3. Por conta própria

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"Querida Ellie Chu, talvez eu esteja apaixonada por você, mas isso me assusta completamente."

Arrancou a folha e a amassou, atirando-a no painel que estava apagado.

"Querida Ellie, como vai?"

Novamente aquela folha fora amassada, sendo descartada em algum lugar do carro.

"Ellie, eu não consigo fazer isso, me perdoe."

Jogou o pequeno bloco de folhas que também usava para desenhar no banco do passageiro junto com o lápis, enxergou naquele momento a bagunça em que o automóvel se encontrava. Tendo no banco traseiro alguns de seus portifólios, fazendo-a lembrar-se que precisava voltar a dar atenção a eles e na faculdade da qual fora aceita, não era muito, ficava próxima a Squahamish, porém o curso a cativou completamente.

Encostando sua testa no volante e fechando os olhos, ela tentou orientar-se, coisa que ela fazia a um certo tempo, porém como de costume a ação não traria resultados positivos, fazendo-a suspirar tristemente.

Não era errado, ela tinha plena consciência do fato, mas por que ainda não conseguia se desprender totalmente disso? Aster nunca esteve num conflito interno tão esmagador como aquele. Quando finalmente conseguiu pôr um fim em seu relacionamento com Trig alguns dias após a partida de Ellie, ela achou que tudo poderia fluir naturalmente, todo o processo de autoaceitação, porém estava enganada.

Romper com Trig havia sido sem sombras de dúvidas libertador, o ego dele pareceu ser a única coisa abalada, porém foi compreensivo, por mais vaidoso e um pouco imbecil que ele fosse, ainda era um bom rapaz. A outra parcela do problema foi lidar com sua família, especificamente com seu pai; a discussão que se seguiu foi imensa, precisando da ajuda de sua mãe para apaziguar o homem, que mesmo contrariado por considerar Trig um excelente partido, entendeu a filha, logo aquele assunto foi esquecido.

A questão (após ser analisa tantas vezes naquele espaço de meses) era que ela sabia que havia sido Ellie, porém foi mais fácil ignorar, afinal, ela era hétero, não é?

Assim que começou a ligar os pontos, tudo caiu em sua cabeça como um balde de água fria. O livro que a garota chinesa estava carregando quando a ajudou recolher seus pertences, quando perguntou o motivo de "Paul" estar acordado até tão tarde e dias depois ir com Chu até a estação e ela contar-lhe sobre seus horários; e ainda existiam os emojis, que eram tão óbvios que mesmo ali,ela revirou os olhos, sentindo-se burra.

Levantando de sua atual posição para ligar o carro e partir, ela viu um homem deixando a residência que tanto observou, logo o identificou, Sr. Chu, pai de Ellie.

Aster não sabia exatamente o motivo de sempre ir para aquela parte da cidade, especificamente a rua em que a chinesa morava. Estacionava por ali e passava seu tempo, o dividindo entre pintar, ter crises existenciais ou simplesmente apenas ficar sentada observando. Na maioria das vezes Paul aparecia, conversavam por algum tempo e logo ele voltava para dentro de casa com chamados de seus familiares, Aster sempre ria com eles, enquanto o garoto rapidamente atendia às ordens.

Enquanto via o pai de Ellie se afastar, cogitou em ir atrás dele, mas não saberia o que dizer ou até mesmo como agir, lembrou-se também de Munsky dizer que o homem não falava muito bem o idioma inglês.

Como um lampejo, a garota sorriu com a ideia que acabara de ter. Procurando apressadamente por seu celular, ela o encontrou debaixo de muitas bolas de papel amassado, o desbloqueou rapidamente e abriu o aplicativo de tradução, o sorriso não abandonava seus lábios, aquela ideia realmente poderia funcionar.

Digitou rapidamente uma forma de cumprimento em chinês, logo o aplicativo trabalhou para traduzir, mostrando na tela símbolos que a fizeram duvidar se aquilo realmente daria certo.

Clicou para que uma conversação fosse iniciada, fazendo a característica voz feminina pronunciar as palavras.

- Zhū xiānshēng, nín hǎo! Nǐ hǎo ma.

Tentou pronunciar uma, duas, três, quatro vezes até suspirar longamente, estava obstinada, aquilo se tornara uma missão a ser cumprida.


Gente, oi.
Eu estou impressionadamente gay que vocês aceitaram tão bem a história, de verdade. Não sabia que teria tudo isso com muita gente me pedindo pra atualizar e eu tipo ?????????
Obrigada a cada um que está lendo, favoritando e comentando, isso motiva demais. Eu só tenho que conciliar tudo com a faculdade, de resto tá beleza. Farei o possível para estar sempre atualizando ok? Bjos
(Aliás meu twitter é @ purelovetaylor, podem me cobrar sim, só tenham paciência)

The Another Half - The Half of it (Você Nem Imagina)Onde histórias criam vida. Descubra agora