Capítulo 1

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❤🖌

JIMIN

"A arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível.” – Leonardo da Vinci

Quando terminei de ler a frase, achei engraçado como aquilo fez sentido para mim. A arte era como o meu refúgio, meu consolo, minha válvula de escape. Não importava de qual forma, eu demonstrava sentimentos que nem sabia que guardava dentro de mim, e tudo aquilo que eu precisava dizer para o mundo emanava a cada gesto.

Com a arte, eu era livre.

E essa sensação de liberdade é o que me faz ser tão apaixonado e atraído por ela.

Já são rotineiras as minhas visitas ao Centro de Artes de Seoul. E dessa vez, eu vagava pela galeria em uma exposição de Leonardo da Vinci, onde apareciam réplicas e projeções imersivas das obras.

Meus pais sempre adoraram trazer meu irmão e eu para conferirmos as novas exposições e, vez ou outra, assistirmos uma apresentação de teatro. Mas acho que Jinyoung, meu pestinha, digo, amado irmão caçula, não curtia muito o nosso "momento cultural" e enchia o saco até nossos pais decidirem ir para casa. Eu não o culpo... Totalmente.

Confesso que algumas atividades aqui no Centro podem ser bem monótonas, especialmente, para ele que parece que vive eternamente ligado na tomada de 220 V.

E é por isso que agora eu prefiro vir sozinho quando tenho tempo. Geralmente, dou uma passada aqui em algumas sextas depois do colégio. É pertinho de casa e eu consigo vir pedalando tranquilamente.

Nessas férias, eu estava aproveitando para ir visitar mais vezes e até ganhei de presente de aniversário do ano passado o meu superespecial cartão de visitante plus (o meu olho chega lacrimeja quando o menciono) que me dá acesso às áreas exclusivas do Centro durante os eventos de verão.

Acordei do meu transe depois de ler a citação de Da Vinci no texto curatorial e entrei no corredor da exposição. O Centro possuía um saguão principal redondo, onde as atividades mais importantes eram preparadas.

A arquitetura do espaço mesclava tanto elementos tradicionais coreanos com ornamentos e pilares em madeira ao redor, quanto designs modernos e janelas de vidro bem amplas, as quais permitiam que o sol inundasse todo o espaço. Dessa área central, partiam os corredores que levavam para as outras salas e galerias de arte.

Após adentrar a galeria de Leonardo da Vinci, comecei a fazer uma das minhas atividades favoritas: interpretar as obras. Do meu jeito.

Eu sei que, provavelmente, o artista tinha algum propósito ao pintar ou esculpir o seu trabalho, mas tentar descobrir sozinho e achar os meus próprios significados na sua arte é o que deixa toda a experiência mais interessante. Talvez até a própria vida seja isso - a nossa incansável busca de sentido, até nas situações mais inexplicáveis e incompreensíveis.

As formas suaves e belas dos quadros renascentistas atraiam os olhos de qualquer um que se deparasse com elas. Mas não foi a harmonia de "A última ceia", ou a proporção perfeita de "O homem vitruviano", ou a beleza de "Mona Lisa" que roubou toda a minha atenção naquela galeria.

Foi a existência curiosa e envolvente de um pequeno garoto sentado em um dos bancos de mármore do salão com seu pequeno caderno no colo, lápis na mão, e o rosto concentrado em seus desenhos.

O cenário da galeria com suas paredes brancas dava o contraste incrível com a sua pequena figura vestida completamente de preto, cabelos castanhos escuros, com algumas mechas que insistiam em cair em seus olhos enquanto rabiscava.

Amar-te • JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora