pescoço dele, lentamente ela colocou uma de suas mãos na bochecha de Stan olhando serenamente nos olhos dele que estava sem reação, foi quando Alina percebeu que o tinha sob controle.
— Eu te disse que você era o mais frágil. - disse Alina.
Foram as palavras dela antes de se aproveitar da situação e rapidamente torcer o pescoço de Stan antes que ele respondesse, ele morreu. Estava acabado, Alina era a grande vencedora. Confetes caíram do teto sobre ela que tinha uma expressão assustada e receosa. Uma porta se abriu e ela caminhou até lá onde deu de frente com um corredor, no final do corredor havia um homem sentado de pernas cruzadas em uma cadeira em frente a um computador, ela conhecia aquele homen, era o Monitor.
— Qual é o prêmio? Onde é a saída? - perguntou Alina ainda assustada.
O Monitor se levantou e a encarou dos pés a cabeça.
— Não existe saída. - disse o Monitor friamente.
— O quê? Seu filho da puta, é melhor me tirar daqui logo!
— Você provavelmente me odeia agora. - disse o Monitor.
— Sim, eu te odeio muito! - disse Alina.
— Pois aqui está seu prêmio.
O Monitor pegou uma arma escondida na mesa do computador e entregou nas mãos de Alina.
— Pode me matar, eu mereço isso. - Ele disse.
— Eu não quero te matar, só quero sair daqui.
— Foi o que eu disse, não tem saída.
— Então, qual o sentido de tudo isso? Não existe ganhadores. - disse Alina.
— Você é a ganhadora. Seu prêmio é me matar.
— Eu não quero! - gritou Alina.
— Pois bem, eu tenho que morrer de qualquer forma.
O Monitor pegou a arma na mão de Alina e deu um tiro em sua própria cabeça morrendo de imediato. Alina não tinha para onde ir, foi até o computador ver se conseguia alguma informação de como sair dali. O corpo do Monitor havia sumido sem que ela percebesse, o mesmo mecanismo que sumia com os corpos entre as quatro paredes.
No computador, havia uma informação de que o programa existia há cinco anos e nunca havia sido exibido em canal de televisão algum e desde que tudo começou ninguém sabia quem estava por trás daquilo tudo, as pessoas que participavam do programa eram sequestrados e dadas como desaparecidas no mundo do lado de fora.
Depois disso uma nova tela apareceu para Alina, ela sentiu suas pernas presas ao chão, não conseguia se levantar da cadeira mesmo que tentasse com todas as forças. A tela no computador mostrava uma câmera no mesmo cubo em que estava confinada, haviam outras cinco pessoas diferentes no lugar, tudo iria se repetir agora, com uma única diferença: Alina era a Monitora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Harkness...E Outros Contos
Kort verhaalA cada capítulo uma história diferente é contada, entre diversos personagens, gêneros, localizações e segredos do simples romance ao profundo terror cósmico.