Música

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Meu fone uma vez ficou preso entre o acento e o encosto de uma poltrona de ônibus enquanto eu dormia e eu o puxei com força. Um dos lados do ouvido se arrebentou para sempre.

Geralmente, eu ouvia musica ou talvez discussões no youtube no caminho de casa até o ponto de ônibus e vice versa, as vezes entre os intervalos. Eu tinha uma certa segurança, caso eu quisesse sentir a melodia e letra se fundirem na minha mente, teletransportando-me para algum lugar metafísico temporário.

Eu não tenho certeza do que a música faz com o cérebro, mas acho interessante. Uma vez eu vi um documentário curtinho, sem prestar muita atenção, que explicava por que outros animais não tem tanto apreço pela música e, afinal, por que a humanidade criou a música? Passarinhos não cantam só porque é bonito de ouvir, seus sons são gritos de atenção, espantamento, acasalamento, etc. Nossas sociedades tribais tinham músicas, batuques, ritmos, melodias... Deveriam ser rituais, relacionados a alguma divindade, não deviam? Bem, qualquer atividade padrão de uma cultura pode ser considerada um "ritual" e figuras celestiais eram - infelizmente, ainda são - a explicação para qualquer fenômeno. Talvez nossos ancestrais concluíssem que devesse haver alguma divindade responsável pelo efeito que simples melodias e timbres - também não entendo muito de ondas auditivas, caso não tenha notado - podem fazer em nossos corpos. Independente do que você curta, seja eletrônica, grunge, country, sertanejo universitário, rap, metal, sertanejo antigo (Evidências é a única coisa que segura o Brasil unido e ninguém vai me convencer do contrário), funk... A não ser que você tenha algum problema auditivo, eu me recuso a acreditar se você me disser que nenhuma música, na sua vida, jamais te fez querer mover-se de certa forma. Não precisa ser dança, não precisa gostar de sair, mas alguns ritmos parecem nos guiar de certa forma instintiva... Ou é impressão minha?

Em algum momento, algo me diz, mais devido ao meu conhecimento cinematográfico que pelo meu conhecimento histórico, que em algum momento, há milênios a fala rítmica já tinha se unido a melodia criada. Claro que há musicas poéticas e musicas que é bom nem parar pra lembrar que você sabe o significado...

Enfim, tudo isso foi só uma breve listagem de pensamentos apreciativos sobre a arte cênica que é a música, por uns instantes, agora, continuemos com a depressão regular das 2:38 da madrugada:

Eu sou do tipo de pessoa que consegue estudar com música, por isso peguei emprestado o par de fones que prometi não usar, exceto em casos de tele consulta, por isso cliquei em qualquer playlist que o youtube tivesse a me oferecer, provavelmente cheia de músicas que eu costumava ouvir antes de simplesmente me acostumar com o silêncio e passar um breve momento sem nada grudado nos meus pensamentos - menos por, estranhamente, a abertura do Clube das Winx por um tempo. E, eu estava certa, parcialmente. Porque além de músicas que eu conheço e, inclusive, tinha salvas no meu celular, haviam semelhantes, mesmo estilo ou banda ou artista, esse tipo de coisa que os algoritmos das redes sociais fazem para nos manter numa única trilha de pensamento. 

O fato é que começaram algumas músicas cujas letras eu não conhecia, mesmo o ritmo sendo parecido, e, tudo bem, não seria a primeira vez que eu mergulho em alguma coisa relativamente complicada, mas que eu sei fazer o suficiente para me deixar excluir parte da realidade sonora.

E, pode ser por eu ser uma adolescente solitária e depressiva, e, citando um filme que eu vi por aí e recomendo, mesmo sendo mais uma comédia, que qualquer outra coisa "mas e não é sempre desse jeito? Os livros que lemos em aula sempre parece ter alguma conexão forte com qualquer que seja a angústia dramática adolescente que nos rodeia"- ah, que coisa. Fiquei googlando a citação e era tão simples que eu não precisava. Foda-se.

E, bem, não lemos livros nas minhas aulas de literatura. Primeiro porque simplesmente não tem tanto tempo de sobra e, também, porque... Porque não precisamos. Acredito fielmente nisso e se quiser discordar me chama, porque, por mais que eu não possa negar que a literatura e a arte possuem seu papel relevante na história, em tanto influência sobre as pessoas quando como manifestações culturais de cada época, não vejo por que submeter milhares de alunos do ensino médio a livros de linguagens não só arcaicas, mas simplesmente chatas. Até porque, eu duvido que mesmo lendo todos os livros atentamente, conseguiríamos entender o que foi ter vivido em cada época. Eu faria meus alunos a avaliarem memes de agora em 30 anos, mas essas professoras não estavam vivas na época da maioria dessas publicações. E, de qualquer forma, eu tirei 10 uma vez em uma redação analítica sobre Revolução dos Bichos depois de assistir 3 vídeos na noite anterior a prova, então o que é preciso provar-se, afinal?

É, começo sobre música e me perco sobre falhas no sistema educacional.

De qualquer forma, eu ouvi uma música nova e me identifiquei. Já são 3 da manhã. Talvez fosse auto privação de sono, descostume musical ou simplesmente sensibilidade generalizada, mas eu simplesmente ouvi e pensei "ah, eu vou chorar com isso mais tarde".


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