CAPÍTULO DOIS

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 Victor estava desaparecido há dois dias. As horas de desespero, medo e confusão que seguiram o mistério na pequena piscina haviam marcado cada uma das pessoas do grupo presente, deixando-os num estado de terror cuja falta de respostas os aterrorizava a cada passo que davam.

A falta de um corpo para dar Victor como morto fez o grupo decidir que iriam simplesmente se fingir de desentendidos. Não que estivessem entendendo alguma coisa, mas quando a mãe de Victor ligou para Lorena às 11 da noite daquele dia, ela a disse apenas o que haviam combinado - que não o havia visto o dia inteiro. Agora, mensagens eram compartilhadas em todas as redes sociais sobre o desaparecimento de Victor Lima, alto, moreno, visto pela última vez saindo de casa dois dias atrás.

O grupo e a cidade tinham em comum não saber o paradeiro do corpo de Victor, mas os jovens que haviam presenciado seu corpo sendo puxado para o fundo da água sabiam - no mínimo, sentiam - que se o corpo voltasse, não seria com vida.

Deitada em sua cama e segurando seu celular em seu ouvido, Lara lia em voz alta a mensagem que havia recebido da sua mãe.

"... 'se alguém encontrar ele, por favor entre em contato com...' e aí o número da mãe dele." ela disse, para o menino a escutando do outro lado.

"Eu não sei o que fazer com esse segredo, Lara." João disse, o medo transbordando em sua fala. O grupo mal havia se falado nos dias que haviam passado, como se temessem que falar um com o outro tornaria o acontecido real, em vez de uma memória distorcida em suas cabeças.

"A gente devia só... tentar esquecer. Ficar pensando nisso e tentando entender não vai fazer com que faça mais sentido."

"Eu não consigo só esquecer. Victor morreu, Lara."

"A gente não sabe se ele morreu." João ficou em silêncio. "Não vale a pena ficar repetindo essa memória na mente." apesar de sua opinião firme, Lara havia acordado no meio da noite em ambas as noites que haviam passado, suando e sonhando com o calor da piscina envolvendo seu corpo inteiro e a puxando cada vez mais para baixo.

"Eu não sei se eu vou conseguir ficar em paz se eu nunca descobrir o que realmente aconteceu."

Lara suspirou. "E você nunca vai ficar em paz se continuar pensando nisso."

João resolveu não responder - discutir não levaria a conclusão nenhuma. Em vez disso, ele apenas disse:

"Eu sinto sua falta."

'Vem pra cá', Lara queria dizer. 'Eu quero te ver.', mas ela não iria conseguir olhá-lo nos olhos sem lembrar da água da piscina se mexendo quando Victor mergulhou, e então perfeitamente plana e intocada quando seu corpo foi imerso.

"Eu também sinto a sua."

.

Os braços de Pedro Gois se abriram, procurando o menino pela água. Ele passava seus pés no fundo da piscina, tentando encontrar qualquer coisa que não fosse a água. Lá em baixo, os dedos de seus pés tocaram em algo duro. Ele mergulhou rapidamente, em busca do que quer que tenha tocado. Abrir os olhos embaixo daquela água era inútil - estava escura demais, e tudo o que via era cinza. Suas mãos tateavam cegamente no piso, e então ele segurou firme no que tocou e subiu de volta. A cabeça de Victor se encontrava em suas mãos, e subitamente o corpo inteiro do menino jazia boiando ao seu lado. Seus olhos vazios, seu rosto pálido e frio, contrastando com o calor da piscina. Em seus calcanhares, feridas vermelhas subiam em sua perna, arranhões e hematomas chegando até o seu pé. Gois olhou nos olhos mortos do outro menino. 'Onde você está," ele pensou, e encarou o rosto sem vida de Victor flutuando na água.

As írises do menino, que encarava o teto, subitamente encaravam Pedro, e sua boca entreaberta se abriu de vez.

"Bem aqui." A voz de Victor, clara como o dia, saiu da voz de seu cadáver. Pedro tentou correr, tentou nadar para o outro lado, para fora da piscina, mas seus pés eram puxados para baixo, para baixo, para o fundo, para o escuro,

A Aventura de Verão e o Monstro da ÁguaOnde histórias criam vida. Descubra agora