My Boyfriend

9° Capítulo

Sinto a água quente se chocar contra minha pele e solto um suspiro alto. Meus pensamentos me levaram diretamente a uma pessoa, Spencer Bennett e logo em seguida ao que aconteceu mais cedo. Será que ele poderia estar envolvido de alguma forma? Balanço minha cabeça em reprovação e saio do banho, vestindo uma roupa confortável, o tempo estava consideravelmente maravilhoso.

Me sento na cama, ando pelo quarto, pego um livro, mas nada me distrai. Eu preciso de respostas, porém não sei onde as conseguir. Desço as escadas e vou até o lugar onde costumo fazer meus treinos.

O lugar caberia tranquilamente quatro carros de porte médio com as portas abertas. A sala não era gigantesca, mas também não podia se dizer que era pequena.

Os aparelhos de academia ficavam de um lado, enquanto as coisas pro meu treino ficavam do outro. Manter a forma na academia era importante, mas eu estava precisando mesmo era socar alguma coisa pra me distrair.

Eu já estava pronta pra começar o treino. Com as roupas apropriadas e o cabelo preso, faltava apenas colocar as luvas antes de começar a treinar.

Depois de um breve alongamento eu me posiciono em frente ao saco de pancada e fico o observando um pouco. O segredo era visualizar alguém ao invés daquele saco de pancadas enorme. A pessoa que eu mais facilmente visualizava, ironicamente, era o Spencer.

Eu comecei a socar o saco de pancadas, desviando de golpes invisíveis que apenas eu conseguia ver, já que visualizava tudo na minha cabeça, desde socos a chutes giratórios.

Depois de um tempo resolvi fazer uma pausa e trocar de exercício.

Uns 5 minutinhos e alguns goles de água depois, eu estava pronta pra treinar os meus reflexos. O que estava na minha frente era uma pequena esfera presa por um fio que atravessava ela de cima a baixo. O fio era elástico, mas a bola ficava fixa no meio desta corda elástica. Ao dar um soco na esfera, ela logo voltaria na minha direção, e eu deveria dar outro soco, ou desviar dela, era um ótimo treino.

Eu visualizava agora uma série de socos de alguém aleatório. Toda vez que a esfera vinha na minha direção eu imaginava o punho fechado dele e eu desviava ou socava de volta, fazendo ela voltar pra trás com velocidade, e a fazendo voltar mais rápida ainda em retorno.

A adrenalina corria em minhas veias, o coração acelerado e a mente em mil pensamentos.

- Anda treinando muito ultimamente, mocinha- Me assusto com Suzy.

-Não vi que estava ai, só estou tentando manter a forma. - Bebo um pouco de água que ela me entrega e me encosto na parede encarando a mesma.- Fiz algumas artes marciais quando criança, digamos que eu goste bastante disso.- Dou de ombros e sorrio ofegante.

- Você precisa descansar, sair um pouco pra se distrair, quando não está em casa, está no trabalho e as vezes com o Bruce, isso quando não fica enfurnada nesse lugar.- Aponta para academia.

Ela está fazendo seu papel de mãe direitinho, reviro os olhos mesmo sabendo que é verdade. Respiro fundo e passo por ela indo até o jardim, o tempo está bastante fresco e a noite está próxima.

-Tens razão! - Digo isso e ela sorri encostada na porta de onde eu estava outrora.- Vou sair pra correr um pouco.- Sorrio e ela abre a boca pra protestar.

- Não era bem isso que eu quis dizer, mas tudo é melhor do que você ficar aqui.- Ela da de ombros e caminha até a entrada da cozinha.- Só tenha cuidado!- Ela grita quando se afasta.

- Pode deixar, Suzy- Grito de volta e vou para a entrada da casa.

Se alguém se deparasse com a Rose de antigamente, veria o quanto mudei, principalmente em relação aos exercícios. Assim que cheguei em Londres, meus pensamentos insistiam em permanecer em Nova York, precisei me reinventar, voltei a praticar algumas artes marciais novamente e peguei gosto pela coisa. Pouco depois comecei o Karatê e hoje tenho meu proprio lugarzinho de treino.

Começo a corrida marcando o tempo no relógio, sinto a brisa gélida debater contra meu rosto, como isso é bom! Algumas pessoas também estão correndo, mas não são muitas. Sinto uma sensação estranha e paro de correr, olho em volta e vejo um corredor estranho, está usando luvas, óculos escuros, gorros e uma roupa preta. Como uma pessoa se veste assim pra correr? Ou ele está com muito frio, ou está tentando se misturar (coisa que não está dando certo). A adrenalina da possível situação de perigo deixa o meu corpo quente, respiro fundo e volto a correr. O corredor misterioso continua logo atrás de mim.

"O que acha de correr um pouco mais rápido? Vamos ver se isso é só uma coincidência", sugere meu subconsciente.

Eu não via necessidade, olhei em volta e percebi que o trafégo de pessoas havia diminuido bastante. Um calafrio invade meu corpo e o meu coração acelera. Não é possível ser seguida duas vezes por dia, isso não faz sentido. A pessoa tá de sacanagem, só pode. Sigo o conselho de Lorival e começo a correr mais rápido, agora não era uma boa hora de entrar em uma rua deserta, mas eu não tinha outra escolha visto que minhas opções eram voltar pra trás ou seguir adiante . Adentrei a rua antes que ele pudesse se aproximar mais e me escondi. Assim que ele apareceu tampei minha boca e apenas o observei, ele parecia me procurar e olhava atentamente para tudo.

Infelizmente o destino queria me ferrar, esbarrei sem querer em uma lata de lixo fazendo barulho e chamando a atenção do corredor misterioso.

Já está escuro, as poucas estrelas iluminavam o céu e algumas luzes iluminavam as ruas, eu estava correndo desesperada, não queria olhar para trás, mas a mulher curiosa que habita em mim  não resistiu.

Olhei para trás e ele ainda estava correndo atrás de mim, quase fui atropelada por um motoqueiro maluco que parou em minha frente.

- Sobe na moto, Rose.- Ele disse me entregado o capacete, eu me afastei sabendo que estaria ferrada. De um lado o corredor misterioso, do outro um motoqueiro que eu não sabia quem era. E se eles estivessem juntos?

Ele ergueu a cabeça para me encarar e levantou o visor do capacete, onde reconheci de imediato seus olhos.

- Spencer...- Foi apenas o que consegui dizer.

- Sobe logo, Rose- Ele diz rude.

Eu não tinha outra escolha a não ser subir, então assim o fiz.

Montei em sua garupa e segurei com firmeza sua cintura. Ele não demorou nem mais um segundo para acelerar e tirar a gente dali. Olhei para trás e vi o rapaz com uma das mãos na cintura e outra no celular, eu só queria saber o que estava acontecendo.

Entramos na estrada ao lado oposto de onde minha casa ficava, levanto o visor e grito pra que Spencer me escute.

-Que merda é essa? Me leva pra casa agora, Spencer!!- Ele não me responde, o que me deixa ainda mais irritada.

Vejo que ele encara o retrovisor várias vezes e só depois fala:
- Vou te deixar em um lugar seguro primeiro.- Ele acelera.

Alguns minutos se passaram até chegarmos em uma espécie de estacionamento, desci prestes a protestar, mas ele é mais rapido tirando o capacete da minha mão e colocando na moto.

-Paul vai vir busca-la, vamos de carro agora.- Ele segura minha mão me conduzindo até um carro preto que estava estacionado próximo de onde estávamos.

- O que está acontecendo aqui, Spencer? Quem era aquele homem? Como você sabia onde eu estava?- Coloco as mãos na raiz do cabelo e puxo exasperadamente, tentando conter o nervosismo que invadia todo o meu corpo.- Esse cara é o mesmo que me seguiu hoje na volta do trabalho? Fala alguma coisa, Spencer!!- Ele me olha como se não soubesse do que eu estava falando.

-Eu não faço a mínima ideia, estava voltado pra casa quando te vi, fiquei preocupado porque você parecia assustada...- Ele coloca as mãos nos meus ombros me fazendo encara-lo.- E pelo jeito não estava errado.- Ele suspira e entra no carro. Faço o mesmo.

- Se não é você, quem é e o que quer comigo?- Sussurro e encosto a cabeça na janela, observando o trajeto desconhecido que o condutor do veículo tomava. A tensão que Spencer se encontrava era visível, ele teria que me explicar essa história direitinho.