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Quando nos sentamos à mesa do jantar, convidei Sohui para que se juntasse a nós.

Nunca tivemos problema algum em tê-la comendo conosco, diferentemente de outras pessoas, Boseph, Jiaer e eu adoramos ter a companhia dela, mesmo que ela quase nunca abra a boca para falar algo. Como sempre, hesitante daniang concordou.

— Como foi o seu dia, Alicia? — Boseph pergunto depois que nos sentamos e já estávamos servidos.

— Foi um tanto exaustivo. Além de perder alguns pedidos de novos vestidos de casamento que acabaram sendo cancelados, não consegui lidar com toda a papelada de sua agência bancária e demais coisas envolvidas, pois somente você quem pode resolver isso. — ele assentiu.

— Essa geração de hoje não pensa ou acredita mais em construir uma família digna ou estudar. Seus focos muitas vezes são inteiramente voltados às bebidas alcoólicas, drogas, festas e ficantes sem compromisso. Para mim chega a ser repugnante. Está é a razão pela qual cada vez mais as jovens desistem da idéia de ter um vestido de casamento dos sonhos ou filhos. Mas não podemos deixar de lado a falta de respeito entre os casais, que levam a brigas desgastantes e divórcios. — Sohui disse e nós a encaramos surpresos. A mesma nunca falará tanto de uma só vez, isso era novo. — por isso que muitos se arrependem.

Ficamos em silêncio por um breve momento mas Boseph o quebrou.

— Alicia, você se arrepende de ter se casado comigo? — indagou sério e eu direcionei meu olhar para Jiaer que estava à minha frente, olhando para seu pai de soslaio enquanto comia.

— Porquê eu me arrependeria? — devolvo um tanto hesitante.

— Quiçá por que quando você apenas estava saíndo de sua adolescência, começando sua maioridade, casou-se com um homem de quarenta e seis anos. Vivendo longe da família por tanto tempo e sendo uma mulher afro-brasileira acredito que já tenha sofrido alguns casos de racismo e xenofobia por parte de fulanos, e, também por estar casada comigo eu sei que já chegou a levar o título de interesseira e demais coisas horríveis, porém já demos um fim nesse assunto que estava na boca do povo. Então significa que nesses últimos três anos, você querida, acabou sofrendo um bocado por conta dessa família, principalmente por mim. Isso já é motivo suficiente para se arrepender ou ter desistido.

— Nisso tudo você tem razão. Mas eu continuo aqui e o amo.

Boseph assentiu satisfeito, porém, eu realmente queria que essas últimas palavras portadoras de um enorme peso para mim, ainda fossem verdade.

— Chega desse assunto agora. — digo e finalmente começo a comer o Pato Xadrez que daniang preparou. A comida já ficando fria.

— Meu vôo de amanhã foi cancelado. Bem que eu disse. — Jiaer falou.

— E o que vai fazer agora?

— Ficarei por aqui mesmo. Desisti da idéia de viajar por agora, pai. E também acho que ainda não estou pronto para ir à Londres, por que meu inglês britânico não está tão fluente. Me sinto desconfortável.

— Você quem sabe, posso te dar dinheiro e comprar passagens novas.

— Não aceito seu dinheiro. Mas obrigado.

Notei que Boseph ficou incomodado com o tom de voz que Jiaer usou para dispensar seu dinheiro, isso não lhe agradava e se ele revidasse uma discussão poderia começar.

Muitas vezes Jiaer já se referiu ao dinheiro que seu pai herdou como se fosse algo muito sujo. Talvez fosse.

Para que nada mal comece, decido puxar outro assunto de interesse.

— Percebi que hoje você está mais alegre. Aconteceu algo de importante enquanto eu não estava por perto?

— Aconteceu. — meu marido respondeu animando-se. — tenho uma ótima notícia para dar.

— O que é?

— Adotarei um felino.

— Own, você vai adotar um gatinho? Legal, se for filhote eu posso escolher a raça? Sempre quis ter um Scotissh Fold. — para alguém que passou a infância inteira com medo e odiando gatos, eu estava muito animada.

— Não, mas digamos que um gato bem grande. Muito grande. É um tigre.

De súbito um silêncio se instalou, deixando todo o cômodo afundado em um certo silêncio estranho, senão fosse pela forte chuva lá fora que continuava sem cessar.

Boseph dizia com tamanha calmaria, diferente de Sohui ao meu lado que parecia que a qualquer momento teria um ataque. Não duvido que eu tivesse um também.

Jiaer não parece supreso, está calmo como o pai, e isso é muito estranho.

Por um breve momento parei para processar as informações, desde o começo e tudo estava ligado à nova obra que foi feita em nosso quintal.
Não pode ser, meu marido está louco.

— Boseph... Então quer dizer que toda àquela obra que foi feita no nosso quintal, a-aquele enorme recinto, é tudo para um tigre? Você está maluco? Têm idéia de quanto dinheiro foi gasto para isso e o quanto você irá gastar com esse animal selvagem? — sinto minha respiração pesar, eu estava ficando nervosa e sábia que meu marido não mudaria a sua escolha.

— Acalme-se meu amor — me tocou com uma mão livre e olhou para Sohui ainda assustada — você também Sohui. Não precisam se preocupar com nada, não por enquanto.

— O que voc... — ele me interrompe.

— Tudo já está resolvido, tenho isso em mente há meses e isso servirá para meus futuros planos e negócios.

— Jiaer, você sábia tudo e não falou nada? 'tá de acordo com seu pai?

— Você quem foi um pouco ingênua em não se dar conta que àquilo é um recinto para felinos e quando entra algo na cabeça dele é impossível tirar. Então acho melhor não interferir.

Eu o olho indignada mas não falo nada. Isso trará muitos problemas para nós, além de ser perigoso. Boseph não têm nenhuma experiência com isso, pois sequer sabe como criar um mero gato de estimação.

— Você sabe que para isso precisa da autorização não só do governo. Certo?

— Relaxa, eu já cuidei de tudo.

— Você não têm a permissão do governo mas mesmo assim está fazendo essa burrada, não é?

—  É isso mesmo. — ele sorri e eu sussurro um "você é maluco". — e, amanhã pela tarde se o clima melhorar irei leva-la para conhecer esse animal encantador, antes de trazê-lo pra cá.

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Mais um capítulo para vocês no mesmo dia, espero que gostem.
Deixem a estrelinha e um comentário, até!
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FELINE - KTH (김태형)Onde histórias criam vida. Descubra agora