5.I tell you that I go without wanting you around

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Certa vez, um renomado cientista proferiu uma palestra sobre astronomia. Ele descreveu o modo como a Terra orbita o Sol, e como o Sol orbita o centro de uma vasta constelação de estrelas que chamamos de nossa galáxia. Porém, no fim da palestra, uma senhorinha sentada lá no fundo se levantou e disse: — "O que o senhor acaba de falar é bobagem. Na verdade, o mundo é um prato achatado, apoiado no dorso de uma tartaruga gigante." O cientista abriu um sorriso de superioridade antes de perguntar: — "No que a tartaruga está apoiada" " O senhor é muito esperto, rapaz, muito esperto. " respondeu a mulher "Mas tem tartarugas até embaixo!".

Claramente hoje em dia a maioria de nós achariamos uma idiotice o mundo ser um prato em cima de animais. E do nosso lado estaria Aristóteles, afirmando com dois bons argumentos que a terra é redonda.

E se Lisa estivesse naquela palestra e tivesse ouvido aquela velhinha sem noção dizer que Bertrand Russel — seu herói incondicional — estava errado, ela nao pensaria duas vezes em tacar a seu precioso All star vermelho na cabeça daquela mulher. E provavelmente gritaria: — A senhora é louca? Se a terra fosse plana então se chegássemos no fim do mundo cairiamos no espaço cideral e flutuariamos até morrer ou ate sermos sugados por um buraco negro! — Mas obviamente Lalisa murcharia quando todos a olhassem.

Na verdade, toda vez que ela pensa nessa história que muitos de seus professores de física do ensino médio lhe dissera, ela relaciona com sua mente.

O que ocorria nesse exato momento.

Era como se Bertrand fosse a parte ousada de sua mente, e a velhinha fosse a conservadora e tímida, que luta contra algo novo, que luta contra conhecer gente nova.

E era o que ela estava fazendo exatamente agora.

— Você vai gostar, o cafe de lá é o melhor. — maneou a cabeça também, passando sua mão pela sua calça, tirando o suor de suas mãos.

Ainda chovia, e como nenhuma das duas tinha carro, elas estavam sentadas no ponto de ônibus fazio, esperando o automóvel para leva-las até a CafeteriaPops.

— Eu sei. — falou tímida, tendo o olhar da loira sobre si. — Sempre vou lá. —

Chaeyoung sorriu, achava que a garota não conhecia a cafeteria. Mas se lembrou que o lugar era muito conhecido e frequentado, ja que o café era o melhor da região, e de ser um pouco contraditório, já que serviam o cafe da manhã a partir das 18h — o que ela achava incrível.

— Eu também vou. — Ou Ia. — Depois da faculdade, as 18:15 sempre estou lá. — esticou a mão para fora da proteção do ponto de ônibus, ainda sentindo respingos da chuva.

Lalisa petrificou. Esse tempo todo, elas provavelmente se desencontravam na cafeteria por minutos. Lisa estava sempre pontualmente na cafeteria assim que ela abre, e sai exatamente de lá as 18:13. Chaeyoung entrava no local assim que a tailandêsa saia.

Lisa teve vontade de morrer ali mesmo.

— Eu gosto do chá de gengibre com mel que eles fazem. — murmurou, lambendo os lábios só de lembrar do gostinho ardente do chá. — Já tentei fazer para mim e fiquei sem voz por uma semana. — elas se olharam, Chaeyoung com o cenho franzido. — Coloquei gengibre demais.

Chaeyoung gargalhou, e Lisa percebeu que ela é do tipo de não conseguir controlar o proprio corpo quando ri, batendo os braços no encosto do banco. Acabou rindo junto, do quão adoravel isso era.

— Pelo visto é ruim na cozinha. — tombou a cabeça para trás, em uma risada divertida.

Lalisa arregalou os olhos, a expressão de indignação.

— Ei, pode parar! — bateu os pés no asfalto molhado, franzido o nariz. — Eu estou em processo de aprendizagem, ok? Um dia eu chego lá.  —

Chaeyoung só riu mais, a achou engraçada, conseguindo imaginar ela bebendo o chá, mas parando logo que sentira a ardência exagerada do líquido. E era engraçado.

Digamos que ela seje um pouco má em relação a dor dos outros.

— Tudo bem, me desculpe. — levantou os braços, em rendição. — Acho que nosso ônibus está vindo.

Se levantou do banco, esticando o braço para que o motorista parasse para elas entrasse. Lisa tambem se levantou, e as duas correram contra a chuva até estarem dentro do ônibus.

Lalisa insistiu em pagar a própria passagem, mas quando viu Chaeyoung já tinha pagado para as duas, se sentindo envergonhada por ser lerda de mais.

Naturalmente Lalisa é educada, e se ela não tivesse tanta vergonha de Chaeyoung ela até lhe ofereceria o outro lado de seu fone, mas ela provavelmente fraquejaria ao tentar falar.

Ela deu play em sua playlist e Winter de Tori Ramos começou a tocar alto, enquanto ela observava as gotas grossas da chuva escorrerem pelo vidro do ônibus, ela tentava evitar olhar para a garota loira ao seu lado, que parecia nem perceber a diferença.

Lalisa simplesmente amava essa música. Ela lhe lembrava de sua infância na Tailândia, na época de inverno quando ela saia para brincar  na neve, e seu pai sempre brigava com ela por esquecer as luvas.

Era bons tempos.

— "I tell you that I go without wanting you around..." — a voz ao seu lado ja conhecida sussurrou.

Lalisa imediatamente se virou para olha-la. Chaeyoung estava de olhos fechados, com a cabeça descansando no escosto do bando, ela batia as pontas dos dedos em suas coxas, como se estivesse tocando um piano, e Lisa ficou maravilhada ao ver que os movimentos de seus dedos coincidiam com a trilha sonora do piano da música.

— Ei. — a chamou, Chaeyoung abrindo um de seus olhos. — Você a conhece? — apontou para o celular.

Chaeyoung riu, assentindo com a cabeça.

— Ela me chamou atenção pelo fato de ter um álbum com o nome de orgasmos. —

Lisa arregalou os olhos, sentindo suas bochechas borbulhar de vergonha. Em primeiro lugar ela nao sabia que Tori Ramos tinha um album com esse nome, e em segundo lugar não achou que Chaeyoung fosse uma pervertida.

Achava que era.

— É s-sério?

Ela a olhou, sorrindo.

— Acho que sim, nunca ouvi esse álbum. — falou serena, Lalisa suspirando fundo, tranquila por não estar saindo com uma pervertida. — Prefiro as músicas sentimentais dela, as melhores sao as de 91 e 92. —

O silêncio se fez por uns segundos.

— Quer ouvir? — estendeu seu fone de lado direito para ela.

Chaeyoung lhe deu um sorriso bonitinho, assentindo com a cabeça, pegando o fone e colocando em seu ouvido.

Se iniciou La vien en rose de Edith Piaf  bem baixinho.

E Chaeyoung sorriu. Percebeu que Lisa tinha um ótimo gosto musical, único e inebriado. Talvez fora ali que se iniciou seu desejo mais profundo de conhece-la.

Graças aquela música.

— Quando eu ouço — iniciou, pensou em nao dizer, achou íntimo demais para se compartilhar com uma  estranha. Mas era uma estranha que ouvia Edith Piaf. — só consigo imaginar um casal dançando na chuva.

Elas se olharam.

E estava chovendo.

...

Até algum dia apreciadores da leitura deprimente :)

Blue flowers | ChaelisaOnde histórias criam vida. Descubra agora