The Another Half - The Half of it (Você Nem Imagina)

9. A incerteza pela qual meu sangue corre

"Um amor, uma carreira, uma revolução: outras tantas coisas que se começam sem saber como acabarão."      Jean-Paul Sartre

Desviando a atenção do livro, Ellie o guardou em sua bolsa de viagem e mirou uma paisagem quase borrada do outro lado do vidro, soltando um longo suspiro. Poucos quilômetros a distanciavam de Squahamish.

Buscando por uma posição mais confortável naquele banco, ela cruzou as pernas, mas logo as desfez, estava ansiosa demais, nervosa o suficiente para sentir aquela sensação inconveniente em seu estômago. Arrumou os óculos em seu rosto e viu seu reflexo pelo vidro do vagão do trem.

Ela estava voltando antes do previsto, mas não para ficar. Ela estava voltando para Aster, mas não para permanecer ao lado dela. Os eventos que aconteceram após o beijo trocado com Josephine haviam deixado tudo muito esquisito por um tempo, mas ela estava bem agora.

Paul estava ciente de seu retorno e insistiu para que houvesse uma recepção calorosa. Os dois discutiram bastante a respeito e quem venceu o debate foi o garoto.

Existia uma novidade a cerca de Paul que ainda a deixava surpresa a cada menção, na verdade sempre que ela se lembrava que agora seu melhor amigo estava namorando, era um novo momento para absorver a notícia.

A garota parecia ser incrível e segundo seu amigo, ela sempre fazia a "expressão" que determinava quando queria ser beijada. Estava feliz por ele.

"Ela me intimida, Ellie! Valorie Sullivan é fascinante. É só me olhar com aquela cara séria e aqueles olhos negros lindos pra cacete que automaticamente coloco meu rabo entre as pernas e fico pianinho perto dela. Estou amando muito."

Outro ponto importante se baseava em como Paul estava desapontado com ela em relação a Aster. Ele sabia que estava voltando para vê-la, mas não entendia que isso não significava que seria um reencontro recheado de romance e saudade, Ellie também não sabia o que esperar, estava mantendo seus pés em terra firme.

"Espere um pouco. Vocês duas conversaram, flertaram e se marcaram em memes e você está apática? Eu esperava uma reação digna, um "isssssooo!" estar contente, querendo falar sobre o quão bom isso é, mandar prints das conversas! Você sabe, pensei que você esboçaria alguma reação gay, um fogo no rabo talvez"

Paul Munsky era uma figurinha única.

A respeito de Josephine Ellie podia dizer que foi interessante enquanto durou. As coisas não haviam saído da forma como ela havia imaginado. Nadinha mesmo. Enquanto puxava sua garrafa de água de dentro da mochila, não conseguiu levar seus pensamentos pra longe de Jo. Chu sorriu, bebendo mais um gole. Detestou a forma como adorou aquele lance de fazer coisas em segredos, abominou o tanto que adorou a forma como Jo era discreta. Amou o fato dela não ter nem cogitado em contar para outras pessoas o que havia existido entre elas. Era legal ninguém precisar ter conhecimento do ocorrido, além delas mesmas. Não havia sido errado afinal de contas.

Estava orgulhosa de si, demorou algum tempo, mas finalmente entendeu que mudanças eram tão necessárias quanto inconscientes. A Ellie Chu adolescente estaria chocada com sua versão adulta, não fazia tanto tempo assim desde que terminara o colégio, mas quem estava contando?

A faculdade estava indo bem, ser estudiosa nunca foi algo negativo, muito pelo contrário. Poderia finamente falar que agora possuía uma vida social ligeiramente agitada e por último, mas não menos importante havia seu pai. Sr. Chu finalmente estava desenvolvendo o idioma inglês e já podiam conversar por telefone, ela estava orgulhosa, porém não tanto quanto ele mesmo, sua alegria e orgulho eram muito claros durante as chamadas.

Pensava ela que sair de casa havia o encorajado, ele precisava se virar sem ela, correto? Achava também que Paul o estava ensinando, mas nunca se atentou ao quão "alegrinho" seu amigo ficava quando tocava no assunto, sempre acabava deixando pra lá, assim como aconteceu com Aster. Um longo e exaustivo caminho foi percorrido até aquele momento em que estava quase chegando para enfim vê-la e quebrar todo o gelo. O primeiro fato era que tudo havia ficado distante durante as últimas semanas e elas já não estavam mais trocando tantas mensagens quanto gostaria e infelizmente precisou criar redes sociais populares para que pudesse saber o que Aster Flores estava fazendo. Antes que me esqueça, o segundo fato é que Ellie estava indo sem avisar ninguém além de seu amigo; o terceiro e último também não era muito bom, já que tomou essa decisão emocionada justamente por não ter descoberto nada em suas buscas pela latina na internet (nada além de dicas sobre como cuidar de ásteres, as flores)

Assim que saltou para fora do trem, seus pés tocaram a estação e seus pulmões se encheram do ar de Squahamish, não houve tempo para raciocinar, um brutamontes a levantou do chão e a girou no ar. Nada ela fez, apenas ficou imóvel, era Paul.

- Ellie! Ah venha aqui e me abrace sua inconsequente! - O rapaz ainda não havia a soltado, muito menos a colocado no chão.

- Olá, Munsky. Bom te rever. – Certo, ela estava muito feliz por ele estar ali, por ter ido recebe-la. Ele finalmente a soltou.

- Tudo bem, certo. – De repente ela notou que os ombros dele ficaram tensos e o sorriso que antes era espontâneo, agora parecia nervoso. – Tentei ligar anteontem. E ontem... E hoje.

- Meu celular está com algum defeito, precisei levar numa assistência pra que pudessem reparar. O que aconteceu? – Com certeza ele não estava nada contente.

- Parando para analisar suas ações recentes, é possível perceber sua total falta de noção e vergonha na cara, Ellie Chu.

Ela só conseguiu olhar para ele com as sobrancelhas franzidas e era quase perceptível uma ruga se formando na testa da garota, ela não estava entendendo.

- O que eu fiz?

- O que você fez, senhorita Chu? Você preferiu caçar a Aster pela internet ao invés de simplesmente mandar uma mensagem. Eu estou muito feliz em te ver, mas como você está aqui para ver uma pessoa em específico, seria muito interessante que a pessoa em questão estivesse na cidade, não acha?

Demorou cerca de meio minuto para que Ellie realmente entendesse, mas precisou ouvir em voz alta para poder começar a se sentir miserável com propriedade.

- O que?

- Aster não está na cidade, foi viajar. Na verdade, existe a possibilidade de Aster Flores nem voltar.