Capítulo II

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Dragões Colum


O antro da caverna era tenuosamente escurecido e atrevidamente silencioso e derradeiramente pavoroso para os quatro tolos. O túnel dentro da colina (literalmente adentro da colina), se esticava para o interior escuro da gruta há muito desconhecida. Seus olhos passeavam pela parede húmida, marcada e arranhada por grandes garras afiadas; e eles estavam mais imóveis do que cadáveres sepultados. O chiado que ecoava da caverna produzia medo e insegurança. Taytos levantou uma tocha apagada e conjurou est ignis com um estalo de dedos na polpa da madeira: o fogo se acendeu e o escuro foi se recolhendo para o fundo aonde a luz das chamas não alcançavam.

— Vamos ! — disse Taytos agora aliviado.

Eyva apertou os ombros e suspirou a fumaça quente de sua boca gelada, Boros chacoalhou a barba e vestiu seu gorro de couro-negro e pele de esquilo, Greend puxou o mapa e garantiu que seus passos estivessem no mesmo ritmo que Taytos; seria uma catástrofe se algum deles se afastasse da luz, se perdesse e perambulasse solitariamente por outros túneis. Eyva e Greend continuavam a tagarelar sobre monstros com caninos grandes e criaturas prenhas que ouviram falar da boca rechonchuda dos irmãos barrigudos da família Braventura, uma numerosa família de gordos que herdou a fazenda das planícies da fortaleza Wesklin há cinquenta gerações; são histórias envelhecidas que andaram borboletando a cabeça de crianças arteiras e bagunceiras. Greend disse que os irmãos Braventura deviam ter sido bastante levados para conhecerem de cabo à rabo as fábulas antigas, e disse também que eles eram muitas vezes castigados por realizar feitiçaria com livros roubados da biblioteca do castelo, e que ouvia o grito e as pauladas do chicote do Sr. Seu pai da janela de seu quarto quando ainda era pequeno e recém escolhido por mestre Flap para ser seu protegido. Boros sublinhou o castigo que ambos teriam se não fechassem a boca. Seu rosto nada simpático silenciou as vozes trêmulas dos arqueiros e encerrou os contos sem-pé-nem-cabeça de Greend.

A entranha da caverna ficou calada, quieta, silenciosa, e agora podia-se ouvir tudo que antes não podia: o gotejo do teto pingateiro, o ruído psicótico do breu e os passos pequeninos dos ratos formiga, o ronco das rochas, a rosnada do fogo e o resmungo das minhocas escavadeiras. Podia-se ouvir tudo. Os tolos estavam pávidos e mergulhados em um silêncio tão profundo quanto o imerso abismo de um oceano. Greend abriu o mapa que contia a rota do Poço Das Montanhas e apontou suas dúvidas sobre as passagens da caverna e aonde aquele túnel os levaria, montanha acima ou montanha abaixo ? A incerteza de Taytos emagrecia a coragem dos arqueiros há muito insatisfeitos; e eram nesses momentos em que qualquer frase mal-colocada poderia perfeitamente construir aos montes a ruína dos mais frouxos.

— Nós estamos aqui. — afirmou Greend interpondo suas unhas encardidas na folha velha e rachada do mapa antes embrulhado.

— Xiiiiu ! — chiou Eyva.

— Xiiiuuuuu ! — chiou Boros.

— Fiquem quietos. — sussurrou Taytos.

Envergonhado, Greend diminuiu os passos, se colocou nas costas do grupo e seguiu a fila. Acanhado e tímido, ele cutucou no ombro recolhido de Eyva e perguntou bem baixinho no seu ouvido como se contasse um segredo:

— Estamos numa caverna, possivelmente muito a longe dos ogros ou qualquer outra Coisa. Por que, ora bolas, esta precaução ?

Eyva catou-lhe o mapa com um sorriso maldoso e disse:

— Esta caverna pode ser muito bem a toca de alguma Coisa, Greend. Tu já ouviste uma única vez sequer as histórias antigas da Guerra Dos Cem Anos ? Não ? Pois escute bem, caro amigo assustado: Goudraf nem sempre foi o que é nos dias de hoje, era um lugar feliz e colorido, mas depois da guerra, puxa vida, puxa vida… puxa vida !

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