Capítulo Seis

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"Você está com um sulco horizontal profundo aqui." Disse o médico, avaliando o pescoço de Way minuciosamente. "Foi uma esganadura e tanto..." Murmurou, erguendo o queixo do paciente com cuidado. "Os estigmas estão claros..."

"O que é um estigma?" Frank perguntou, se desencostando da parede para se aproximar da maca, onde Gerard se mantinha sentado.

"As cinco chagas de Jesus Cristo?!" A senhora McCracken exclamou, com uma mão no peito, e outra no braço do marido.

Todos franziram o cenho para a mulher, inclusive o senhor McCracken.

"Não, minha senhora..." O médico respondeu, parecendo conter uma risada, a fim de manter seu profissionalismo. "Digo no sentido de ferimentos causados por unhas..." Explicou, voltando-se para o paciente.

"E qual é o diagnóstico?" O senhor McCracken o questionou, seriamente.

"O diagnóstico? Bem, é evidente que houve uma tentativa de estrangulamento por mãos humanas, as marcas das mãos, que ainda estão presentes e os ferimentos, causados pelas unhas, além do sulco horizontal..." Ele disse, por fim, dando de ombros e retirando os óculos. "Ele também está com uns arroxeados na pálpebra direita... já está melhorando, mas para olhos atentos ainda é possível ver nitidamente." Acrescentou, lançando breves olhares para os presentes. "Nesses casos, eu sempre sugiro esse remédio: 911. Isto aqui me parece bastante grave."

Todos imediatamente trocaram olhares preocupados.

"Não vai ser preciso." Claro que a mãe dele havia de se intrometer, para proteger sua cria. "Não foi nada demais. Esses jovens de hoje em dia são selvagens, sabe como é, com essas manias de experimentar coisas novas e estúpidas na cama, acabam se ferindo." Ela riu, olhando fixamente para Gerard. "Não é, meu querido?"

Way engoliu em seco, fazendo uma careta de dor.

"É, sim, foi uma ideia idiota..." Ele concordou, com a voz rouca.

Frank teve que se conter bastante, para não dizer que Way havia, na verdade, sofrido de uma tentativa de homicídio, o que certamente levaria o médico a chamar um guarda policial, que sem sombra de dúvidas iniciaria um verdadeiro caos ali.

"Tem certeza?" O médico quis saber, com a prancheta que continha o laudo de Gerard em mãos. O artista assentiu, apertando os olhos fortemente. "Hum, okay então. Está liberado, tome aqui. E ah, vai ficar rouco por alguns dias, mas logo passa." Gerard murmurou em sinal de entendimento, tomando o papel em seus dedos, e descendo da maca, com Iero em seu encalço. "Tem que ter mais cuidado, meu jovem, essas práticas requerem sabedoria e controle, se tivesse apertado um ponto errado, teria matado ele." O médico alertou, dirigindo-se para Frank, em sua equivocada compreensão dos fatos apresentados.

"Eu-" O tatuado tentou se explicar, trocando um olhar envergonhado com Gerard, mas sendo rapidamente cortado pela voz fina da mulher.

"Sim, meu filho vai se policiar a partir de agora, isso não vai se repetir, agradeço por tudo."

Eles foram embora do hospital, e assim que alcançaram o estacionamento, tiveram que assistir a senhora McCracken entrar em uma crise nervosa por conta de uma chave supostamente perdida, que no fim das contas estava em seu bolso. Era claro que ela não estava bem, ainda aturdida pelos acontecimentos daquela tarde. Ela havia começado a tremer, e a chorar, subitamente, e o marido, complacente, a acudiu em seus braços.

"Eu não entendo..." Ela soluçou, parecendo não se importar com a presença alheia. "O que o nosso filho ia fazer hoje?!" Gritou, se agarrando á blusa do marido. "Não consigo acreditar que ele faria alguma coisa assim, ele não iria até o final, iria? Ele é só uma personalidade muito forte... não sabe lidar com as emoções intensas..."

In Between Days † Frerard Onde histórias criam vida. Descubra agora