um quase baile

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Isso não iria acontecer mesmo.
Colin correu até o quarto de sua irmã assim se se deu conta de como isso era louco.

Ele abriu a porta bruscamente
- Isabel, pare de dizer besteiras

Ele a ouvirá gritar sobre casamento assim que as duas entraram no quarto. Se os empregados ouvisse seria um enorme escândalo na Vila em poucos dias.

- mas irmão
Elisa se pegou outra vez entre uma conversa que ela não estava incluída

- não, não e não. Não vou me casar apenas porque você quer. Isso é  ridículo. Não vou me casar com ela-

Colin se arrependeu do que disse assim que terminou a frase. Elisa estava encolhida  ao lado da cômoda

- Colin- era uma repreensão. Mas era mais que isso.

- eu não, não foi uma forma -

- tudo bem, eu  em entendo -

Elisa balançou a mão na frente do rosto. Ela não  esperava um pedido de casamento, nem nada do tipo. Mas aquele olhar , aquela rejeição. Era pessoal. Ela era uma empregada. E isso a deixava aos seus pés  para servi -lo. E Elisa sabia que ele pensava assim, Como muitos senhores ricos.

Colin sentiu cada respiração. Pela primeira vez na vida estava com raiva de Isabel. Ela tinha feito tudo isso. Todo aquele escândalo.

- saia Colin, nos temos que nos arrumar. Elisa está certa, temos muito o que fazer. -
A voz de Isabel era baixa e realmente triste.

Colin não era o único que se sentia idiota ali.
- temos que conversar -
Colin falou olhando para a irmã

Ambos saíram juntos do quarto. Deixando Elisa acuada e de orgulho ferido
Isabel mal encostou a porta do quarto e já começou a falar

- qual é  o seu problema ? Meu irmão, voce foi pego aos beijos. Ela é  uma moca boa -

- ela não é  para mim. Isabel pare de armar. Eu não vou me casar só para de deixar feliz -

- eu não vou te deixar sozinho. Ela é  perfeita, doce e inteligente. Eu sei que ela não tem dote. Mas você lá liga pra isso -

- se eu me casar com ela você Será  rechaçada dentre as mocas da sociedade. Alem do obvio, eu nao quero me casar, muito menos com ela.-

- eu não ligo. Nem gosto dessa sociedade -
E Isabel riu.

Do outro lado da porta a conversa se espalmava na cara de Elisa como um tapa.

- eu não vou casar

- eu já entendi isso Colin.
Isabel riu alto

- já entendi que você não é  como eu pensava.

Colin recuou dois passos isso foi difícil.

- você não sabe o que está falando

- você olhou bem para aquela moça? Como ela olhava para você. Ela não recuou nem um segundo. Ela se importa com você, e você acabou de rasgar o coração dela.

Elisa se encolheu. Meu Deus Como aquilo doeu. Isabel não estava de todo certa mas no fundo a piedade dela machucou tanto quanto a parte verdadeira da história.

- ela não sente. Você não sabe do que está falando

- Colin, eu sei mais que você.
Isabel voltou a andar e abriu a porta do quarto. Elisa fingiu estar analisando o vestido vermelho.

- vamos almoçar no quarto. Se não se importar

-  acho agradavel

- me desculpe, minha amiga. Me perdoe pelo meu irmão

- não foi nada. Isabel, aquilo não- como explicar que não tinha se ofendido com algo que tinha se ofendido – não foi nada

- vou continuar conversando com ele

- não faça isso. Vamos pensar em outras coisas. Como o seu vestido. Ainda não mediu depois da costura.

- falando em vestidos . Qual você irá usar querida ?

- este
Elisa pegou o vestido que Martinez fez.
- eu conheço ele

- sim. Gosto muito dele

- bom, acho que
Isabel correu os olhos pelo quarto . Até parar de frente para o baú com os vestidos antigos

- espera um minuto
Isabel enfiou a mão  no fundo do baú que eclodiu de cores e brilho.
Isabel retirou sua mão arrastando com ela um vestido azul fechado quase preto, um tecido fosco.

- aqui. Por favor prove. Pode precisar de ajustes mas é  um vestido de baile.

- ah não, Isabel. Já tenho o que vestir. Quem precisa provar um vestido é  você. O seu vermelho

-Primeiro quero ver como esse ficará em você.

Elisa olhou o vestido com toda a tenção. Era muito belo, liso sem rendas e estava duas estações atrasado. Mas era caro. O tecido. O formato. Tudo .

- não posso usar esse vestido. É  muito caro

- não aceito não como resposta. Ande Elisa. Pelo amor de Deus. Ponha o vestido.

Isabel sabia como conseguir o que queria. Elisa foi empurrada para o reservado. Elisa retirou o vestido é começou a abrir os botões do azul. Passou ele pela cabeça e começou a abotoar. A saia ficou franzida já que não tinha uma criolina para encher. Afinal, costureiras não usam criolinas. Atrapalham na movimentação e chamam muita atenção.
Elisa se arrastou de volta para o quarto.

- oh ficou lindo – Isabel continuou a olhar- mas falta alguma coisa

- criolina

- isso, Porq não colocou ?

- não tenho uma

Isabel arregalou os olhos
- eu tenho algumas aqui.

Isabel correu para o closet e saiu de lá com uma enorme roda com várias rodas dentro.

- Vamos lá, levante o vestido
Elisa riu, mas Isabel avançou sobre ela .

- calma, eu posso fazer isso

- me deixe ajudar.

- mas eu é  que estou aqui para ajudá-la

- mas agora vai me ajudar ficando quieta.

Elisa parou de lutar e aceitou a ajuda. Com a criolina o vestido ganhou o volume necessário.

- a minha querida. Está perfeito. O decote está um pouco largo mas está lindo.

- já que coloquei o vestido, poderia fazer o mesmo.

Isabel riu, mas cedeu. Pegou o vestido e se encaminhou para a mesma cabine onde Elisa saiu.
O vestido estava perfeito. Acentuava cada curva em seu corpo e a deixou tão bela quanto um quadro. A saia armada e lisa, com o corpete sisudo e cheio de detalhes. O decote amplo, indo de ombro a ombro destacando as clavículas. Elisa estendeu um embrulho para Isabel

- sobrou um pouco de tecido e achei ficaria bonito

Isabel abriu o embrulho com delicadeza e sorriu ao ver um belo par de luvas bordadas com as inicias I. H.

- são tão lindas
Isabel falou comovida, vestido as luvas que combinavam com o vestido. Deixando uma fachinha de pele entre a manga do vestido um pouco antes dos cotovelos.
- uma lady, linda linda. Será a mais bela do baile. Pobre debutante.

- não seja exagerada Elisa.

- olhe no espelho. É ainda nem arrumamos o cabelo ou colocamos as joias.
- você fez um trabalho brilhante. Isabel , nunca me senti tão bela.

- muito obrigada querida. Mas a beleza é  só sua.

Isabel e Elisa passaram longas horas escolhendo os enfeites de cabelo e joias que combinassem. Até mesmo sapatos. A tarde já estava caindo quando as duas resolveram ouvir suas barrigas roncando e pedir o almoço. Nada muito rebuscado, um sanduíche. O dia, tirando alguns percalços, havia sido muito divertido.

As horas já estavam avançadas quando as moças largaram os livros e voltaram a se preocupar com o baile. Isabel pediu por um banho. E  Elisa foi levada ao quarto de hóspede para se lavar também. Após trocarem as roupas Elisa retornou ao quarto da amiga para ajudá-la com os cabelos.

- agora sim, vamos ver como ficam com tranças. O que acha ?

Falou Elisa moldando os cachos virando para isabel ver no espelho da mesinha da penteadeira.

- acho tão adulto. Não sei se ficarei bem assim

- podemos colocar aquelas flores. As de  prender

- sim sim. Isso me agrada mais.

Elisa com as mãos ágeis de costureira transou e torceu alguns fios. Prendeu todos em um coque baixo. E  encaixou as flores de ouro delicadas e pequenas como uma tiara no topo da cabeça de Isabel.

- pronto
Falou Elisa orgulhosa.
Isabel se olhou sorrindo sem parar

- agora vamos passar um pouco de ruge, para os lábios e as bochechas.

- não, nem pensar
Isabel se afastou da mão de Elisa com o potinho

- Isabel , vamos lá. Não vou exagerar.

- não combina comigo
Protestou Isabel ainda desviando de cada avanço de Elisa

- prometo. Ficará linda! E ainda será você!
Elisa olhou para a amiga

- e  se não te agradar tiramos.

Isabel demorou um pouco mas permitiu

O ruge era forte mas como Elisa disse, ficou suave e belo. Aplicado com perfeição.

- já fui camareira, então não me olhe assim

Elisa não precisava levantar os olhos do pincel para saber que a amiga a olhava.

- entendo.
Elisa terminou e ficou admirando Isabel

- você está primorosa.
Isabel levantou alisou o vestido e arrumou as luvas. Caminhou até perto do espelho de corpo.

- ah Elisa, como isso. Estou tão bela. Me sinto como Ofélia.

Elisa riu alto

- Ofélia não chega aos seus pés. Não se compare a um personagem fictício.
Isabel voltou q se olhar.

- agora o que faremos com você?

- eu estou pronta

- e seus cabelos ?

-estão perfeitos

Isabel olhou de rabo de olho para a amiga. E  Elisa se encolheu. Tudo bem. Não estavam tão arrumandos assim.

- vamos lá Elisa. Eu te ajudo. Não me olhe assim. Não sou tão desastrada assim

Elisa sedeu. Mas recusou todos os outros mimos. Nada de joias emprestadas. Nada de enfeites de cabelo. Nada de ruge.

-Você é  uma negociante tenaz

- você também não fica para trás.

As moças saíram de braços dados.

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