CAPÍTULO TRÊS

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 Quando João atendeu o telefone e ouviu a voz da mãe de Lara o perguntar se ele estava com a menina, pois ela havia sumido, João se preocupou. Ele repassou tudo que havia falado com Lara naquele dia, se ela havia dito que ia a algum lugar, se iria sair com alguém. Mas quando Carolina Brito disse que ela havia enchido a banheira da casa de sua avó e então desaparecido, João sabia exatamente o que tinha acontecido. A informação o derrubou como um copo caindo de uma mesa, cacos de vidro quebrando por todos os lados. Não havia outra explicação - Lara havia sumido assim como Victor, morrido assim como Elias. João tentou fazer com que sua voz não tremesse, não falhasse, e disse a Carolina o que haviam dito aos pais de Victor - que não sabia, que não havia visto a menina o dia inteiro. João deixou que ela fosse considerada desaparecida, deixou que conspirassem sobre por que dois jovens do mesmo grupo de amigos sumiram na mesma semana. Deixou que o mistério pairasse sobre o estado de Lara, e então avisou seus amigos que ela havia sido a nova vítima do monstro da água.

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"Eu já perdi um amigo. Eu já perdi... Eu já perdi Lara." João respirou fundo, sentindo o peso de suas palavras. "Eu nao quero perder mais ninguém."

Mila suspirou, o luto e o medo crescendo em seu corpo. "A gente não vai. Perder mais alguém, a gente não vai."

O menino sentava no sofá de Clara, de um lado Mila e do outro Lorena. Clara saiu da cozinha carregando copos de água e entregou ao grupo em sua casa. Os quatro haviam se reunido lá para discutir suas teorias e descobertas, depois que João ligou para Mila dizendo que queria entender o que estava acontecendo e impedir o que poderia acontecer. Ele queria fazer parte daquilo, queria vingar a morte de Lara.

Era só nisso que pensava.

Lara, que alegrava seus dias, que segurava sua mão e o ouvia. Lara, que ele amava. Lara, que não estava mais aqui, e nunca mais estaria.

João pensou na última vez que havia a beijado, que havia a abraçado, que havia dito que a amava - pensou em todas as últimas vezes que não sabia que seriam as últimas. Ele não perderia mais ninguém.

Ela não queria que ele se envolvesse, que ele tentasse desvendar qualquer coisa, que ele tentasse salvar o mundo. Ela queria que ele se mantivesse a salvo. Mas era tarde demais, e João já estava imerso demais.

"Ele pode aparecer em... qualquer água?" João perguntou, ao grupo, cogitando a ideia, visto que o tal monstro havia atacado na praia, na piscina, na banheira.

"Eu vi um filme uma vez," Mila disse. "bem trash, sobre o fantasma de um tubarão que podia aparecer em qualquer lugar que tivesse água, e numa cena um cara bebe um copo de água e o tubarão aparece lá, e entra dentro dele junto com a água que ele bebe, e explode o homem por dentro dele."

"... E você acha que é assim que essa criatura funciona?" Clara perguntou, franzindo a sobrancelha.

"Era um filme bem ruim. Isso é a vida real. Não, Clara, foi só um comentário." Mila revirou os olhos, sabendo que esperariam dela qualquer teoria ridícula. "Eu acho que... Eu acho que se um corpo estiver, ou pelo menos puder estar completamente imerso num corpo de água, a criatura está lá. O mar, uma piscina, uma banheira. Não uma poça ou um copo de água ou uma pia ou um chuveiro."

"Faz sentido, eu acho."

"Eu só não sei por que... o corpo dela e de Victor não apareceram. No mar, como o de Elias Gomes e o de Pedro Freitas, assim como o do irmão daquele velho não apareceu." Lorena comentou. Ninguém tinha respostas. "Eu odeio criar uma esperança provavelmente falsa mas... Talvez eles não tenham aparecido porque estão em algum lugar. Vivos." Lorena disse, olhando para baixo.

A Aventura de Verão e o Monstro da ÁguaOnde histórias criam vida. Descubra agora