4. O ato ou efeito de sentir

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Enquanto lia todas aquelas frases e tentava memorizar a sequência correta a ser pronunciada em chinês, Aster esperava sentada no capô de seu carro o momento em que Sr. Chu deixaria a residência a caminho da estação. Passara os últimos dias completamente focada no idioma oriental enquanto tentava dar pausas para cumprir suas outras tarefas. Aquilo a fez parar por um momento para refletir.

Estava mesmo abdicando tanto tempo que deveria ser empenhado na faculdade, em seu trabalho no restaurante e até mesmo num tempo para ela mesma apenas por uma garota?

"Não é só uma garota, é A Garota", dizia para si mesma.

Aquilo parecia por as coisas nos lugares certos, pelo menos por enquanto, então logo ela voltava as suas anotações e aos aplicativos de idioma em que havia instalado em seu smartphone.

O contato com Ellie haviam voltado a normalidade, portanto aquilo a fazia suspirar aliviada. O alívio era reconfortante ao se lembrar das mensagens, cada citação e também cada tentativa de explicar os emojis para a chinesa, que de forma humorada tentava compreender. Sua pulsação acelerou, seu sorriso vacilou e sua postura antes ativa murchou igual a uma flor a tantos dias sem ser regada. Ela sentia saudades de Ellie.

De forma impensada ou tão pouco considerada, ela discou o número da garota asiática, esperando nervosamente a cada vez em que a chamada acontecia.

Quando pareceu dar-se conta do que fazia, pensou em desligar, porém naquele momento ela ouviu a saudação e a voz que a faziam sorrir de forma boba.

- Ellie Chu.

Suspirou longamente, sentindo que seu coração poderia errar o ritmo de suas batidas. Precisava dizer algo antes que a outra encerrasse a ligação.

- Ellie.

Houve um breve silêncio, deixando a latina apreensiva.

- Ellie, sou eu...

- Aster.

Elas disseram no mesmo momento, causando em seu estômago o tão familiarizado frio.

- É um mal momento? Está ocupada? Eu não deveria ter simplesmente ligado...

- Aster.

- Sim?

- Olá.

- Oi, olá. Como vai?

Soltando todo o ar que parecia ter ficado preso em seus pulmões, a latina recuperou a confiança, se ajeitando ainda sentada sob o carro.

- Estou muito melhor agora.

Aster ficou surpresa com a resposta, porém Ellie logo tratou de acrescentar:

- Quer dizer, estou bem. Você ligou num bom momento, estou no dormitório, minhas aulas já acabaram. Como você está?

- Bem, estou bem. Nenhuma novidade.

Outro silêncio se formou até Aster limpar a garganta de forma a quebrá-lo.

- Falta pouco para o Natal, você tem planos?

A verdade era que ela sabia que Ellie não retornaria para Squahamish, pelo menos não até se formar em Grinnell.

- Provavelmente não, mas de qualquer forma Paul me prometeu Tacos de Salsicha, então meus planos se resumem em ir até o correio para pegá-los. E você?

- Retiro com a igreja.

- Oh sim, entendo.

Como era possível sentir que havia regredido dez casas num espaço tão curto de tempo? Ela deveria no mínimo falar algo que fizesse Ellie saber de seus sentimentos.

The Another Half - The Half of it (Você Nem Imagina)Onde histórias criam vida. Descubra agora