Uma viagem eminente

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A semana seguiu avançando tranquila e pela primeira vez no ano Elisa conseguiu comprar belos cortes de carne, para a alegria de Soph. Na manhã de terça o cocheiro da família Hotmes apareceu no ateliê.

Quando Sra Geórgia chegou no ateliê o clima mudou dentro da pequena saleta. Até mesmo o ar mudou de direção. A mulher robusta estava corada,. Não se tratava de vergonha nem de  pudor, era algo mais substancial. Raiva!

- Sra Martinez, como pode deixar

Assim que avistou Martinez no balcão começou seu discurso elaborado.

Se aproximado do balcão na entrada apoiou os braços.

- a sua costureira foi ao meu baile. A senhora tem que tomar alguma providencia. Menina abusada. Foi sem um convite.

Martinez puxou o ar com força repetindo o gesto e apoiando os braços do outro lado do balcão. Não era lá muito educado, Geórgia notou, mas se manteve. A entrada estava decorada com os novos tecidos, especialmente os vindo de Paris. Os tons da estação eram tons de laranja bem,  bem claro. Um pouco mais amarelados que os de pêssego que Geórgia  usava. 

- Sra Geórgia  , não pode mesmo estar aqui por isso. Sabe que Elisa nunca tentaria te ofender.

- mas ofendeu. E não vou tolerar isso. Nem eu nem minhas filhas e todos que tiverem discernimento para ouvir.

Soph e Elisa no espaço privado na sala se encolheram. Elisa esticou as mãos e fechou a cortina de divisória.

- a Sra Martinez consegue resolver isso.

Falou Elisa, meio que sorrindo meio que assustada.

- espero não perdermos a cliente. As duas filhas dela tem mais de cinco vestidos encomendados. Fora o enxoval da Srta Ann Davenport.

Elisa se encolheu , não queria causar tudo aquele problema para Martínez.

Depois de alguns minutos, longos minutos, Martinez apareceu na saleta.

- eu não deveria me incomodar tanto com isso.

Falou Martinez esfregando as mãos para logo em seguida olhar para Elisa.

- o que houve Sra Martinez?

Perguntou Soph já que Elisa  estava ali sofrendo por antecedência.

- como posso falar isso

Não era uma pergunta. Mas parecia um muxuxo. Pela primeira vez, pelo menos para Soph, a Sra Martinez parecia sôfrega.

Elisa sabia o que viria a seguir.
- a Sra Geórgia Davenport pediu a minha cabeça em uma bandeja de prata ou de ouro ? -

Elisa queria que soasse como uma brincadeira. Mas ela também estava entristecida.

Soph sorriu. Ao menos uma delas estava no clima .

-sim. E Ela não estava sozinha.

- o que vai acontecer?

Elisa já sabia. Mas precisava ouvir. Ela teria que sair da cidade. Trabalhar em alguma casa como camareira. Ela sempre conseguiu, não desistiria agora.

- Eu sinto muito Elisa. Sabe o quanto te amo. Mas ela não deixará  barato. Se sente ofendida.

Soph caiu sentada no pequeno sofá.

- isso não pode ser verdade -
Bufou,  mas a voz saiu baixa e fraca.

- eu poderia trabalhar somente com as costuras. Ensino Soph a tirar as medidas e a atender. -

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