As mãos de dona Salette se apertaram ao meu redor. Pude sentir seu medo.
– Você não pode fazer isso...
Sua voz era como sussurro, como um pensamento alto. Ela não conseguia acreditar no que estava acontecendo, e eu não conseguia entender.
– Senhor Albert?
- Oh, sim... sou eu. Me desculpem o incomodo - dizia enquanto se cumprimentavam - . Não pensei que isso pudesse acontecer comigo... Enfim, só queria fazer uma denuncia de...
Ele falava tentando prender um choro falso.
Os guardas se olhavam com um misto de compreensão e impaciência.
- É ela? - Um deles perguntou enquanto apontava na minha direção.
– Sim sim…. Só a menina.
Eles desceram os poucos degraus que faltava.
– Por favor, tenham paciência com minha mulher, ela está muito abalada, não consegue pensar direito.
Meu irmão via tudo um pouco assombrado. Minha mãe gritava enquanto eles me levavam, meu pai ficou segurando-a. O que aconteceria a ela? O que aconteceria a mim. A denúncia que meu pai fez era muito grave.
Eu estava sendo acusada de blasfêmia, de traição. De ir contra o que meu povoado acreditava. E mais do que isso, de ir contra o que Adrian e seu braço direito Jásper, acreditavam. Adrian era o governante dos Perushins, e Jásper era seu cão guia cego. Ambos nojentos e insuportáveis, nunca consegui confiar na aparência de justiceiros. Provavelmente os encontraria antes da sentença. Meu coração gelou. A realidade era outra. Dessa vez estava sofrendo de fato por Goel, nada comparado àquelas renúncias bobas que achei ser o fim do mundo. Saí de casa acorrentada. Depois da queda na escada, das discussões e das mãos presas, passar por louca não era muito difícil. As pessoas me olhavam como se tivesse cometido um grande crime. De fato, para elas era um grande crime. Para grande parte delas. Vi os olhos de Symon no meio da pequena multidão que estava se formando. Seu olhar era preocupado e transmitia muita dor. Eu nunca tinha visto ninguém sendo acusado de traição. Sempre ouvia os gritos, mas nunca saía de casa para ver. Independente dos erros sempre achei muita humilhação. E quem diria, agora eu ouço os gritos. E todos eles destinados a mim. Minha maior tristeza era saber que estavam todos cegos, todos errados. No caminho até o grande salão vi uma nuvem negra sobre aquelas pessoas. Provavelmente resultado da visão embaçada pela poeira. Antes de ser levada para falar com Adrian fui colocada numa cela. Tudo escureceu.
Passaram-se uma hora e meia até que ouvi passos firmes e a luz invadindo aquele breu. Ainda acorrentada fui levada a sala de Adrian, atravessamos o salão principal e subimos algumas escadas. As portas foram abertas e eu fui levada até mais próximo da mesa central. O homem sentado não era desconhecido, mas também não era o esperado. Jásper. Ele estava elegante, como sempre. Com uma espada na cintura, os cabelos negros um pouco bagunçados. Mas estava la. Sua postura era mais relaxada do que a do Adrian.
- Pensei que encontraria o Adrian.
Ele fez um gesto com a mão, o que levou os guardas a esperarem do lado de fora.
- Pode sentar. - falou com educação - Preferia que o Adrian estivesse aqui? Cuidado com seus desejos, podem ser realizados.
Sentei sem muita vontade.
- O que voces querem?
- Queremos negociar, Alyah. Queremos entrar em um acordo. Voce quer sair daqui, e eu quero ter um pouco mais de reconhecimento pelo que faço. Sendo assim querida Alyah... - ele despejou um pouco de chá quente numa xícara - Quer chá? - balancei a cabeça negativamente. - Sendo assim, voce diz onde está o livro, nos entrega para queimarmos, e faz uma declaração pública do seu arrependimento.
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Sobrenatural
AventuraNão subestime o seu desejo de transformar o mundo. Pode ser que o seu mundo dependa disso para mudar. Um livro pode mudar o destino de uma pessoa? O de Alyah sim. Uma garota que vive num mundo perfeito demais. Atraves de suas indagaçoes ela chega a...